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Dez anos de reuni



“Prestei vestibular para Engenharia Acústica em 2008, fui aprovada e desde então me apaixonei pela profissão, que até o momento era desconhecida. O legal do curso é que ele não é novo somente na UFSM, mas também no Brasil. Hoje, trabalho em São Paulo, em um dos maiores escritórios de acústica do país”, conta Raquel Rocha, formada na primeira turma de Engenharia Acústica da Universidade Federal de Santa Maria.

A UFSM é a única universidade do país a oferecer o curso de Engenharia Acústica. Ele está entre os 30 cursos criados na instituição a partir do Reuni – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais -, aceito em 2007 e com aplicação iniciada no ano seguinte. O projeto trouxe reestruturação acadêmico-curricular, renovação pedagógica da educação superior, suporte da pós-graduação ao desenvolvimento e aperfeiçoamento qualitativo dos cursos de graduação, compromisso social da instituição, e mobilidade intra e inter-institucional.

A adesão ao Reuni tem efeitos numéricos seja em relação a orçamento, alunos,vagas e cursos. De acordo com o pró-reitor de Planejamento, Frank Casado, estavam previstos recursos orçamentários de R$ 2 bilhões a serem distribuídos entre os anos de 2008 a 2011. Eles eram destinados dentro de Lei Orçamentária Anual, dados por um cálculo do Ministério de Educação (MEC), que considerava as matrículas potenciais de novos cursos criados, e então eram destinados para toda a UFSM, que os administrava. Hoje, não há recursos do projeto, e seu orçamento teve oscilações durante os anos e tende a diminuir nos próximos, como prevê a Proplan. 

Porém, no ponto de vista de Frank: “é importante destacar a trajetória da educação superior no Brasil antes do Reuni”. Para ele, com a expansão recente das universidades federais por meio do programa, as instituições públicas finalmente assumem um lugar de destaque nas políticas públicas para educação superior.

Discussão Reuni 

Na época da implantação, algumas instituições se posicionaram tanto a favor quanto criticamente ao Reuni, sendo uma delas a Seção Sindical dos Docentes da UFSM, a Sedufsm. De acordo com o presidente da época, professor Diorge Konrad, o Sindicato defendia, sim, a expansão do ensino público superior gratuito, estatal e de qualidade. Porém, durante a aprovação do Reuni expressava preocupações em relação à qualidade da mesma. As críticas, segundo o presidente, “não tinham nada de corporativismo, pois os princípios de defesa de uma expansão com qualidade não contradita com a defesa da expansão”. 

Além disso, o professor destaca que com a ampliação a partir de novas vagas, a crítica foi diminuindo, permanecendo apenas para a situação dos cursos criados, com pouco quadro docente. O fato feria o princípio da isonomia entre o ensino, a pesquisa e a extensão, que é pilar básico de uma universidade. Entretanto, “ao menos até 2011, a expansão ainda não havia atingido o índice ideal de 18 estudantes por um docente. Lembro que também alertamos situações de expansão com precariedade, como no exemplo do Cesnors – Centro de Educação Superior Norte – RS, com salas de professores nas quais havia rodízio entre os docentes para seu trabalho cotidiano, pois as mesmas não comportavam todos ao mesmo tempo.” 

A questão do Cesnors, que hoje é definido pelos Campi de Palmeira das Missões e Frederico Westphalen, foi citada pelo Pró-Reitor da Proplan e o Coordenador do Reuni. Atualmente não há recursos novos do Reuni, ficando apenas a agregação de custeio devido ao crescimento da Universidade. A manutenção dos outros campi é organizada com os mesmos critérios usados para a distribuição de recursos no campus central.

Efeitos do Reuni 

Para o professor Dalvan Reinert, coordenador do Reuni na época e então vice reitor, o projeto, cujo investimento foi de cerca de R$ 204 milhões, transformou a UFSM em algo muito maior. Ou seja, para ele, a Universidade tornou-se mais inclusiva e com oportunidades para a comunidade se qualificar – dentro da formação e aprimoramento pessoal– produzir conhecimento, e se informar.

