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Chibo: vida na fronteira

O curta-metragem relata a história de uma família que vive às margens do Rio Uruguai, na fronteira entre Brasil e Argentina, e que sobrevive realizando a travessia de mercadorias



O documentário Chibo produzido em Tiradentes do Sul, no estado do Rio Grande do Sul, e El Soberbio, na província de Misiones, na Argentina, conquistou o prêmio de melhor curta gaúcho no Festival de Cinema de Gramado de 2024, trazendo visibilidade e reconhecimento não só para a obra, mas para a região Noroeste do Rio Grande do Sul. O curta-metragem retrata uma prática comum na fronteira entre o Brasil e a Argentina, o chibo, uma atividade comercial que envolve a travessia clandestina de mercadorias. Como nessa região não há ponte ligando os dois países, as travessias são feitas em pequenos barcos ou pela balsa. A palavra “chibo” vem do espanhol “chivo”, que também significa “ato ilícito”.

Daniela atravessa o Rio Uruguai, entre o Brasil e a Argentina, junto com o seu pai | Foto: Divulgação

O documentário, além de oferecer um retrato da realidade de uma família que vive às margens do Rio Uruguai, aborda também a vida dos chibeiros, aqueles que se arriscam transportando mercadorias para sustentar suas famílias. Os chibeiros são figuras conhecidas nas áreas de fronteira entre Brasil e Argentina. São pequenos contrabandistas, que cruzam mercadorias de um lado para o outro, aproveitando a variação dos preços e do câmbio relativo. Produtos de limpeza, cigarros, vinho, comida e gasolina estão entre os principais.

O curta-metragem Chibo tem duração de 18 minutos e foi dirigido por Gabriela Poester e Henrique Lahude. Henrique nasceu em Encantado, no Rio Grande do Sul (RS). É cineasta e produtor cultural, formado em Realização Audiovisual pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e especialista em Desenvolvimento de Projetos para Cinema e TV pela EICTV de Cuba.

Já Gabriela, é nativa de Cachoeira do Sul (RS), é formada em Direção Teatral pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com foco em experiências imersivas e relação interativa com o espectador. Também tem formações como atriz pela Oure International College, na Dinamarca (2008 a 2009), pela Casa de Teatro de Porto Alegre (2011 a 2012) e em Teatro Digital pela Teatro Em Mov Digital (2020).

Localização da fronteira entre El Soberbio (Argentina) e Tiradentes do Sul (Brasil), onde o documentário foi gravado | Foto: Google Earth/Divulgação

Os dois se encantaram pela região Noroeste do RS durante visitas realizadas em 2013, e essa relação com o local foi fundamental para a obra. “Desde 2013, quando a gente frequentava a fronteira entre Tiradentes e a Argentina, o fato de visitar lugares da região e conhecer a história, isso ficou um pouco no meu imaginário e criou muitas ideias para poder pensar em fazer histórias”, destaca Henrique.

Henrique Lahude e Gabriela Poester são figuras de destaque em eventos no Noroeste do estado e participam ativamente de projetos regionais voltados ao audiovisual, como o Cidade Cinematográfica e o Festival de Cinema, ambos na cidade de Três Passos. Em 2023, Henrique foi homenageado na 6ª edição deste festival, por sua contribuição local e pelo impacto de seu trabalho na forma como a cidade de Três Passos se relaciona com cinema.

Inspirado pelas histórias do interior gaúcho, Henrique fundou a produtora Êa Êa Apepê em 2015, com o objetivo de realizar produções, principalmente, fora de Porto Alegre e focadas nas realidades regionais. A Êa Êa Apepê busca dar voz às narrativas do interior do Rio Grande do Sul, destacando as culturas e cenários locais, distantes da capital. O documentário Chibo reflete essa proposta, trazendo uma visão imersiva sobre as vidas que se entrelaçam ao longo da fronteira entre Brasil e Argentina, na beira do Rio Uruguai.

