Em meio a pandemia do novo Coronavírus, a UFSM não só faz história, também a comemora
As comemorações do jubileu de 60 anos da UFSM eram planejadas desde 2019. Os selos comemorativos e almoços festivos são uma forma de não deixar passar em branco a transição para a idade “jovem senhora” e poder reunir professores, funcionários e estudantes de diversas gerações que estiveram por aqui. Entretanto, diante da necessidade de distanciamento controlado para evitar aglomerações durante a pandemia, foi necessário estudar outras formas para celebrar a data. Nesse contexto, as redes sociais assumem o papel de homenagem e de união da comunidade acadêmica.
A data redonda do ano de número par de 2020 marca também aniversários especiais de alguns centros de ensino da instituição. O mais velho é o Centro de Tecnologia (CT), que completa 60 anos junto com a Universidade. Já outros centros comemoram suas bodas de ouro: Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH), Centro de Ciências Naturais e Exatas (CCNE), o Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), o Centro de Ciências Rurais (CCR) e o Centro de Educação (CE). Ademais, o Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), tão atuante no combate ao coronavírus na região central do estado, também está na lista dos cinquentões.
Tanto o CT, quanto o CCSH, por exemplo, foram obrigados a inovar as formas de comemoração. Ao depararem-se com esta nova realidade, precisaram investir em conteúdos digitais para possibilitar a felicitação a todos que a eles se sentem ligados. Apesar de existir uma pandemia, é necessário dar parabéns a lugares importantes na vida de quem os frequenta ou frequentou. Com o atual cenário, as bodas de ouro do Centro de Ciências Sociais e Humanas com a instituição mostram a importância dessas ciências para compreender os fenômenos da sociedade. Assim como o Centro de Tecnologia e suas bodas de diamante com a UFSM jogam luz aos elos, sejam permanentes ou passageiros, formados ao longo de sua história com o lugar e com as pessoas que lá estudaram.
Criada em 1960 com a iniciativa do professor doutor José Mariano da Rocha Filho, a UFSM já começou histórica, tornando-se a primeira universidade federal do interior do Brasil. Em seus primeiros anos, buscou expandir suas fronteiras para além do Rio Grande do Sul, com o Projeto Rondon no estado de Roraima, quando instalou em Boa Vista um Campus Avançado, com o objetivo de aplicar conhecimentos acadêmicos nas comunidades carentes, experiência crucial na formação dos estudantes participantes. No decorrer do tempo, criou o primeiro coral universitário de Santa Maria – o qual chegou a ser o quarto melhor do mundo – e consolidou-se na região como apoio à economia local agropecuária. Esses eventos reluzem o significado de bodas de diamante com o município, a região e sobretudo com as pessoas que aqui vivem permanentemente ou temporariamente.
Diante da impossibilidade de celebrar esta idade com aglomeração, a UFSM procura despertar o mesmo sentimento de gratidão com a comunidade pelo anos vividos, só que digitalmente. Ao relembrar a importância dessa data, a relações públicas Sendi Spiazzi, da Unidade de Comunicação Integrada da Universidade, declara: “Mais do que nunca é importante registrar essa história de permanência e prestação de serviços à sociedade”. Ela descreve o momento especial como uma forma de reviver o passado, projetar o futuro e valorizar as experiências vividas, tudo a fim de construir novos passos a partir do reconhecimento e entendimento do que foi vivido.
Através das redes sociais oficiais são postadas fotos antigas para recordar como tudo começou. Não obstante, são compartilhadas as costumeiras ações realizadas em prol de Santa Maria e região. Com a atual crise na saúde, torna-se ainda mais especial para o público saber que a Universidade atua no enfrentamento da pandemia, como a iniciativa de recuperação de respiradores e a fabricação de álcool gel. São práticas que estimulam na população o orgulho de pertencimento – o “Sou UFSM”- slogan da campanha institucional proposta recentemente para demarcar o papel da Universidade e sua importância, mesmo em um contexto de desvalorização e cortes de verbas. “A Universidade entrega ensino, pesquisa e extensão diariamente à comunidade […] a celebração do aniversário é uma forma de marcar a história e tudo o que ela representa no seu dia a dia”, continua Sendi.
