Com mais de 140 estudantes com algum tipo de deficiência, UFSM tenta promover juntos a eles igualdade e inclusão.
Reportagem: Júlia Goulart e Pablo Furlanetto – Fotografia: Júlia goulart.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos já afirmava em 1948 que “todo o ser humano tem direito à liberdade de locomoção”. Agora, no século 21, a luta do direito de ir-e-vir não se restringe mais só às questões de deslocamento, mas também a outras dimensões que estão ligadas à acessibilidade, como o acesso à informação e a serviços básicos. Acessibilidade é tornar os espaços, meios e processos acessíveis a pessoas com deficiência. Trata-se de uma qualidade que deve estar presente em todos os aspectos da atividade humana. O desafio atual é construir um espaço de inclusão social que permita a igualdade de acesso. De acordo com o último Censo Demográfico do IBGE, realizado em 2010, existem 3.142.388 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência no Rio Grande do Sul, e 28% vivem em Santa Maria.
NA UNIVERSIDADE
O objetivo das universidades é oferecer um ensino de qualidade para todos e formar indivíduos capacitados e independentes, não só para o mercado de trabalho, mas também capazes de atuar nas suas comunidades como seres transformadores. Por isso, em 2007, a UFSM instituiu um Programa de Ações Afirmativas de Inclusão Racial e Social, que reserva 15% do total das vagas para estudantes que se declaram afrodescendentes, 20% para estudantes de escolas públicas e 5% para pessoas com deficiência, mas o caminho até se chegar nessas porcentagens é gradual e lento.
Todavia, não basta apenas que seja garantido o direito de ingresso – é imprescindível possibilitar a permanência e a participação efetiva desses acadêmicos nos seus cursos. Conforme ingressavam e ocupavam seus espaços, surgiam novas necessidades de adequação dentro da instituição, que até então não estava preparada para lidar com pessoas que não enxergam, não falam, não ouvem ou têm alguma dificuldade de locomoção. De 2008 até o final de 2015, ingressaram 316 estudantes com deficiência, porém 88 abandonaram seus cursos e 22 cancelaram a matrícula. Isso significa que 34% deles não chegaram a se graduar. Para garantir a permanência e a conclusão da graduação, é preciso estabelecer formas de inclusão desses estudantes em todos os espaços: dentro da sala de aula, no Restaurante Universitário, nas bibliotecas e Unidades de Ensino.
Criado em 2007, o Núcleo de Acessibilidade tem suas ações voltadas para o acompanhamento dos estudantes com deficiências, com autismo, altas habilidades ou superdotados, desde seu ingresso até sua formatura. Além disso, é responsável por fornecer suporte de tecnologias e equipamentos relacionados à educação especial para toda a comunidade acadêmica e procurar adequações frente às barreiras pedagógicas, arquitetônicas, informacionais, comunicacionais e de deslocamento. Ele faz parte das atividades desenvolvidas pela Coordenadoria de Ações Educacionais (CAED) da UFSM, juntamente com o ANIMA (Núcleo de Apoio à Aprendizagem na Educação) e o Núcleo de Ações Afirmativas Sociais, Étnico-Raciais e Indígenas.
Romeu Sassaki, especialista em inclusão e assistente social no Brasil, acredita que a inclusão “é o processo pelo qual os sistemas sociais comuns são tornados adequados para toda a diversidade humana […] com a participação das próprias pessoas na formulação e execução dessas adequações”. Para ele, essas adequações fazem parte da acessibilidade e abrangem seis dimensões relacionadas ao lazer, trabalho e educação que exploraremos nas próximas páginas.
DIMENSÃO PROGRAMÁTICA
O pioneirismo da UFSM na reserva de vagas para pessoas com deficiência em 2007 serviu como exemplo para outras instituições federais. Contudo, a falta de incentivo ou conhecimento sobre os próprios direitos pode ser um dos motivos do baixo ingresso desses estudantes na universidade. A Lei Federal de 2016, de nº 13.409, especifica que o número de vagas ofertadas para esse público deve ser proporcional à quantidade da população que se autodeclara preta, parda, indígena ou com deficiência em todo território nacional. E a dimensão programática abrange essa quebra de barreiras invisíveis em decretos, leis, regulamentos ou políticas públicas que venham a impedir ou dificultar o acesso ao lazer, trabalho ou estudo.