A JORNADA DO DOCUMENTÁRIO

Henrique Lahude e Gabriela Poester recebem o prêmio de melhor filme por Chibo | Foto: Cleiton Thiele

Segundo Henrique Lahude, a ideia de Chibo nasceu de uma busca por histórias que representassem a vida na fronteira. O projeto foi selecionado no Edital Entre-Fronteiras em 2019, realizado pelo estado do Rio Grande do Sul, através do Instituto Estadual de Cinema (Iecine), em parceria com a província de Misiones e o Instituto de Artes Audiovisuais de Misiones. O edital selecionou quatro propostas brasileiras e quatro argentinas, com o objetivo de explorar histórias da fronteira. Inicialmente, o enredo seria sobre um casal de jovens, uma brasileira e um argentino, que se relacionavam apesar da distância e das diferenças entre os dois países. No entanto, o término desse relacionamento, pouco antes das gravações, levou a uma reformulação da história.

Com o impacto da pandemia, o projeto teve que ser adaptado, mas, ao longo de 2021 e 2022, foram produzidos três curtas-metragens que abordam o tema da fronteira, sendo Chibo um deles. O edital exigia que as produções tivessem profissionais argentinos e brasileiros, abrangendo ambos os lados da fronteira. O foco do filme mudou, então, para a prática do chibo e o cotidiano da família fronteiriça. “A ideia do filme é mostrar a transição da vida dessa adolescente para a fase adulta”, ressalta Henrique, destacando que o novo enredo buscou capturar a essência da vida nas margens do Rio Uruguai. “O chibo é o plano de fundo onde essa menina está inserida. O curta não tem como objetivo fazer uma denúncia sobre a ilegalidade, mas sim retratar o cotidiano dessa jovem e de sua família”.

A trama do filme foca em Daniela, personagem principal do documentário, uma jovem que vive perto da divisa entre o Brasil e a Argentina e que enfrenta os dilemas da transição para a vida adulta, convivendo com a atividade do chibo. “O primeiro contato com a Dani foi com a Escola Estadual de Tiradentes, onde sempre tivemos uma relação muito boa e realizamos diversas oficinas de cinema. Foi pedido à direção da escola que conversasse com diferentes alunos para conhecer histórias da fronteira. Conhecemos várias histórias fantásticas, que poderiam originar diversos filmes maravilhosos. Foi então que conhecemos a Dani, que tinha um relacionamento com um ‘ficante’ argentino, e nos encantamos com essa ideia”, relembra Henrique.
Além disso, foi criada uma intimidade com a família da Daniela, que deu naturalidade em frente às câmeras, com gravações realizadas tanto de dia quanto de noite, totalizando cerca de 20 dias de filmagem com uma equipe pequena.

IMPORTÂNCIA PARA O NOROESTE GAÚCHO

Cartaz do documentário Chibo | Foto: Divulgação

Henrique destaca que a vitória de Chibo no 52º Festival de Cinema de Gramado evidencia a importância do documentário como um catalisador cultural para a região Noroeste do Rio Grande do Sul. “É uma região rica em potencial narrativo, com sotaques, paisagens e costumes próprios, que oferece um vasto campo para a produção cinematográfica”, afirma o produtor.

A conquista do prêmio no festival de cinema gaúcho é um reconhecimento ao local e uma oportunidade para fomentar ainda mais a produção audiovisual no interior do estado. O sucesso de Chibo incentivou o desenvolvimento de outros projetos na área. “A nossa equipe já está envolvida em novas produções, como um curta-metragem sobre o Salto do Yucumã, além de planejar um longa-metragem ficcional ambientado na região”, revela Henrique.

O curta-metragem é um marco para o cinema gaúcho e para a região, provando que, mesmo nas áreas mais remotas, há histórias valiosas que merecem ser contadas.

Texto escrito por Franck Kardorel e Raniele Quevedo de Lima

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