Em março de 2024, Frederico Westphalen passou por alagamentos urbanos, quando choveu 78mm em menos de 24 horas e cerca de 70 pessoas ficaram fora de casa, conforme notícia do Portal G1. Janete Piovesan, moradora do Bairro Aparecida, na rua Muniz Reis, foi uma das pessoas afetadas. Antes do alagamento que aconteceu em sua moradia, eram ocupados os dois andares do sobrado. No andar acima do nível da rua ficava sua loja de confecções e, no andar abaixo do nível da rua, ficava a moradia da família. Mas no dia 8 de março, o piso inferior foi completamente inundado, quase todos os móveis ficaram danificados, o muro que rodeava a casa desmoronou, a garagem ficou comprometida e a casa teve que ser interditada pela Defesa Civil.
Segundo a proprietária, devido ao grande volume de chuva e ao escoamento precário, a via responsável pela drenagem não foi suficiente para armazenar a grande quantidade de água. Devido a esse problema, o bueiro transbordou e a água acumulou na casa de Janete e nos seus arredores. Nas proximidades, outras seis moradias foram afetadas, sendo que uma delas, jamais voltou a ser ocupada. A própria Janete teve que encontrar uma nova moradia em outro bairro, um lugar sem riscos de alagamentos.
“E até agora, falar desse assunto, pra mim, até é bem complicado, porque fico receosa. Assim, quando arma uma nuvem no céu, tu já tá com medo da chuva. Então, fica aquele trauma’’, salienta Janete. A costureira entrou com um processo na justiça, porque os bueiros que deveriam escoar a água da chuva são de responsabilidade da prefeitura municipal e teriam prevenido os danos que afetaram as moradias dos cidadãos caso estivessem melhor estruturados e se fossem desentupidos regularmente.
No mês de abril, o governador do estado do Rio Grande do Sul (RS) Eduardo Leite homologou a situação de emergência no município de Frederico Westphalen por meio do Decreto n°57.586. O documento deixa explícito os sete bairros urbanos e as oito linhas da área rural com riscos de alagamentos. O bairro onde residia Janete estava presente na lista que cita as áreas urbanas em situação de alerta.
Outro acontecimento que afetou a cidade ocorreu na primeira semana de maio de 2024. A Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil (Compdec) e sua equipe técnica foram informadas pela prefeitura de Frederico Westphalen de que as chuvas intensas que afetaram a região metropolitana de Porto Alegre teriam consequências no município, localizado a 430 km de distância da capital.
Conforme laudo técnico nº 04-2024 feito pela Compdec de Frederico, as chuvas de 500mm agregadas às estruturas antigas da cidade, causaram danos a quatro pontes, nas linhas Pedras Brancas, Santos Anjos, São Brás e Ponte de Pardo. Também foram danificados dois bueiros nas linhas Pedras Brancas e Boa Esperança e dois taludes nas linhas 21 de Abril e Ponte de Pardo.
A defesa civil de Frederico e o engenheiro civil da prefeitura fizeram um levantamento com georreferenciamento para comprovar o estrago e solicitar auxílio do governo do estado. Além disso, segundo o coordenador municipal de Proteção e Defesa Civil, Gilberto de Souza, a coordenadoria também respondeu questionários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da Caixa Econômica Federal e do Ministério Público para provar a situação emergencial que o município enfrentava naquele momento.
Os representantes da Defesa Civil do Rio Grande do Sul estiveram no município, para auxiliar na montagem do processo de busca por recursos em instância nacional, na primeira semana de junho.
Em relação aos futuros possíveis desastres, há um plano de contingência municipal, que tem como ideia central auxiliar órgãos públicos a enfrentar essas ocorrências. O documento aborda de forma separada as áreas atingidas, seus respectivos lugares com mapeamento, as residências com mais riscos de alagamentos e deslizamentos, nomeia com termos técnicos o que aconteceu em cada situação e como a Defesa Civil deve agir.
COMO PREVENIR OS EVENTOS CLIMÁTICOS INTENSOS
Conforme a professora Malva Andrea Mancuso, que é doutora em Hidrogeologia e Recursos Minerais, os eventos naturais intensificados que foram presenciados têm como causa inicial o aquecimento global. O aumento de gás carbônico na atmosfera, causado por grandes fábricas, produção de gasolina, queimadas em áreas de matas, entre outros, contribui para a intensificação do efeito estufa que, como seu nome indica, tem como principal consequência a alteração da temperatura mundial. Algumas das consequências desconhecidas pela maior parte da população são as mudanças nos períodos de chuvas e secas e o redirecionamento dos ventos, assim como foi observado no RS no primeiro semestre de 2024 .
Em termos de ações a nível municipal, o que pode ser feito é a identificação de solos que são naturalmente inundados, o gerenciamento das ocupações de lugares seguros para se morar e a criação de comitês de bacias hidrográficas. A identificação e o gerenciamento serviriam para o conhecimento das prefeituras sobre bairros e ruas que sofrem de inundações, para que possam auxiliar os moradores a não construírem casas naquele local. Já os comitês servem para possibilitar a identificação e a solução de problemas dentro de uma bacia hidrográfica, isto é, dentro de um conjunto de terras delimitadas pelos divisores de água e drenadas por um rio principal, explica a especialista.
Segundo Malva, em nível global, o combate às causas da mudança climática depende de que aqueles que têm poder econômico mudem suas políticas de produção e de ganho de capital, o que é algo difícil. As indústrias que vêm produzindo e emitindo gases, por exemplo, têm dificuldades de mudar o seu método produtivo e obter o mesmo lucro, explica. A professora enfatiza: “É muito difícil, é uma questão que envolve grandes empresas e grandes inversões. É difícil que isso seja revertido de um momento para o outro ou em poucos anos”.
Texto escrito por Emylli Fontoura e Júlia Tahara