O crescimento qualitativo da instituição passou da 20ª posição em 2007 para a14ª posição no ranking das melhores universidades do país em 2017. Além disso, avalia o professor que houve o crescimento do número de vagas, cursos, servidores, obras e orçamento, pois o Reuni proporcionou a ampliação do acesso à educação superior, a melhoria da assistência estudantil, com ampliação da inclusão social e infraestrutura, a construção de prédios para salas de aula e laboratórios e reforma de estruturas já existentes.

Quanto aos investimentos em obras, o Reuni financiou blocos das Casas de Estudante, prédios das Letras, Música, Fonoaudiologia, Centro de Educação, Biblioteca Setorial do CCNE, blocos dos prédios 74 do CCSH, a Biblioteca das Humanidades, entre outros. Além disso, investiu em blocos e Casas do Estudante dos campi de Frederico Westphalen e Palmeira das Missões.

Tabela 1 diz respeito somente ao campus de Santa Maria

Como estaria a UFSM sem o Reuni? 

De acordo com o pró-reitor de Planejamento, pensar a UFSM sem o Reuni é pensar em uma universidade menos grandiosa, com pouca expressão nacional e internacional, com menos vagas, menos inclusão, menos recursos, e menor impacto na região. Já o professor Dalvan Reinert projeta que a Universidade provavelmente estaria “sucateada” em questão de estruturas de laboratórios, infraestrutura e com deficiência de técnicos especializados. 

Na opinião do professor Diorge Konrad, “a UFSM estaria como esteve nos oito anos do governo FHC, entre 1995 e 2002, quando se priorizou a expansão privada, sem investimentos para a pesquisa e para os laboratórios, com salários congelados dos professores e dos técnico-administrativos. Estaria estagnada e apequenada”. 

A Sedufsm defende que “todo projeto que expande as vagas na universidade pública, que crie novos cursos, especialmente para a classe trabalhadora e seus filhos, incluindo as cotas raciais, étnicas e sociais, além de egressos de escola pública, será sempre bem-vindo em um país como o Brasil”. E afirma: “o Reuni cumpriu este papel, mesmo que tenha sido insuficiente para o ideal da universalização do ensino superior no Brasil, quando ficaremos satisfeitos”. 

Sendo assim, o projeto que prometeu expansão aparentemente cumpriu seu papel. Afinal, seja em números (vagas, cursos, profissionais), tamanho físico (construções de blocos, prédios), ou visibilidade, o patamar de grandiosidade que a universidade atingiu foi tópico da totalidade dos comentários sobre o Reuni.

Bastidores – Personagem do REUNI 

O diferencial do curso de Engenharia Acústica é não ser novo apenas na Universidade Federal de Santa Maria, e sim no Brasil. Através do REUNI, criou-se a graduação em Engenharia Acústica na Universidade. Segundo Raquel Rocha, formada pela primeira turma de Eng. Acústica da UFSM, as instalações onde acontecem as aulas do curso são edificações novas, construídas justamente devido ao aumento dos cursos de engenharia. “Os únicos problemas que tínhamos era a falta de material didático na biblioteca e a falta de alguns equipamentos, softwares para o aprendizado por ser um curso recente. Atualmente, sei que alguns dos itens acima não foram resolvidos. ” 

“Até hoje, após quatro anos formada, realizo reuniões com a coordenadora do curso, atualmente Profª Drª Dinara Paixão, para discutir o andamento do curso, possíveis melhoramentos e as necessidades do mercado. Assim, o curso sempre tende a melhorar. ” Hoje, Raquel trabalha em um dos maiores escritórios de acústica do Brasil, na capital São Paulo.

 Reportagem: Eduarda Nenê da Costa e Martina Pozzebon

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