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Carta ao leitor



Um sonho intenso, um raio vívido

Brasil. Vários em um só. Inteiro e partido ao mesmo tempo. Brasil. Por ser intenso e não ser óbvio, demanda movimento para observá-lo. É preciso sair do lugar e buscá-lo com todos os sentidos. Há vida transbordando em cada canto, em todo rincão. Um país que nasceu de um choque de civilizações, que caminha diverso. De passado escravocrata, do quase extermínio dos povos originários, da chegada de imigrantes, “do povo oprimido nas filas, nas vilas e favelas”, como canta Caetano Veloso. Há quem o veja multifacetado, e há quem olhe sempre pelo mesmo ângulo.

Para a Meio Mundo n. 11, buscamos algumas histórias não contadas, vozes e relatos de distintas experiências dentro de um Brasil imenso. Um Brasil de pessoas que viram as paisagens mudarem, viram o mundo se tornar outro até no próprio quintal. Um Brasil daqueles que revolucionaram povos, movimentaram culturas. Um Brasil que não pode esconder a violência, os preconceitos e as ausências. 

Esta edição é a primeira após dois anos de pandemia do novo coronavírus, tempo que não permitiu a construção das edições impressa e digital da revista. Mas voltamos. E nosso ponto de partida foi o mote Brasil Profundo. A partir dele, produzimos treze reportagens, duas delas fotográficas. Em meio às palavras, colocamos juntas peças distintas do rico mosaico que é o Brasil daqui, o Brasil estrada afora. 

A andança pelo interior está já na primeira reportagem. Iniciamos falando da produção cinematográfica no interior de Santa Catarina, sua importância social e cultural. Na mesma toada, vamos, a seguir, para a educação, entendida também como resistência, direcionando o olhar para a educação indígena.

No virar das páginas, dedilhamos outras pequenas grandes histórias. Está lá a senhora que viu mudar a cidade onde vive. Estão as mulheres que revolucionaram a comunidade onde moravam com uma impensada campanha sobre o uso da camisinha, as nuances de uma difícil vida das trabalhadoras do sexo. As memórias de luta também nos chegam pelos relatos de imigrantes, a gente que chega e vai, a gente que quer ficar. Mudanças. Elas também dão o tom da abordagem sobre preservação ambiental, falando das margens e de histórias do rio da Várzea, e da escravidão em Palmeira das Missões (RS). Também abordamos a busca pela educação na meia idade, a adoção de crianças e adolescentes e, na sequência, o interior expresso pelo seu futebol, na mistura do esporte com a história do maior artilheiro da história do campeonato gaúcho, Sandro Sotilli. Duas reportagens fotográficas terminam de compor o quadro da edição. As lentes vão em busca de experiências de vida, de educação e de sociabilidade com registros do sistema prisional de Frederico Westphalen e da agricultura familiar. 

Brasil é isso. Um pouco e um tanto de tudo isso. O Brasil são múltiplas pessoas. É correria, suor, ferida. Brasil é vida. E viver é inaugural, não podemos ensaiar antes. Podemos relatar depois. Viver é ter força, viver é boniteza, viver é um mundo. Que possamos viver todos os lados e peças desse Brasil. E que a Meio Mundo possa ajudar a compor mais e mais quadros com as múltiplas histórias da gente do nosso país. 

Boa leitura!

Nas reportagens, nomes com asterisco (*) são fictícios, preservando a identidade das pessoas. Os municípios não são, necessariamente, os mesmos das demais personagens.

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