Mudança de planos não é mudança de sentido
Com todas as atividades presenciais não-essenciais transferidas ou para o meio digital, ou para o período pós-pandemia, a pergunta que fica é se o sentido de comemorar permanece o mesmo. Segundo Sendi, foi percebido um público maior em formaturas online do que em edições anteriores presenciais. Com isso, afirma que é previsto estender as comemorações até os 61 anos da UFSM, em dezembro de 2021, intercalando eventos e exposições, sejam presenciais ou virtuais. A relações públicas Laura Hartmann, do Núcleo de Comunicação Institucional do CCSH, também enfrentou o desafio de planejar as comemorações à distância. Ela conta que, aos poucos, conseguiu entender que cancelar todas atividades comemorativas e esperar a quarentena passar seria algo inviável. “Em um primeiro momento nos preocupamos, pois 50 anos é uma data importante, mas depois nos questionamos como manter a comunidade engajada e participe do aniversário, a resposta veio naturalmente, com a internet”, frisa.
No caso do CCSH, por exemplo, estava planejado o lançamento de um livro, um mural artístico e um almoço. De acordo com Laura, a equipe de planejamento foi pega de surpresa pela pandemia, o que exigiu uma rápida adaptação nas propostas das atividades comemorativas, as quais seriam uma vez ao mês. A solução encontrada foi a promoção de duas campanhas pelas redes sociais: a primeira com o slogan do aniversário “Cada Vez Mais Sociais e Humanas”. Nela, foi pedido aos seguidores que gravassem vídeos para contar sua relação e história com o CCSH, com o intuito de serem veiculados no perfil oficial. Até o momento, são mais de 32 vídeos enviados. Já a segunda campanha foi um convite aos internautas a participarem do Vídeo Comemorativo dos 50 anos, produzido pelo Estúdio 21, (pertencente aos cursos de Comunicação Social) em que cada um fazia um gesto de comemoração, como aplausos ou brinde. Cerca de 71 vídeos foram recebidos.Um dos responsáveis pela sua realização, o produtor Felipe Dagort, relata que a experiência foi algo desafiador, por se tratar de uma atividade remota, mas no final foi surpreendente, além de lindo, receber a colaboração de muitas pessoas.
Uma segunda casa
Felipe não apenas celebra os 50 anos de um lugar como organizador, mas também como estudante. Vindo de Santa Cruz do Sul, aos 17 anos, chegou à Santa Maria em 2000 para estudar Publicidade e Propaganda e assim, construir sua vida na universidade, no Centro, no departamento e hoje no estúdio 21. “Aqui tudo era diferente e, ainda bem, muito bom! A atmosfera das aulas, os colegas, os professores… tudo me encantava”, relembra o servidor.
Ele conta que sua relação com o CCSH foi construída aos poucos. Após se tornar publicitário em 2004, iniciou outro curso na instituição, Artes Cênicas, vinculado ao CAL (Centro de Artes e Letras). Assim, em 2008, ao completar 8 anos de UFSM e concluir a segunda graduação, ele escolheu fazer da Universidade sua vida: fez concurso e tornou-se diretor de produção do Estúdio. Na época, Dagort percebeu as mudanças na infraestrutura do local e uma grande evolução desde da última vez que o viu. “Parte desse desenvolvimento veio do próprio investimento do Governo Federal e do CCSH em servidores técnicos para as atividades relacionadas ao audiovisual”, compartilha. Essa valorização o fez sentir-se privilegiado quanto a pertencer a tudo aquilo, contudo, segundo ele, é no presente que essa sensação está completa, não somente através das reuniões e comissões que participa junto ao Centro, mas sim no trabalho com os outros. Para ele, sua função é proporcionar as melhores condições para os alunos e professores nas aulas. Todavia, quando essas condições não existem, precisa-se lidar com a frustração. A partir dela, Felipe sabe que tem muitas coisas a serem feitas. Apesar disso, ele mantém nítido em sua mente o que lhe é mais importante: “o relacionamento humano me é muito caro, acreditar e apostar nas pessoas que passam pelo Estúdio é uma tarefa vital”.
