Em 2020, todos foram surpreendidos com a pandemia da Covid-19 e obrigados a encarar uma nova realidade: a quarentena. Nesse cenário, a comunidade acadêmica teve de se adaptar para seguir com as atividades na segurança de casa, por meio do ensino remoto. Após dois anos de isolamento social, os estudantes retornam à universidade e a mobilidade voltou a ser uma preocupação. As principais reclamações dos acadêmicos são a limitação de horários ofertados e a superlotação.
O Secretário de Mobilidade Urbana, José Orion Ponsi da Silveira, explica que em razão de uma queda de aproximadamente 85% no número de passageiros transportados no início da pandemia, algumas medidas foram adotadas a fim de reduzir os custos com a estrutura do transporte e de manter uma tarifa equilibrada para os usuários. “Foi feita uma redução de 100 veículos, de 50% dos salários dos diretores das empresas transportadoras e de 50% dos cobradores, o que resultou numa economia estimada em 15 milhões de reais”, disse o Secretário.
A baixa demanda também acarretou na supressão de horários e de seis linhas, que passaram a ser atendidas pelas demais, além da união de cinco setores. Mais tarde, um novo corte no número de cobradores manteve apenas 25% dos funcionários, e o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) – taxa presente na passagem que é recolhida pelas empresas responsáveis e entregue à prefeitura – foi convertido.
O dilema entre a economia e o corte de servidores
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Condutores de Veículos Rodoviários de Santa Maria e Região (Sitracover), Rogério dos Santos Costa, conta que antes da pandemia havia cerca de 1000 trabalhadores no setor, porém atualmente existe apenas metade desse número. De acordo com ele, o principal fator dessa queda foi o fim parcial do ofício do cobrador por meio de um decreto não informado pela prefeitura à Sitracover, e ressalta que não foram apenas 500 cobradores demitidos, mas quinhentas famílias que, de repente, se viram desempregadas. “Foi o fim de um posto de trabalho, esses cobradores podem fazer um curso e se tornarem motoristas, mas então quinhentos motoristas serão demitidos. É uma perspectiva triste, mas infelizmente é inevitável, cada vez mais cidades estão cortando essa função”, afirmou.
Os motoristas, segundo Rogério, se sentem insatisfeitos porque seus serviços dobraram, e não estão recebendo a mais por isso. Além de receber os pagamentos, o condutor precisa ficar atento à catraca, que está distante, e isso torna ainda mais lento o embarque dos passageiros. As negociações salariais estão em andamento e já foi sinalizada a questão desses trabalhadores ganharem um aumento por exercer a função de cobrador. No entanto, não há previsão para o ajuste, apenas foi oferecida uma comissão de 3%, a princípio. Mas, de acordo com o presidente, essa porcentagem pode ser cortada a qualquer momento: “Nós não queremos comissão, nós queremos incorporação ao salário” disse.
Em respostas às queixas do sindicato o secretário afirma que, em um primeiro momento, não aconteceu uma conversa inicial com a Sitracover sobre o corte dos cobradores, devido a necessidade de fazer isso o mais rápido possível. Entretanto, no segundo corte de 25%, realizou-se a discussão para atualizá-los dos fatores que motivaram essa redução. Ele revelou que, em virtude da queda no volume de usuários, o custo mensal para manter os ônibus em funcionamento ultrapassou um milhão de reais por mês e o impacto financeiro no município chegou a dois milhões. Conforme Orion Ponsi, para economizar precisavam ser feitos cortes urgentes sob o risco de um colapso do sistema. Caso naquele momento não houvesse o corte dos cobradores, todo o grupo de funcionários e passageiros sairia prejudicado.
Licitação e a problemática na UFSM
Diante desse contexto, o acadêmico do 6º semestre de Engenharia Acústica, Wellington Bertagnolli Veiga, diz estar insatisfeito com o transporte coletivo, sobretudo no que se refere à organização dos horários, a superlotação e o prolongado tempo de viagem devido a união das linhas. O aluno conta que, para se deslocar até o campus utiliza a linha Tancredo Neves Via Santa Marta e, muitas vezes, tem de chegar na universidade uma hora antes do planejado, por causa dos grandes espaços entre os horários ofertados e da incompatibilidade com o início do período das aulas.
De acordo com o secretário, tanto o retorno de veículos que haviam sido suspensos durante a pandemia, quanto a divisão dos setores unidos está acontecendo gradativamente, conforme as necessidades dos usuários. Contudo, em relação ao atendimento dos alunos da UFSM, revela ter dificuldades para adequar a distribuição de horários e a quantidade da frota devido à perda do padrão de referência por causa da quarentena. Além disso, relatou que a gestão do sistema de transporte de Santa Maria sempre foi feita pelas empresas transportadoras e que ao município cabia apenas a fiscalização do serviço. Ressalta, no entanto, que existe uma movimentação para tornar a gestão compartilhada com a administração municipal, a fim de garantir que esteja cada vez mais próxima da demanda da população.
Em relação à redução do valor da passagem, um subsídio de R$6,24 milhões que prevê o reajuste tarifário de R$4,85 para R$4,50 até o final do ano para aqueles que utilizam o cartão cidadão e vale-transporte, foi sancionado pelo prefeito Jorge Pozzobom, no dia 14 de junho. O preço, para quem paga em dinheiro ou utiliza o cartão de estudante, se manteve em R$5 e R$2,50, respectivamente. Para o secretário Ponsi, o subsídio é a forma mais democrática do pagamento da tarifa, visto que toda a sociedade se beneficia do uso do serviço, na medida em que este reduz o volume de carros nas vias, o congestionamento, a poluição e o tempo de resposta de atividades essenciais como a de emergência e o policial.
De acordo com ele, pela primeira vez em 50 anos será realizada a licitação do sistema de transporte de Santa Maria, por se tratar de uma exigência legal. Tal procedimento prevê uma reorganização em todo o conjunto e faz exigências como: a modernização dos ônibus, o aporte de veículos elétricos ou de outras tecnologias limpas e a implementação de tecnologias no processo de bilhetagem.
Esta licitação permitiria que o pagamento da passagem também fosse realizado com cartão de crédito e débito de todas as bandeiras e bancos. Ademais, Ponsi afirma que será contratada uma empresa transportadora, e que a licitação possibilita uma adição contratual na casa dos 25%, para garantir a prestação dos serviços, caso haja aumento no número de passageiros. A proposta seria apresentada ao mercado no dia 30 de junho, mas a pedido do Conselho Municipal de Transportes (CMT) a apresentação foi prorrogada para janeiro de 2023.
No entanto, tais melhorias permanecem sendo apenas promessas. Enquanto isso, os estudantes continuam reféns das antigas e novas dificuldades. Veiga relata que antes da pandemia o serviço já não era satisfatório, mas os cortes no orçamento do setor intensificaram os problemas e a precariedade dos veículos. “Os ônibus precisam ser trocados, estão muito velhos. Um dia, o ônibus em que eu estava, simplesmente, apagou no meio de uma curva no final da Faixa Nova. Chegou a um ponto onde a nossa segurança também está ameaçada pela má qualidade e pelo desgaste da estrutura.” disse. Diante de tantos problemas, a comunidade vai aguardar e cobrar pelo cumprimento das medidas prometidas.
Reportagem: Adriana Ossuna e Camilly dos Santos Barros
Foto: Júlia Petenon
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