O Estatuto da Pessoa com Deficiência (lei nº 13.146/2015 – 3º art. I) foi sancionado em 2015 pela então presidenta Dilma Rousseff, e disserta sobre os direitos das pessoas com deficiência. O artigo 37, por exemplo, fala sobre inclusão no mercado de trabalho. De acordo com o técnico em Educação Especial do Núcleo de Acessibilidade, Cristian Sehnem, um dos paradigmas que devem ser eliminados dentro desse contexto são as relações de poder entre profissionais que trabalham com a inclusão. Segundo ele, “na tomada de decisões muitas pessoas com deficiência acabam submissas às vontades e escolhas dos demais”.
Para consolidar iniciativas e proporcionar espaços de visibilidade, a .TXT não só problematiza a acessibilidade e a inclusão, como também propõe a criação de uma revista digital acessível para pessoas com deficiência visual. A ideia surgiu a partir de conversas entre o técnico Cristian, a professora Viviane Borelli e o diretor de imagem Rafael Bald. O objetivo desse primeiro projeto experimental é construir um PDF acessível que contenha audiodescrições do design e das fotos da revista para que a comunidade cega ou com baixa visão possa fazer a leitura de todo material jornalístico. Esse PDF está disponível para ser baixado no site da revista: coral.ufsm.br/revistatxt/.
O trabalho conta com o auxílio da Comissão de Audiodescrição da UFSM, que atua como consultora das descrições inicialmente produzidas pelos alunos. A finalidade do projeto é também construir um manual para que, posteriormente, possa ser usado por outras revistas da Universidade. Todo o processo conta com a participação das pessoas que terão acesso ao material: “nada sobre nós, sem nós”, como aponta Cristian, é a principal premissa da inclusão.
DEFICIÊNCIA é “toda perda ou anomalia de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade”, segundo o Decreto Lei nº 3.298 do ano de 1999. As deficiências possuem várias causas: genética, problemas na gestação, no parto ou nos primeiros dias de vida. Ademais, podem ser consequência de uma doença transmissível ou crônica, de perturbações psiquiátricas, desnutrição, abuso de drogas, traumas e lesões. Há casos em que são decorrência de acidentes.
FONTE: Portal Brasil.
DIMENSÃO ARQUITETÔNICA
“Uma vez quase caí para trás, por causa da inclinação da rampa”, comenta a acadêmica de Biologia Aline Dalcul, sobre as rampas de acesso ao prédio 16. Essa é apenas uma das muitas barreiras arquitetônicas que passam despercebidas. A falta de rampas e de elevadores nos prédios básicos (do 17 ao 21 e do 40 ao 43); a existência de portas dos banheiros adaptados que abrem para dentro, o que dificulta a entrada de cadeiras de rodas; a utilização desses banheiros como depósito de materiais de limpeza e as calçadas estreitas demais para cadeirantes, são fatores que dificultam a mobilidade.
Ao ser questionado o pró-reitor de Infraestrutura, Eduardo Rizzatti, declarou que “estamos dotando os prédios de elevadores, na medida do possível, mas naturalmente isso vem de uma dependência de recursos. O outro passo é a própria acessibilidade entre os prédios que não têm elevador”. Para amenizar o problema de acesso, foram instaladas rampas e elevações nos prédios básicos. No caso de alunos que tem dificuldade de mobilidade, a alternativa é solicitar junto ao Núcleo de Acessibilidade e à coordenação do curso troca de salas para um andar que seja acessível, mas nem sempre é possível.
Leopoldo Engroff, estudante de Desenho Industrial, possui as duas pernas amputadas devido à má formação congênita. Ele acredita que só a existência da cota B – a reserva de vagas para pessoas com deficiência – não é garantia de permanência: “a Universidade dá a possibilidade do ingresso, mas não de permanência”.
Já na Biblioteca Central, o acesso aos livros para alunos com cadeiras de rodas é mais um desafio. Aline diz que avisa antes de chegar ao local e só consegue entrar por uma porta nos fundos, no subsolo. Apesar de ter acesso ao primeiro andar pela rampa localizada em frente à Biblioteca, os estudantes com cadeiras de rodas não conseguem subir para a área de estudos no último andar, pois não existe elevador. A acadêmica conta que, no início do curso, pedia para alguém retirar os livros para ela, com seu documento de identidade: “Agora faz tempo que eu não vou porque dá muito trabalho”, lamenta a estudante.
