Israel Orlandi (acervo pessoal)
Em seguimento à série de entrevistas com profissionais egressos do curso de Produção Editorial da UFSM e que atualmente estão no mercado editorial, a O QI conversou com Israel Orlando, acadêmico da segunda turma do curso de Produção Editorial. “Isra”, como é conhecido, fala sobre a vivência no curso, o impacto da graduação em seu processo criativo e como ele desenvolve sua atividade profissional atual.
Isra se formou em 2014, tendo participado da produção da primeira edição da O QI – Revista Experimental do Curso de Produção Editorial da UFSM, volume 01, 2013. “Foi quase que um período de teste, modelações do curso”, ele relembra. “A gente teve muitas conversas com o pessoal da coordenação. Como a gente era os ‘betatesters’, vamos dizer assim, a gente pode tentar trazer muitas ideias”. Apesar de saber que a base no curso apresentava uma incursão intensa na editoração impressa, Isra relata que teve maior afinidade com o ambiente digital. “Tentávamos trazer coisas que a gente via no mercado, algo que estava bombando. Vamos tentar trazer para dentro do curso, desenvolver isso e conversar sobre, ver se, de repente, faz algum sentido para as próximas turmas”. O entrevistado comenta, ainda, sobre como a experiência na graduação é decisiva para compreender a dinâmica do mercado de trabalho, e exemplifica com a sua própria história. “É muito importante, desde que você está na graduação, fazer o famoso networking. Tentar desenvolver a tua conexão com as pessoas dentro do curso. Uma vez eu estava trabalhando em uma produtora de Santa Maria, no final do ano, eles estavam dando workshop na Semana Acadêmica. No final do workshop, umas pessoas vieram me perguntar como que eu trabalhava lá, eu falei: ‘eu pedi, só isso’. E as pessoas não fazem isso às vezes, elas acham que precisam ter uma grande oportunidade”. Israel também destaca a relevância das bolsas, tão almejadas nesse período: “Quando eu me formei, eu já tinha algumas habilidades desenvolvidas através das bolsas. Isso me deu bastante afinidade com a área, e, também, responsabilidade”.
Quanto aos interesses temáticos, Isra relata proximidade com o campo digital. “Sempre tentei buscar essa parte de web, tudo que tinha essa convergência de site me interessava e eu tentava desenvolver”. Em um segundo momento, o marketing digital torna-se o foco: “Comecei a puxar mais a parte de anúncio, de tráfego pago. Nesse sentido, eu já sabia de site, e agora eu sabia como levar as pessoas até o site. Para mim, era o melhor dos dois mundos: eu conheço onde a pessoa vai comprar, e eu conheço como gerar tráfego para levar a pessoa até lá, (…) Foi algo que eu busquei por fora, mas que faz todo um complemento a tudo o que eu já aprendi”. Na opinião de Israel, a diversidade de temas deve ser bem analisada: “É importante ter uma visão generalista do negócio, mas focar em uma coisa só. Saber conversar sobre tudo, mas ser especialista em algo específico. Isso vai te diferenciar no mercado. O networking é o que manda no início, porque as pessoas normalmente precisam de alguém que está em volta para tocar a parte de marketing. Eu faço aquele marketing de outbound, jogar para o mundo os conteúdos para as pessoas verem que eu faço bem feito, que eu sei do que eu estou falando”.
Perguntamos sobre o processo criativo de Israel voltado ao webdesign e à fotografia, áreas em que ele também atuou. “A questão é a diferenciação. Hoje, ser fotógrafo é muito abstrato: às vezes, é difícil dizer para o cliente o porquê do valor do teu serviço, tem muitas variáveis ali. Vi que era muito empenho para pouco retorno, a fotografia não faz mais sentido neste momento. Mas é um ramo muito interessante, desde que você esteja no lugar certo para fazer disso a sua vida, o seu serviço. Eu ia muito para eventos, casamentos, formaturas, mas a parte artística, de ensaio, era mais complexa e difícil de desenvolver. Foi um caminho natural de experimentação”.
Também perguntado sobre como o processo criativo influencia no setor do marketing digital, Israel esclarece que “A questão da criatividade é, às vezes, não ficar só preso à sua área. (…) Se eu ficar só na área de e-commerce, vou olhar coisas repetitivas ou muito padronizadas, que não vão mais chamar a atenção, estão muito batidas”. Ele elenca a abertura do profissional como um componente importante para se aprimorar: “Tentar causar alguma coisa diferente, quebrar um padrão. Fazer uma mistura aí de linguagem”. Ele exemplifica: “Eu tenho um cliente, no ramo de joias, daqui a pouco vejo algo completamente de outra área e penso: por que que a gente não adapta essa linguagem para o mundo das joias? Acredito muito em tentar variar. Testar é legal”. Isra apresenta um contraponto mais realista: “Às vezes, conseguir passar essa visão para quem é o empreendedor é difícil. Eles falam ‘Não, eu não quero mudar, não quero testar’. Então é uma visão de quem está ali na parte de marketing e comunicação de tentar fazer com que o empresário enxergue isso”. Israel também pontuou como consegue equilibrar a criatividade no desenvolvimento de estratégias com prazos: “Sempre tem que ter uma conversa, porque depende muito de estar alinhado com quem você está prestando o serviço. Ter alinhamento, para cumprir com o que você está prometendo”.
As constantes inovações tecnológicas também devem ser levadas em conta, para complementar métodos tradicionais: “Ficar antenado no que está rolando, até por uma questão de adaptação de linguagem. Antigamente, a gente não falava muito sobre os stories, e hoje os stories são praticamente o carro chefe do Instagram. Mas, a gente precisa adaptar, porque o formato de mídia é diferente do feed para os stories”. “Normalmente eu utilizo o Google Trends para ver o que está sendo falado, o Pinterest, por uma questão de estética, de misturar elementos. Daqui a pouco, aparece um negócio de decoração que eu nunca tinha pensado. Isso me dá uma ideia de um post, por exemplo. Penso que o processo criativo seja essa visão de testar”, ele constata.
Finalizando a conversa, perguntamos as expectativas de Israel para o futuro das áreas em que ele atua. “Cada vez mais, acredito que a comunicação vai ser necessária. Hoje, tudo é comunicação: o meio digital é comunicação. De uma certa forma, isso me indigna porque a gente deveria estar pautando o que está sendo falado, e às vezes não fazemos isso. É necessário ter essa postura. Os empresários querem ver a comunicação ‘conversando’ com a parte de comércio, de diferenciação das empresas”. Israel conclui com uma reflexão sobre sua trajetória: “É tão rápido, mas é muito legal olhar para trás e entender o que foi importante para mim. Se isso fizer diferença para uma ou duas pessoas, eu acho que já vale a pena”.