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Espiritismo em Frederico Westphalen

A Sociedade Espírita Allan Kardec funciona há 31 anos na cidade com ações religiosas e sociais



Chegamos à SEAK (Sociedade Espírita Allan Kardec), no dia 9 de outubro, às 19h da noite, para conhecer a casa e a religião. Ao entrarmos, nos deparamos com uma sala de palestras, com cadeiras enfileiradas, uma mesa e um projetor. Nessa sala, também havia um aparador com duas pequenas caixas, papel e caneta, para que os frequentadores da casa pudessem deixar mensagens para os seus entes queridos, encarnados (vivos) ou não. Do lado direito, uma cozinha repleta de garrafas de água, recebidas como doação. Um pouco mais à frente, outras salas, sendo uma delas a biblioteca e a outra a sala de passe.

Fachada da Sociedade Espírita Allan Kardec, localizada na Rua Maurício Cardoso | Foto: Sarah Kliman

Nesse dia, entrevistamos Katia Zardo, de 45 anos, a atual presidente da Sociedade Espírita Allan Kardek. Ela é docente do Curso Técnico em Agropecuária do IFFar (Instituto Federal Farroupilha) e moradora de Frederico Westphalen há 10 anos. Katia nos contou que, de sua família, somente ela e a filha são espíritas, e que começou a estudar o espiritismo por não ter conseguido encontrar as respostas que queria no catolicismo. Diferentemente deste, o espiritismo, às vezes designado por “doutrina” e outras por “religião”, tem uma composição tríplice: um viés científico, um viés filosófico e um viés religioso, segundo o livro Estudo sistematizado da doutrina espírita: programa fundamental, publicado pela FEB (Federação Espírita Brasileira), em 2013.

Às 20h, teve início a palestra do dia, cujo tema era obsessão e desobsessão, isto é, a influência contínua que espíritos negativos podem exercer sobre as pessoas e os recursos espirituais que buscam reestabelecer o equilíbrio dos envolvidos. Wolmar Trevisol, fundador da SEAK e palestrante do dia, fez uma apresentação de slides e explicou os tópicos, com a participação esporádica da plateia.

Pouco antes da sessão terminar, o palestrante nos deu o Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, obra fundamental da doutrina. Trevisol pediu que, após o término da leitura, o livro fosse repassado adiante, a fim de que outra pessoa tivesse acesso aos ensinamentos contidos na obra.

Sala de palestras da SEAK | Foto: Amália Miura

Depois da palestra, foi realizado o passe, quando os passistas, membros do grupo mediúnico, ergueram as mãos em direção às nossas cabeças no intuito de renovar as energias do grupo. No espiritismo, a mediunidade é sintonia e troca de experiência entre espíritos desencarnados e encarnados. “Não temos santos ou rituais. Nossa prática é pautada na caridade e na fraternidade”, explica Trevisol.

A prática do passe aconteceu no mesmo ambiente da palestra, já que, nesse dia a sala de passes estava ocupada por doações.

De acordo com Katia, para um local ser considerado uma casa espírita, é necessário o estudo da religião, o atendimento ao público e a ação social. O estudo da religião se baseia na leitura do Livro dos Espíritos e do Evangelho, que, para os espíritas, não se limita às palavras de Jesus em seu contexto histórico, mas se estende ao seu ensinamento mais profundo e universal. Já o atendimento ao público visa orientar e acolher quem busca ajuda. Por fim, a ação social consiste em promover a caridade e o bem-estar social, as doações para entidades assistenciais do município que lotaram a sala de passes do Seak.

HISTÓRIA DA INSTITUIÇÃO

Fundada em 1993, a SEAK é uma das instituições espíritas mais antigas da cidade, apesar de estarem no endereço atual há apenas um ano. A casa é alugada e as despesas são pagas com a venda de livros e de pizzas, bem como com doações feitas por sócios. O estabelecimento onde funciona a SEAK, atualmente localizado na Rua Maurício Cardoso, nº 997, é aberto às quartas-feiras, a partir das 19h30 para as sessões.

Em Frederico, de acordo com o Censo de 2010, existem 92 pessoas espíritas, porém, a SEAK tem, em média, 15 associados. O IBGE ainda não publicou os dados sobre religião obtidos no Censo de 2022.

ESPIRITISMO NO BRASIL E NO RIO GRANDE DO SUL

Segundo Sinuê Neckel Miguel, no artigo Espiritismo fin de siècle: a inserção do Espiritismo no Rio Grande do Sul (1896-1898), publicado em 2009, na Revista Brasileira de História das Religiões, a doutrina espírita chegou ao país logo após o lançamento do Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857, atraindo a atenção de intelectuais e pessoas em busca de respostas para questões espirituais e existenciais. A doutrina, aos poucos, ganhou mais adeptos no país, especialmente entre grupos intelectuais. Em 2010 no Brasil, havia 3.848.876 pessoas praticantes de espiritismo no Brasil, de acordo com o IBGE.

No entanto, no final do século 19, ela ainda era vista com desconfiança em várias partes do país, como no Rio Grande do Sul, onde o espiritismo era considerado por muitos uma ameaça à saúde mental e à ordem social. Aos poucos, a doutrina passou a ter uma imagem de filosofia racional e científica legítima. A publicação da eRevista Espírita e a criação de grupos e sociedades espíritas também foi um passo importante para a consolidação do movimento. Hoje o Rio Grande do Sul tem 343.784 adeptos ao espiritismo, conforme dados de 2010 do IBGE.

Texto escrito por Amália Miura e Sarah Kliman

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