Futebol raiz
Do interior às capitais, campeonatos amadores reúnem apaixonados pelo esporte
Texto: Fillipe Orlando
Ilustração: Raquel Teixeira Pereira
Neste exato momento, em algum lugar do Brasil, há uma partida de futebol sendo disputada, faça frio, calor ou chuva. E em cada lugar, essa paixão ganha um nome: varzéa, baba, peleja, rachão e, o mais famoso deles, pelada.
O futebol amador sempre foi uma grande potência em todo Brasil. É também um meio de atrair olhares do mundo futebolístico profissional, abrindo a chance de um jogador chamar a atenção de clubes de maior expressão. Profissional ou amador, toda partida é levada a sério.
O secretário de esportes de Rodeio Bonito (RS), Luan Oliveira, 31 anos, organiza campeonatos no município: “É muito importante incentivar o esporte, aprender a competir. E a gente consegue revelar jovens para o Brasil, para o mundo”, destaca ao relembrar o caso do Pedro Perotti, “que cresceu jogando bola conosco e hoje está na Chapecoense [time de Santa Catarina]. Já jogou no Japão, em Portugal”.
Muitos estados têm competições de futebol amador. No Estado, a Copa RS; em São Paulo, a Taça das Favelas, precedida pela Federação Paulista de Futebol Amador, que permitiam às equipes classificadas o direito de jogar a final no estádio do Pacaembu, local onde nomes como Pelé, Ronaldo Fenômeno e Romário já jogaram.
Na região norte do país, o Peladão movimenta o futebol amador há mais de cinco décadas. Neste ano, congrega mais de 400 equipes, divididas em quatro categorias: feminino, principal, master e peladinho. A cada edição, mais de 20 mil pessoas estão diretamente envolvidas, jogando ou atuando em outras frentes. É o maior campeonato amador do Brasil. Em 2010, teve 1211 times participantes, um recorde. Em 2009, o Peladão contribuiu para que Manaus (AM) fosse uma das 12 sedes da Copa do Mundo de 2014.
Crias da Varzéa
Para o Secretário de Esportes de Caiçara (RS), Elias da Rosa, 47 anos, o que chama a atenção das pessoas para assistir às competições é a rivalidade local e a emoção, além da chance de ver talentos emergentes em ação. Elias destaca também “o senso de comunidade que elas geram”.
Muitos jogadores famosos iniciaram nesses campeonatos. Um exemplo é o atual atacante do Flamengo, Bruno Henrique, campeão da Copa Itatiaia, em Minas Gerais, em 2012, que foi depois para o Real Madrid, na Espanha. Leandro Damião é outro. Em 2006, aos 17 anos, o atacante ganhava 30 reais por jogo para defender o Nós Travamos, time do Jardim Ângela, em São Paulo. Em 2009, assinou com o Sport Clube Internacional, de Porto Alegre (RS). Dois anos depois, foi o artilheiro do ano no Brasil. Outro exemplo é Edinaldo Batista Libânio, o Grafite. Aos 21, jogava em times amadores de Campo Limpo Paulista (SP) e de Várzea Paulista (SP). Aos 22, entrou para o futebol profissional, defendendo a Matonense. Passou por Santa Cruz, Grêmio, Goiás, São Paulo e Wolfsburg da Alemanha. Pela Seleção Brasileira, disputou a Copa do Mundo de 2010.
Esporte comunitário
Em Jaboticaba (RS), a Copa Adrenalina reúne equipes da cidade e da região. O organizador é Vitor Botton, 30 anos. “Acho que [a Copa Adrenalina] é o melhor passatempo dos habitantes daqui. É o maior evento do município em arrecadação financeira e participação de público, quatro mil pessoas, no decorrer da competição, que dura de dois a três meses, nas quintas-feiras à noite e nos domingos à tarde, com direito a almoço para garantir a diversão no evento.
Na região do Médio Alto Uruguai, há competições intermunicipais, como a Copa Amzop. Quando não há parceria com prefeituras, os campeonatos se organizam por conta própria e algumas pessoas cumprem mais de uma função. É o caso do secretário de esportes de Novo Tiradentes (RS), Volnei Alexandre, 38 anos, jogador e organizador. “Os campeonatos do interior são importantes porque reúnem as pessoas, alimentam amizades, movimentam as famílias e a economia”, explica. Sobre a experiência como atleta diz se sentir “parte de uma história, integrado com a comunidade”.
O secretário de esportes de Erval Seco (RS), Juliano Pilger do Amaral, 38 anos, acredita que os campeonatos amadores nunca deixam de empolgar. “É uma mistura de competição saudável, diversão em família e comunhão entre vizinhos. Une gerações e fortalece os laços comunitários”, afirma. O
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