Os prédios na Casa do Estudante Universitário de Camobi (CEU II) não são acessíveis para pessoas com mobilidade reduzida. De acordo com Angélica Iensen, assistente da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, somente os apartamentos dos andares térreos são disponibilizados para esse grupo, que têm prioridade para ingressar na CEU. “Existem casos de estudantes que por não conseguirem se locomover sozinhos, moram com seus pais dentro da CEU”, declara Angélica.
Alguns alunos não dividem quartos com outros por causa de sua deficiência. É o caso de Kathucia Rodrigues, estudante de Direito que divide um apartamento para seis moradores com outras três pessoas com deficiência. A medida serve para facilitar a permanência deles na CEU, já que para pessoas cegas, por exemplo, existe a questão espacial e organizacional. Nada pode estar fora do lugar, pois isso pode acarretar algum acidente.
Aline e outros acadêmicos destacam a pista multiuso como um dos aspectos positivos do campus. Entretanto, o Pró-reitor de Infraestrutura frisa que a pista multiuso é apenas uma ferramenta para ajudar na acessibilidade, porque ela em si não foi construída para esse fim. Já a calçada tátil que está em construção sim, “isso é algo inimaginável em outras instituições, mas nós já estamos fazendo”, comenta Cristian. A construção dos primeiros três quilômetros da calçada tátil iniciou no segundo semestre de 2016 e, futuramente, serão pavimentados mais cinco quilômetros.
Todavia, ainda falta acessibilidade nas ruas do campus. No Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH), um aluno que se desloca com cadeira de rodas encontra dificuldades no percurso até a parada de ônibus. Nesse sentido, quando as obras da construção da parada de ônibus em frente ao 74 C estiverem finalizadas, os ônibus sairão do terminal em direção aos prédios 74A, B e C antes de ir ao Centro.
A UFSM também está realizando planos para implementar acessibilidade no prédio da Antiga Reitoria, no centro: “já está orçado e pretendemos implantar em frente à Antiga Reitoria, toda aquela área que compete à UFSM, uma calçada acessível porque o prédio é carente e deficitário nesse quesito”, salienta Rizzatti.
O Núcleo de Acessibilidade é consultado sobre as melhorias nas construções: “a equipe técnica, que são os arquitetos, fazem o projeto já de acordo com as normas da acessibilidade, questão de rampa, onde se coloca o piso tátil, mas naturalmente, quando tem relação com o pessoal, eles entram em contato”, explica Rizzatti. No entanto, para a maior parte dos estudantes, as construções e modificações só acontecem depois que há reclamações: “Quando eu precisar e ver que ali não possui uma rampa, por exemplo, eu notifico o Núcleo e eles entram em contato com a Proinfra”, conta Aline.
Uma alternativa encontrada por muitos estudantes para solucionar o problema do deslocamento é a utilização do transporte disponibilizado pela instituição. Guilhermo Oliveira, acadêmico de Medicina, tem a perna esquerda amputada e, para ele, transitar entre os prédios da Universidade se torna algo cansativo e trabalhoso. Outro serviço que é disponibilizado pela Universidade é a entrega de almoços. Apesar do Restaurante Universitário (RU I) dar preferência de atendimento às pessoas com deficiência e existir uma mesa para uso exclusivo deles, Guilhermo é um dos estudantes que recebe seu almoço no prédio onde tem aula. Cristian, que trabalha no Núcleo de Acessibilidade, conta que a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) solicitou ao RU o sistema que eles têm desse serviço, para aplicá-lo poder em Porto Alegre.
DIMENSÃO INSTRUMENTAL
Estudante de Ciências Sociais, Maicon Pierre tem deficiência visual desde sua infância e solicitou, para realização do Enem em 2016, ledores de prova e a utilização do Sorobã. Trata-se de um aparelho feito de madeira com fileiras de bolinhas que representam as unidades de medidas, que auxilia na realização de cálculos matemáticos. Para o assistente social Romeu Sassaki, a dimensão instrumental está ligada justamente à “acessibilidade total nos instrumentos e utensílios de trabalho: ferramentas, máquinas, equipamentos, lápis, caneta, teclado de computador”.
Maicon morou parte da sua vida em Porto Alegre, mas é natural de Cachoeira do Sul. Após dois anos fazendo curso pré-vestibular, conseguiu passar na UFSM através do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e utilizou seu direito às cotas para pessoas com deficiência. O acadêmico acredita que “só quando a educação de qualidade for igual para todo mundo, para todas as classes, aí que não se justifica a política de cotas. Mas ela é justa enquanto há essa defasagem e discrepância histórica na educação”.
