O cinema é a arte que permite contar todo o tipo de história em diferentes formatos de produções. Nenhuma arte simula a vida tal como o cinema. Ele é um misto de todas as outras artes. Sua origem se deu no século 19, na França, através dos irmãos Lumiére, sendo aperfeiçoado ao longo dos tempos. Por volta da década de 1950, o cinema chegou em Santa Maria através das poltronas e projetores do Cine Glória, Cine Independência e do Cineclubismo, e trouxe o pioneirismo da 7ª arte à cidade cultura. Sendo assim, por ser uma cidade desenvolvida em torno de uma universidade, a arte cinematográfica também conversa com o Campus, onde transforma, discute e inova.
O Cineclubismo na Universidade
Santa Maria é pioneira quando o assunto se refere a cinema ou cineclube. Dando destaque ao Cineclube “Lanterninha Aurélio” que está em plena atividade há 40 anos no auditório da Cesma (Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria) todas as segundas-feiras, onde promove sessões e debates de produções locais e nacionais. O mesmo vale para o Cineclube “Da Boca” que funciona dentro da UFSM e é um projeto de extensão da curso de Gestão de Turismo vinculado ao Conselho Nacional de Cineclubes e tem como coordenador o professor Gilvan Dockhorn. Com dois anos de atividades no auditório do Prédio 67, o cineclube cujo o lema é: “Divertir, construir e emancipar”, possui uma estrutura democrática, e tem como seu principal compromisso a diversidade de produções locais e nacionais sem quaisquer fins lucrativos. O Cineclube ainda promove um amplo espaço para debates através dos seus chamados “ciclos de cinema” onde são exibidos filmes com questões que, por sua vez, possam levar à reflexão, como por exemplo, o racismo, a violência, a representatividade feminina ou de gênero. Em conversa com o professor Gilvan, ele acredita que proporcionar espaços como este, no cenário atual, é muito importante e conseguir isso através do cinema é “fenomenal.”
Cinema e o Audiovisual na Academia:
Enquanto o curso de Cinema não se torna realidade, os festivais e as amostras são as principais maneiras de incentivar a produção audiovisual no meio acadêmico. Foi com este pensamento que o Laboratório de Pesquisa em Arte Contemporânea, Tecnologia e Mídias Digitais (Labart), juntamente com o Cineclube da Boca e a TV OVO organizaram a primeira edição do Assimetria, Festival Universitário de Cinema e Audiovisual. O evento aconteceu nos dias 15 e 16 de maio, no auditório do prédio 67, e reuniu 32 produções selecionadas por uma equipe especializada num universo de quarenta e dois trabalhos inscritos. Ao final das exibições, foram premiados os melhores filmes nas categorias júri popular, melhor documentário, melhor ficção e melhor experimental.
Com 12 produções feitas por alunos ou egressos da UFSM, destaque para Metamorfose, vencedor nas categorias júri popular e melhor documentário, o Assimetria é um exemplo do crescente interesse das pessoas da universidade em produzir e exibir seus projetos e filmes.
Para a coordenadora da TV OVO, Neli Mombelli, os festivais são um modo de discutir e estudar o audiovisual dentro universidade: “ O legal de se fazer um festival universitário é congregar diferentes visões. No momento que temos um festival, os estudantes conseguem observar diferentes filmes e pensar em como é possível pensar e trabalhar narrativas de diferentes formas. É muito bom ter essa troca de experiência”. Para ela, os festivais têm um papel básico e fundamental para quem quer produzir cinema: “Nós precisamos assistir muita coisa para também elaborar nossas histórias.”
Professora Nara Cristina Santos, coordenadora do fórum; cinema e artes visuais, ainda ressalta o caráter experimental desta primeira edição do Assimetria e diz que o objetivo é expandir no futuro: “ele (o primeiro Assimetria) foi restrito a produções do sul do país. A ideia é ampliar, nas próximas edições, para todo o Brasil e, posteriormente, toda Sul-América”. Segundo Nara, o audiovisual na UFSM deve dialogar com a realidade sul-americana.
O Cinema como graduação
Mesmo que Santa Maria seja reconhecida e chamada como “Cidade Cultura”, a UFSM ainda engatinha em relação às produções audiovisuais. Os espaços para se discutir o cinema dentro da Universidade foram aos poucos ganhando espaço e as pequenas produções desta área, muitas vezes, são restritas através de disciplinas de outros cursos, como os da Comunicação, ou em iniciativas de professores de outras áreas. Assim, essas ações proporcionam aos alunos interessados na graduação em Cinema um contato inicial com o audiovisual enquanto o curso não é implementado.
Para debater melhor o cinema, surgiu então uma questão: a da criação de um curso de graduação em Cinema e Audiovisual na UFSM. Desta forma, se deu a criação do Fórum: cinema e artes visuais, idealizado pelo Labart do Centro de Artes e Letras sob coordenação da professora Nara Cristina Santos. O evento iniciou bem fundamentado, através da apresentação de estratégias curriculares e um estudo prévio sobre os cursos de graduação de cinema no brasil. “Se partiu para discussão e colaboração de cada um dos professores da área ou com proximidade da área para discutir cinema. Quando chegou o segundo fórum, a gente já apresentou uma primeira proposta de estrutura de currículo, e foi aí que surgiu parcerias como a TV OVO.”, revela Nara.
Presidente da comissão pedagógica para a criação do curso de graduação em Cinema, a professora Nara fala ainda que quando se pensou na criação do curso, foi idealizada uma proposta de disciplina que pudesse tratar não só das questões teórico-práticas, mas também da nossa condição Sulamericana: pensar o Rio Grande do Sul em diálogo com o resto sul-americano (Argentina, Chile, Uruguai). Característica principal do curso na UFSM.
Com um forte e importante apoio institucional, a Comissão Pedagógica se vê otimista nessa instalação do curso de graduação de cinema na universidade, porém ela esbarra numa questão básica que é a falta de professores específicos para área. “O meu trabalho, como presidente da comissão, é trazer a experiência técnica-administrativa e institucional. Propondo aquilo que é uma obrigatoriedade, ter pessoas que sejam produtoras de cinema e tenham uma formação mais específica para aquelas disciplinas próprias de produção”, destaca.
O curso de graduação é uma realidade muito próxima da a Universidade. Nara salienta: “O curso de cinema vai acontecer na universidade. É só uma questão de tempo ” a cidade de Santa Maria tem muito o que se beneficiar com a implementação deste curso, porém, devido a burocracia, o que resta aos alunos e aos professores é a espera.
Reportagem: Felipe Mikalauskas Bortoluzi e Pablo Cabral Iglesias