Arianne Teixeira de Lima – atllink@hotmail.com
Paola Spencer – paolacspencer@gmail.com
Desde a fundação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), antigos servidores já moravam nos imóveis da Casa do Estudante. Havia, naquela época, essa disponibilidade, pois sobravam vagas de apartamentos nas locações estudantis.
Atualmente, não existe mais essa facilidade. Em 2007, foi criada a Resolução n° 014/07 com o objetivo regulamentar a concessão para os servidores técnico-administrativos que pretendem morar em um dos apartamentos do bloco 51. O processo começa com a solicitação de vaga por parte de qualquer departamento para um funcionário da Universidade. Este pedido, feito por parte dos Centros, é realizado somente caso haja necessidade de manter o funcionário em plantão no seu trabalho. É o caso dos 32 servidores que hoje residem na Casa dos Funcionários. Boa parte dos moradores trabalha no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), no Centro de Ciências Rurais (CCR) e também na Rádio Universidade. Logo após a solicitação do Centro, se houver disponibilidade de algum apartamento, o servidor faz a leitura da Resolução e assina um contrato que detalha todos os gastos que ele assumirá a partir do momento em que começar a morar na Casa dos Funcionários. A moradia não é gratuita. Ao contrário dos estudantes, os funcionários pagam taxas de energia elétrica, água e aluguel. Porém, os valores são mais acessíveis que os cobrados comercialmente nos apartamentos para locação no centro da cidade, por exemplo.
Na década de 90 foi criada a Comissão dos Moradores, na qual os técnico administrativos podem fazer pedidos para conservação e manutenção caso haja algum problema nos apartamentos do bloco. Para isso, existem taxas a serem cobradas dos servidores que são revertidas em melhorias nas instalações das residências. De acordo com o coordenador de Obras e Planejamento Ambiental e Urbano da Pró-reitoria de Infraestrutura (Proinfra), Edison Andrade da Rosa, os funcionários têm o direito de solicitar serviços caso existam problemas nos apartamentos. Mas se for preciso mudar uma simples lâmpada, por exemplo, isso é custeado pelo próprio servidor. Já para o estudante, caso precise trocar uma lâmpada, não há a obrigação de arcar com esse tipo de despesa.
Apesar da necessidade de moradia para vários servidores, a Universidade e a Proinfra desejam, segundo Edison da Rosa, que ao se aposentar, cada servidor faça um pedido de desocupação do imóvel, pois o objetivo é transformar todos os blocos em casas destinadas aos acadêmicos. Andrade explica ainda que a demanda de estudantes que ingressam na UFSM cresce a cada ano, e isso exige espaço e melhorias nas moradias para acomodar os novos acadêmicos. Por conta disso, a lista dos pedidos dos Centros para adquirir vaga em apartamento para um técnico-administrativo deve ser descartada.
É importante ressaltar que o direito que cada funcionário tem de solicitar moradia na Universidade para trabalhar no plantão no seu Departamento não foi uma reivindicação dos servidores. Na verdade, trata-se de um direito garantido desde os primeiros anos de fundação da UFSM.
A vivência no Campus
Ao total, 32 funcionários moram no último prédio da Casa dos Estudantes nos blocos 51, 52 e 53. São muitos os motivos pelos quais cada funcionário abandonou sua antiga casa e, junto com sua família, veio residir na UFSM. Porém, uma delas é comum a todos: a necessidade de morar perto do trabalho.
Na busca por uma vaga no Bloco dos Moradores, funcionários do Centro de Ciências Rurais, do Hospital Universitário, da Proinfra e do Centro de Tecnologia decidiram mudar suas vidas e a própria rotina. Aceitaram estar à disposição dos setores em que trabalham, 24 horas, como fez o diretor da Rádio Universidade, Celso Franzen. Morador há dois anos do local, Franzen se tornou encarregado de ajustar o sistema de Rádio em caso de quedas de luz, devido à falta de funcionários para essa função. Após encaminhar a solicitação de imóvel para a Proinfra, passou a residir com sua esposa e os dois filhos no bloco 51.
Ele descreve a movimentação no bloco como calma e tranquila. Opinião semelhante é a do vigilante Valcenir Militz, que aproveita para destacar o lado bom de morar na Universidade: ‘’Assar uma carne na churrasqueira no final de semana e conversar com os amigos’’. Antes de residir na Instituição, há três anos, Millitz trabalhava na extensão da Universidade em Frederico Westphalen onde, segundo ele, a moradia oferecida era maior.
Como os horários são definidos a partir de uma escala, o vigilante explica que pode, assim como os demais, se ausentar nas datas comemorativas. Entretanto, o dever principal do funcionário que mora nas dependências da Instituição é sempre estar à disposição da Universidade. Pensamento reforçado pela recepcionista do Husm, Marlise Flores Pakaiser.
Casada com Altair Lucas Pakaiser, também funcionário da UFSM, Marlise argumenta que, para ela, uma das melhores coisas de morar na Universidade é a segurança que o local proporciona, além de ser prático para os filhos que estudam na instituição. Ex-moradora do Passo da Areia, Marlise lembra do dia em que surgiu uma vaga no bloco e eles foram residir no local, onde estão há três anos.
Ao contrário do que muitos pensam, o barulho dos aviões da Base Aérea não é o que mais incomoda os moradores. Segundo Marlise, todos já estão acostumados. O principal problema é o excesso de animais abandonados pelo Campus e que permanecem perto dos prédios.
A questão dos animais também é lembrada por Franzen e Militz: ‘’As pessoas que não querem seus bichinhos de estimação vêm para a Universidade e os soltam aqui. Na frente do prédio, devem ter oito ou nove cachorros que ninguém é dono e ficam por aqui. Isso acaba incomodando’’ diz Franzen.
Os cuidados com a moradia e com o espaço de lazer são pensamentos recorrentes dos servidores que, como inquilinos, exigem seu bem-estar dentro da instituição. Quem conhece o bloco dos moradores leva tempo para acreditar que se trate de um prédio da Universidade. As crianças brincam, as roupas secam no varal, os cachorros correm e as mulheres conversam debaixo de algumas árvores. Elementos que nos remetem ao bom convivio com vizinhos.
Bastidores da .txt
Nossa ideia de apuração buscava mostrar o contexto social, ou seja, como vivem os funcionários que residem no Campus da UFSM. E também relatar o contexto jurídico, de como é concedida à moradia para os servidores.
Primeiramente, fomos ao bloco 51 para entrevistarmos alguns moradores. Ficamos a procura de alguém que se disponibilizasse a dar uma entrevista durante uma tarde. Conseguimos falar com as esposas de alguns funcionários e também encontramos servidores que estavam saindo de seu trabalho.
Já no contexto jurídico, conversamos primeiro com um dos moradores da Casa dos Funcionários, o sonoplasta do curso de Comunicação Social, Otácilio Neto, que nos sugeriu procurar o Coordenador de obras e planejamento urbano e ambiental da Proinfra, Edison da Rosa, para que esclarecesse nossas dúvidas quanto às questões jurídicas. Na conversa com Edison, ele nos explicou como os centros fazem o pedido para adquirir um apartamento para seu servidor e nos mostrou a resolução que cada funcionário que pretende morar no bloco 51, deve ler antes de assinar o contrato.
Apesar de termos concluído toda a matéria a tempo, tivemos dificuldades principalmente em encontrar contatos que poderiam nos fornecer informações. Houve algumas ligações perdidas e outras entrevistas desmarcadas, mas no final conseguimos atingir o nosso objetivo inicial.