No primeiro semestre de 2017, o estudante comentou que teve dificuldade no acesso aos materiais didáticos. Ele utiliza o NVDA – software que lê oralmente todas as informações que estão escritas na tela do computador – contudo, o programa não é capaz de ler imagens, apenas textos. Além disso, o NDVA não foi desenvolvido para ler arquivos escaneados, já que são imagens. Maicon ficou preocupado porque alguns livros recomendados em sala de aula não eram acessíveis para leitura, então ele procurou a coordenação do curso: “Eles mandaram e-mail para o professor, o Núcleo entrou em ação e as dificuldades foram se extinguindo”, comenta Maicon.
Para tornar os materiais mais acessíveis aos alunos, a Biblioteca Central conta com um acervo de livros para pessoas com deficiência visual, mesmo com a baixa adesão e a retirada desse tipo de material. Maicon gosta de passar seu tempo livre lendo e, recentemente, retirou livros como ‘O nome da rosa’, de Umberto Eco (disponível em CD) e ‘Escrava Isaura’, de Bernardo Guimarães (disponível em Braille). Por outro lado, ainda não houve nenhuma publicação de livro voltada ao público com deficiência visual pela Editora UFSM.
ACESSIBILIDADE METODOLÓGICA
Adequar a metodologia de ensino-aprendizagem para que todos tenham acesso igual à informação é um dos desafios da acessibilidade. De acordo com Cristian, a falta de preparo dos docentes para lidar com estudantes que têm necessidades educacionais especiais ainda é um desafio. Dessa forma, o Núcleo de Acessibilidade prepara professores, técnicos e os próprios estudantes com a elaboração de projetos, como mini cursos de informática para pessoas com deficiência visual e oficinas de língua portuguesa para estudantes surdos.
Alguns docentes auxiliam no processo de aprendizagem e amenizam as dificuldades dos alunos com simples ações no dia-a-dia: “Têm lugares que não tem como eu chegar. Um dia, viajamos para São João do Polêsine e eu não tinha como subir porque era no meio do morro. A professora levou um monte de coisas da coleta lá para baixo para eu ver”, conta Aline Dalcul, que precisa realizar saídas de campo em algumas disciplinas.
TEATRO E ACESSIBILIDADE
Desenvolvido e elaborado pela professora de Artes Cênicas, Márcia Bresseli, o Teatro e Acessibilidade faz parte do seu projeto de pesquisa. “A ideia dessa oficina é experimentar práticas de teatro em grupos de pessoas com e sem deficiência e entender a interação entre essas pessoas”, pontua. O projeto teve parceria com o Núcleo de Acessibilidade para divulgação entre os estudantes com deficiência “eu me interessei em participar para me conhecer mais corporalmente. Era um desafio, algo novo que surgiu e foi feito para interagir com outras pessoas”, comenta Aline Dalcul. Além dela, mais três estudantes participam das oficinas.
No segundo semestre de 2016, foi feita uma pesquisa sobre as práticas e procedimentos e as oficinas começaram neste ano. “Nas oficinas pensamos muito nas hierarquias de corpos que têm a ver com como eu me relaciono com o corpo da Aline, como me relaciono com a cadeira da Aline”, conta a estudante de Artes Cênicas Vanessa Bressan. Ela ainda comenta que essas questões não surgiriam se não houvesse essa possibilidade de interação entre pessoas com e sem deficiência.
A metodologia é organizada de forma a “fazer um espaço que todo mundo possa participar independente das suas especificidades corporais e sensoriais”, explica a professora Márcia. Dentro das oficinas são feitos exercícios para consciência corporal a partir de abordagens somáticas de movimento, que são as formas como cada um se movimenta e como os corpos aprendem a receber outros corpos. Juliana Gedoz Tieppo, que estuda Artes Cênicas, já assistiu a um teatro com atores surdos fora da Universidade, mas nunca havia participado ou ouvido falar de um projeto que trabalhasse da mesma forma que o Teatro e Acessibilidade. “Existe a falta de projetos com grupos mistos porque acho que existem poucos ambientes, principalmente dentro da Universidade, em que a gente pode se relacionar com pessoas com deficiência”. Para ela, esse é o diferencial do projeto. Aline Dalcul ressalta que a acessibilidade não se encontra somente na construção de rampas e elevadores, mas sim em espaços que possibilitem a interação entre as pessoas: “é um convívio diferente porque eu não deixo de ir porque eu não posso, mas sim porque eu quero ou não quero ir”.
