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Semear causas, colher vivências



Claudine Friedrich – claudinefriedrich@hotmail.com
Tainara Liesenfeld – tainara_ll@hotmail.com

 

“Foi uma oportunidade de conhecer gente nova e muito bacana e, principalmente, de sair da bolha universitária em que vivemos para experimentar um pouco da realidade do mundo lá fora, através da extensão que tanto falta em nossos currículos”.Essa é a percepção do estudante de Relações Públicas da UFSM, Mateus Klein Karling, que participou neste ano do 12° Estágio Interdisciplinar de Vivência (EIV). Mesmo pouco conhecido na Universidade, esse projeto de abrangência nacional é aberto para todas as áreas de ensino e possibilita a geração de conhecimentos múltiplos, que os estudantes levam para além da sala de aula.

O evento acontece durante das férias de verão e tem como objetivo inserir universitários em assentamentos rurais, a fim de aproximar a realidade do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra ao meio acadêmico. Originado de movimentos estudantis, o EIV tem um viés político e social, com o intuito de compreender a questão da terra e das famílias que tiram seu sustento da agricultura.  Dessa forma, as atividades de estágio estimulam a consciência crítica e, ao oportunizar a inclusão dos estudantes na rotina dos assentamentos, propiciam um maior conhecimento de mundo.

As atividades de extensão do estágio começaram na década de 1980, através da Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB), quando houve uma retomada dos movimentos sociais e também da luta agrária no processo de redemocratização. No Rio Grande do Sul, as ações começaram apenas em 1990 e a Universidade Federal de Pelotas foi a precursora.  Estudantes da UFSM participaram na UFPEL em 1998 e, no ano seguinte, implantaram em Santa Maria.

As primeiras edições do estágio no país foram restritas ao curso de Agronomia, fato que o difundiu mais nas ciências rurais das universidades. No município, o EIV é coordenado pelo professor Pedro Selvino Neumann, do Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural. Mesmo sem o enfoque na organização das edições, a coordenação é responsável pelo encaminhamento de projetos para aquisição de verbas e o gerenciamento das atividades realizadas pelo grupo.

Diante da necessidade de se discutir a realidade rural sob as mais diversas perspectivas e gerar debates mais profundos, o Estágio passou a ter caráter interdisciplinar, abrangendo todos os cursos, com participação efetiva dos diretórios acadêmicos. Para que se tenha um processo educativo mútuo, a organização e a seleção de estagiários fica a cargo da Comissão Político-Pedagógica (CPP), que é composta por estudantes que já participaram do Estágio. O grupo planeja os conteúdos da formação, que variam conforme a necessidade e o momento político vigente, como também o local de estudos teóricos e os assentamentos onde acontecem as vivências. Ainda há o apoio da FEAB, da Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal e do Diretório Central dos Estudantes (DCE).

         Cada estágio é dividido em três etapas:

–       Preparação/Formação: cinco dias de estudos em sedes de assentamentos, com oficinas, seminários e grupos de discussão sobre economia, política, histórico da questão agrária e o papel atual dos movimentos sociais.

–       Vivências: quando os estudantes são distribuídos nos assentamentos de reforma agrária do Rio Grande do Sul, a maioria situados na região metropolitana do estado. Nos dez dias de vivências junto às famílias rurais, os estagiários realizam atividades cotidianas do campo, e são orientados a não fazer intervenções extremas no meio onde ficam instalados.

–       Socialização das Vivências: período de reflexão, troca de experiências e finalização dos estudos, que dura em torno de três dias.   

 

                        A autonomia estudantil na organização do EIV tem tido efeitos positivos. A acadêmica do terceiro semestre de Psicologia da Unifra, Estefânia Borela, que também participou do EIV em 2015, afirma que “a organização é construída de estudante para estudante. Todos se doam de uma forma incrível, abdicam do tempo e das férias porque acreditam na causa e lutam por ela”. Mesmo não sendo aluna da UFSM, Estefânia diz que foi submetida ao mesmo processo de seleção dos demais estudantes. Para ela, estagiar nos assentamentos de reforma agrária estimulou um sentimento revolucionário, gerou um choque com a realidade e causou “um processo de transformação intenso e de muito amor”.

            Por ter forte ligação com questões sociais, os critérios de seleção de estagiários do EIV levam em conta a inserção dos estudantes nos movimentos estudantis, como Diretórios Acadêmicos, DCEs ou de agremiações com representação regional ou nacional. Há preferência por alunos de semestres iniciais e pela diversidade de cursos. Alunos de outros estados e países também podem participar se portarem uma carta de indicação da universidade de origem. O critério eliminatório é ter participado de outras edições do Estágio.

O pós-graduando em Extensão Rural, Marcelo Rauber, participou do EIV durante a graduação, em 2011, e posteriormente se tornou um integrante da Comissão Pedagógica. Para ele, o estágio orienta para a otimização do trabalho, com o diálogo entre alunos e trabalhadores. Além disso, Rauber explica que são trabalhados processos educativos mútuos. As bases das formações são próximas das teorias de Paulo Freire e estão fundamentadas no método pedagógico do Instituto de Educação  Josué de Castro, com a perspectiva de educar o indíviduo para que faça bom uso do seu tempo disponível.

Os princípios básicos apoiados na relação entre teoria e prática visam a formação integral do indivíduo e se fundamentam no trabalho coletivo, na gestão democrática e na organicidade. “O contato com a realidade é fundamental em todos os tipos de formação profissional. A ideia de colocar uma formação teórica entre quatro paredes está sendo cada vez mais questionada, porque ela não traz problemas, não traz necessidades, ela é uma formação que só transfere conhecimentos”, sublinha o coordenador do EIV, Pedro Neumann.

Por não ter como base uma didática acadêmica, o Estágio não é uma prática profissional. Contudo, as vivências geram conhecimentos técnicos sobre o meio rural que possibilitam aos futuros profissionais reconhecer seu papel na resolução dos problemas da sociedade. A integração, a quebra de preconceitos e, principalmente, a sensibilização são fatores que operam diretamente nos efeitos gerados nos participantes para despertar para questões sociais.

Quando questionado a respeito de qual seu aprendizado, o estudante de Agronomia da UFSM, Eduardo Perkovski, afirma: “O Estágio me proporcionou uma nova visão de sociedade que pensa e é crítica, que não fica parada frente às dificuldades, pessoas que não seguem um fluxograma, que escrevem suas próprias histórias”. O acadêmico lembra que na plenária final, foi questionado sobre a aprendizagem, quando respondeu: “Cara, o EIV mudou minha vida”.TXT

 

            Bastidores.TXT

 

A vontade de divulgar o Estágio Interdisciplinar de Vivências se deu pela temática, que tem importância tanto acadêmica quanto social. A Reforma Agrária vem sendo pautada no Brasil desde o final da década de 70, mas a maioria das pessoas não tem conhecimento sobre as reivindicações dos trabalhadores sem terra, menos ainda da realidade em que eles vivem e do contexto que gerou essa situação. Nesse sentido, o EIV vem com a proposta de “abrir os olhos” dos estudantes e proporcionar uma formação crítica e humana em relação aos movimentos sociais.

Todos os entrevistados se mostraram entusiasmados e dispostos a contar sua história de participação no Estágio. Ouvimos relatos emocionantes e a nossa experiência na construção da matéria não foi diferente: nos apaixonamos pelo EIV também.

 

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