As sociais e humanas em foco
Ao observar o Centro das Sociais e Humanas, é possível notar sua expressividade em números: 24 cursos de graduação, 12 programas de pós-graduação e 501 projetos de pesquisa. Não é só pela quantidade que o centro se destaca, mas também pela diversidade ao abraçar duas áreas do conhecimento, segundo a relações públicas Laura. Para ela, às vezes isso aparenta falta de unidade, mas essa é a intenção. São cursos diferentes, com propostas diversificadas, os quais provocam debates relevantes à sociedade que emergem nessas áreas. Dessa maneira, as inquietações sociais são refletidas: “Muitas pessoas podem pensar apenas na questão tecnológica ou de saúde em função do período em que estamos vivendo, mas as sociais e humanas são fundamentais para que entendamos o contexto e possamos progredir enquanto sociedade”, ressalta.
Como exemplo, ela cita o projeto “Mais História, por favor”, que fez um paralelo entre a Gripe Espanhola, de mais de 100 anos atrás, com o novo Coronavírus, para identificar quais tendências de comportamento, tanto da população, quanto do governo, repetem-se. A relações públicas enfatiza que a campanha de ser “Cada Vez Mais Sociais e Humanas” ganha significância neste período de quarentena. Mesmo que a internet seja uma ferramenta fundamental para manter contato, a impossibilidade de abraços, olhares diretos e apertos de mãos torna as pessoas mais sensíveis, carentes de contato, tanto social, quanto humano.
A história de um centro perpassa a história das pessoas
O Centro de Tecnologia comemora as bodas de diamante com a Universidade e havia igualmente se programado para tornar a data mais especial ainda. A relações públicas Ivana Cavalcante, do Núcleo de Divulgação Institucional do Centro, relata que era planejado montar um comitê composto por representantes da gestão, atuais servidores, aposentados, discentes e egressos, para discutir as atividades comemorativas de uma forma mais democrática e abrangente. Dentre as propostas, estavam promover um jantar-baile; fazer parceria com a Pró-reitoria de Extensão para um “Viva o Campus” comemorativo; ter exposições no hall do prédio 7 com fotos antigas; entre outras ações. No início de março, antes de ser decretada a impossibilidade de atividades presenciais, foi possível elaborar o selo comemorativo e decorar a entrada do edifício com balões.
Para não deixar o jubileu ser esquecido, a saída foi investir em conteúdos para a internet. Publicações de depoimentos de ex-diretores do centro, criação de filtro para fotos no Instagram, compartilhamentos de imagens na hashtag “tbtCT” e uma série com base no “Retalhos da Memórias de Santa Maria” servem para preencher o vazio causado pelo isolamento social. “Estamos fazendo o que é possível no momento, não estamos, por enquanto, pensando no que fazer quando as aulas voltarem, se continuamos com as comemorações ou não”, expressa Ivana.
Ao descrever a importância desses 60 anos, ela conclui que a história é feita de pessoas, como as gerações pai/filho que estudaram lá, ou até mesmo de netos posteriormente. Pessoas que se conheceram no CT e formaram uma família, por exemplo, são relações afetivas que naturalmente acontecem paralelamente à história do Centro. Esses fatores aliados aos projetos desenvolvidos em prol da sociedade, aos prêmios em reconhecimento às pesquisas e aos protótipos, demonstram que o Centro contribui para resolução de problemas e melhoria na educação.
Apesar deste ano atípico, em que as festas são feitas por videochamadas e os presentes se resumem à mensagens trocadas nas redes sociais digitais, as bodas da UFSM e de outros centros foram vividas. Ao não conseguir cumprir essa tarefa da maneira como fora planejada, as comemorações deixaram retalhos espalhados pelo virtual para serem lembrados. Essa experiência permitiu tempo para que toda a comunidade acadêmica se reanime, com saúde e segurança. O desejo de recuperar o hiato e de repetir todas as boas memórias deixadas é o que mobiliza a todos a iniciar os novos 50 e 60 anos.
*Imagens de arquivo retiradas do acervo do DAG – Departamento de Arquivo Geral da UFSM.
Reportagem: Gabrielle Pillon