DIMENSÃO COMUNICACIONAL
Natural de Cascavel, no Paraná, Caroline Fagundes é surda desde o seu nascimento. Quando se mudou para Santa Maria, ela frequentou a escola Reinaldo Coser para pessoas surdas e, quando optou por prestar o vestibular para Administração na UFSM, Carol, como prefere ser chamada, conta que a prova era toda feita em vídeo: “A intérprete vai fazer em língua de sinais e é muito mais claro para nós por sinais do que pela leitura. Porque a nossa primeira língua é a de sinais e não o português”.
Antes de estudar na UFSM, Carol estudava em outra instituição, mas como era a única aluna surda da turma teve dificuldades de relacionamento com os outros colegas, que nem sequer tentavam interagir com ela. Já na UFSM a situação é bem diferente: “aqui eu tenho meus colegas que fazem trabalho comigo e trocamos bastante informações. Eles me ajudam e eu ajudo eles”. Alguns colegas optaram por cursar a disciplina de Libras para conseguir se comunicar melhor com ela.
A Coordenadoria de Ações Educativas (CAED) possui atualmente 13 intérpretes que estão disponíveis para acompanhamento dos 29 alunos com deficiência auditiva da comunidade acadêmica segundo relatório de 2015. Qualquer professor também pode solicitar no site da coordenadoria intérpretes de sinais para eventos, palestras e oficinas; no site da coordenadoria.
Uma das dificuldades citadas por Carol é que os professores usam termos que não existem na língua de sinais e as interpretes tem que fazer a datilologia. Ou seja, tradução letra por letra, o que não facilita a compreensão do conceito da palavra. Com o objetivo de diminuir os obstáculos comunicacionais, o CAED desenvolve atualmente o projeto Glossário Libras, que cria sinais para facilitar o aprendizado de conceitos específicos. “Eu sou filmada fazendo as coisas do meu curso. Faço o sinal, dou um exemplo e o conceito e também aparece uma imagem para explicar”, comenta Carol. Os vídeos são disponibilizados na internet, no Portal da Coordenadoria, o usuário acessa, vê a palavra, seu significado e um vídeo com o sinal específico.
DIMENSÃO ATITUDINAL
A acessibilidade atitudinal está ligada com nossas ações e atitudes diárias diante das mais variadas situações. Um exemplo de atitude que devemos tomar cuidado é em relação à linguagem: até meados dos anos 2000, utilizou-se o termo “portadores de necessidades especiais”, pois o uso da palavra “deficiência” tinha uma conotação ruim e era considerado rude. Atualmente, o termo adequado é “pessoa com deficiência”. Cristian acredita que: “as pessoas não portam deficiência do mesmo jeito que você não porta um olho azul. Você não chega em casa e pendura a sua deficiência em um cabide, você permanece com ela pelo resto da vida”.
Nascido em Santa Cruz do Sul, Cristian Sehnem perdeu a visão aos 20 anos por causa da diabetes. Após passar no concurso público para técnico administrativo, em 2014, mudou-se para Santa Maria e, desde então, trabalha no Núcleo de Acessibilidade. Para ele, toda a instituição deveria estar capacitada para receber as pessoas com e sem deficiência e o grande desafio é não tornar o Núcleo um espaço de exclusão que atenda somente uma parcela dos estudantes.
A falta de espaços culturais e de lazer inclusivos é um outro problema em Santa Maria. Na Feira do Livro deste ano, ocorreu a primeira oficina de leitura inclusiva de todas as edições, ministrada por Angelita Garcia, representante da fundação Dorina Nowill para cegos. Por meio da desconstrução de estigmas sociais, a palestrante mostrou a importância da ação voluntária e como atitudes e palavras afetam o dia a dia da pessoa com deficiência. Produzir materiais, revistas, atividades e projetos que se preocupem com a inclusão de todos é exercitar empatia que é base à acessibilidade atitudinal.
Para Cristian, “a mãe de todas as acessibilidades é a atitudinal. O que falta na verdade é
todo mundo abraçar essa causa”. Para ele existe uma falta de interesse em saber da realidade das pessoas com deficiência e, por isso, acontecem situações constrangedoras e discriminatórias em ambientes de trabalho, locais de lazer e nas .instituições de ensino. Divulgar e provocar as pessoas são maneiras de mostrar como é importante a acessibilidade.