Conheça o Hemotify: a plataforma que ajuda hemocentros de todo país a captar mais doadores de sangue
Reportagem: Eduardo Ruedell e Thuane Cristina – Fotografia: Thuane Cristina
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o número ideal de doadores regulares de sangue deve representar 5% da população de um país; no Brasil, atualmente, não chegamos nem perto disso: apenas 1,8% se dispõe à doação. Pensando nisso, Fernando Henrique Berwanger, 21, e Ricardo Morcelli, 21, acadêmicos do curso de Engenharia de Controle e Automação da UFSM, tiveram a ideia de lançar uma plataforma que pudesse conectar doadores e hemocentros a fim de facilitar as doações de sangue. A ideia foi lapidada dentro da Stallo Soluções de Impacto, empresa da qual ambos são sócios, localizada na Incubadora Tecnológica da UFSM. Com o desenvolvimento do projeto, Gabriel Branco, 21, acadêmico de Engenharia Acústica na UFSM, juntou-se ao grupo e, após dois meses de trabalho intenso, lançaram o Hemotify.
A ideia é simples: para se cadastrar como doador, basta acessar o site ou o aplicativo e clicar no botão “quero ser um doador”. O sistema pedirá o tipo sanguíneo e a cidade onde mora. O aplicativo tem a função de construir uma ponte entre o hemocentro e o doador cadastrado, o que é feito atualmente via Facebook. Mas o aplicativo não exclui a necessidade do cadastro do doador junto ao hemocentro, onde deverá passar por uma rápida checagem antes da doação. O doador não será chamado se o hemocentro não precisar do seu tipo sanguíneo no momento.
Uma das metas da equipe do Hemotify é, até o final deste ano, realizar uma parceria com a Secretaria de Saúde do Estado, para que, com a possibilidade de captação de Cadastro de Pessoa Física (CPF) dos doadores, haja cruzamento de dados com os registros do Sistema Único de Saúde (SUS), o que simplificaria o processo de conectar doadores e hemocentros.
“Tem um fenômeno no sul do Brasil, no qual encontramos muito desse serviço na iniciativa privada. A gente está dando uma segurada nos particulares aqui em Santa Maria e valorizando a fonte gratuita”, diz Fernando. Segundo ele, no futuro pretende-se cobrar uma taxa aos estabelecimentos particulares pelo uso da plataforma. “Do público, não pretendemos cobrar nada, por duas questões; primeiro: a gente quer se tornar um serviço público para a comunidade, então não faz sentido cobrar; segundo, que cobrar envolve muita burocracia. Com o público, a gente só precisa de uma parceria”.
Um dos primeiros parceiros do projeto foi o Hemocentro Regional de Santa Maria. Segundo os estudantes, outros quatro projetos semelhantes haviam sido apresentados ao Hemocentro, localizado no bairro Nossa Senhora das Dores. Apesar do ceticismo inicial causado pelas experiências anteriores, o Hemocentro abraçou a ideia. Hoje, Carla Tatiana dos Santos Coelho, 40, diretora da instituição, fala com entusiasmo da parceria:
“Nesse momento onde uma grande parcela da população vive conectada, essa plataforma veio cobrir uma lacuna na captação de doadores de sangue. Ela aproxima o Hemocentro às pessoas, e vai direto no foco, pois leva aos doadores específicos os pedidos que fazemos”.
Para impulsionar o desenvolvimento da plataforma, um programa de financiamento coletivo foi lançado na web. O dinheiro coletado foi utilizado para custear a primeira fase do projeto, além da produção de um vídeo de apresentação, que ajudou o grupo a ganhar visibilidade. O primeiro investidor externo foi o pai de um dos estudantes e, no início de maio deste ano, um grupo de empresários de Santa Maria realizou uma parceria com a equipe do Hemotify, oferecendo suporte financeiro e expertise em saúde, gerenciamento e marketing. Concebido para ser um “presente” para Santa Maria, segundo Fernando, o Hemotify conta atualmente com cerca de duas mil pessoas e 13 hemocentros já cadastrados. A expectativa é que, em, breve todas as regiões do país tenham doadores e instituições conectados.