Há 35 anos, a figura de baixa estatura, magrinha e de cabelos cinzas se dirige ao prédio da Reitoria no campus da Universidade Federal de Santa Maria. Aperta o botão do nono andar no elevador e sobe mais um lance de escada para chegar até o décimo. Seus passos o levam para a Rádio Universidade. Entrando pela porta de vidro, um dos personagens mais antigos daquele lugar cumprimenta a todos com um sorriso e realiza o trabalho, que faz com muito amor e competência. Esse é Ricardo Leonardo Bezerra Molina, ou apenas Molina, como é conhecido pela maioria das pessoas, natural de Santa Maria e prestes a completar 60 anos.
Em 1982, enquanto cursava fisioterapia pela UFSM, surgiu um estágio na Rádio Universidade. Já naquele tempo, ele sabia como funcionava uma rádio, ao ter contato com seus amigos que trabalhavam na Rádio Medianeira, quando ainda era jovem. Em 1985, realizou um concurso para sonoplasta, que na época era conhecido como “técnico em assuntos educacionais”. Ao passar no concurso, a junção dos conhecimentos, que já adquirira na Rádio Medianeira e a adaptação aos equipamentos, todos analógicos na época, fez com que Molina se tornasse um grande profissional lá dentro.
Ao longo desses 35 anos trabalhando nas cabines e mesas de som, Molina acompanhou a transformação de eras de fitas cassete, rolos e bolachões para o que conhecemos hoje como rádio digital. As mudanças que ocorreram ao longo do tempo na rádio, não dizem respeito apenas à funcionalidade da rádio e dos equipamentos. Molina viu muitos colegas de trabalhos chegarem e partirem, outras pessoas, outros estudantes e outros cursos. O que no início servia apenas para acadêmicos da comunicação, hoje abrange estudantes de música e tecnologia e engenharia acústica. Passar seu conhecimento, adquirido em diversos cursos de rádio, até mesmo em São Paulo, é uma grande felicidade para Molina. Os estudantes chegam, muitas vezes, sem muito conhecimento prático e têm ali uma troca.
Molina transita por quase todos os programas produzidos na rádio, que está completando 50 anos. Chega cedo para o “Bom dia universidade” e, ao longo do dia, vai acompanhando a programação cheia de diversidade, apresentada na maioria das vezes pelos próprios alunos da Universidade Federal Santa Maria. Carismático, conta que a convivência com seus colegas dentro da rádio é boa, um ambiente descontraído. Ver o que se tornou a rádio traz grande satisfação, assim como ver cada vez mais estudantes se envolvendo: “Da minha parte, o que eu puder passar para os novos colegas, obviamente vou passando, porque amanhã ou depois quem está saindo sou eu e a coisa tem que continuar.”
O amor por rádio não é o único em sua vida. Desde os seis anos, Molina já afirmava que a música era sua melhor amiga: “Sem música eu não vivo, acho que sem música a vida não tem a menor graça.”. Em 1976, Molina formava uma banda que fazia tributo aos Beatles. A experiência de ter uma banda e cantar é muito singular para Molina: “É onde teu espírito consegue expressar o máximo possível das coisas boas”. O principal, como contou, é cantar para si, depois para a banda e só então para o público. Não existe músico sem plateia, porém, como Molina afirmou, a primeira responsabilidade é saber que está fazendo o melhor para si mesmo, dentro de suas capacidades.
Músico, sonoplasta, marido, pai, avô e bisavô, Molina é um personagem que marca a longa história da Rádio Universidade. Acompanhando todos os processos que levaram ao que hoje se conhece, convivendo dentro das cabines, realizando transmissões e ensinando o que adquiriu com sua experiência. “O rádio, como o pessoal sempre diz, é uma cachaça, depois que se entra, dificilmente se sai”, Ao entrar no décimo andar da Reitoria, com seus 25 anos de rádio, Molina deixou sua marca e, hoje, é um exemplo para os que chegam ali.
Reportagem: Ana Clara Seberino