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A de Aliades à luta LGBTQIA+



Conferência ministrada por Rita Von Hunty, drag queen, influenciadora digital e professora, marca ativismo institucional na Justiça Federal do Rio Grande Sul em apoio à causa LGBTQIA+

Patrick Costa Meneghetti

Santa Maria

Elegantemente vestida, inspirada no visual de uma professora de ciências humanas da década de 70, usando uma blusa marrom, turbante na cabeça e brincos de pérola da mesma cor, em tom de sobriedade, sentada na sala da sua casa, como se estivesse apresentando uma de suas tradicionais lives. Assim, Rita Von Hunty, ou Dona Rita, como prefere ser chamada, iniciou a Conferência “Diversidade de Gênero, Visibilidade LGBTQIA+”, promovida pelo Grupo de Trabalho em Direitos Humanos, Equidade de Gênero, Raça e Diversidades, da Justiça Federal do Rio Grande do Sul, em homenagem ao Dia do Orgulho LGBTQIA+, que é celebrado anualmente em 28 de junho.

Rita Von Hunty é a persona drag queen de Guilherme Terreri, ator formado pela UNIRIO e professor de língua e literatura inglesa formado pela USP. Hoje atua no cinema e no teatro, apresenta um programa de TV, Drag Me As A Queen, e possui um canal no Youtube com mais de 800 mil inscritos, Tempero Drag, além de ministrar cursos e formações que discutem, através dos Estudos de Cultura, temas centrais da vida em sociedade.

Quando abriu o microfone, Rita primeiro questionou, surpreendendo os presentes, já que em palestras e conferências organizadas pela Justiça Federal para os seus servidores, eles primeiro escutam e, somente ao final, tomam a palavra. Com um tom moderado de voz, ela perguntou: Por que não existe mês do orgulho hetero? O que significa gênero e sexualidade? Desde quando, por que e para que se faz esse debate? Existem pessoas heterossexuais e cisgêneros na sigla? A professora Rita, então, trabalhou o tema “Diversidade de Gênero, Visibilidade LGBTQIA+” através das respostas dadas pelo público, que pôde abrir o microfone para falar diretamente com ela, numa espécie de sala de aula invertida.

Ao explicar o significado da sigla LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queer, Interssexuais e Assexuais), Rita destacou a importância de reconhecer essa luta e se colocar como Aliada ou Aliado neste processo, atribuindo outros significados para a letra A da sigla. Ou Aliades, utilizando a linguagem politicamente correta, que tem como objetivo descrever expressões, políticas ou ações que evitam excluir ou marginalizar grupos que são vistos como desfavorecidos ou discriminados, especialmente grupos definidos por gênero, orientação sexual ou cor.

A servidora e também membro-fundadora do GT em Direitos Humanos da Justiça Federal do RS, Magali Dantas, fez a abertura da Conferência afirmando que “a visibilidade e a luta pela garantia dos direitos humanos das pessoas levando em consideração sua diversidade de gênero e de orientação sexual, apesar de ser um princípio constitucional, não é óbvio. Necessita de debate e movimento constante contra o preconceito, a discriminação, a exclusão e as violências físicas, psicológicas e simbólicas que são cotidianas”.

Para Magali Dantas, a presença de Rita Von Hunty em uma instituição conservadora como é a Justiça Federal do Rio Grande do Sul representa uma importante ação do GT, configurando o que ela chama de ativismo institucional, já que o próprio Grupo foi criado a partir da iniciativa dos servidores. A servidora enfatiza que o conservadorismo da Justiça Federal é comprovado com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), segundo os quais a maioria dos membros do Poder Judiciário brasileiro são homens, brancos, heterossexuais e católicos. A informação apresentada por Magali faz parte de um levantamento feito pelo CNJ em 2018 com base na resposta de 11,3 mil juízes, o que corresponde a 62% dos magistrados. 

A aprovação pela Direção da Seção Judiciária do Rio Grande do Sul para que Rita Von Hunty fosse convidada como Conferencista ocorreu após pedido do GT em Direitos Humanos, devidamente justificado, incluindo embasamento teórico sobre a importância da visibilidade LGBTQIA+. “O processo foi muito bem fundamentado, trazendo literatura de direitos humanos, inclusive a literatura utilizada no Poder Judiciário”, afirma Magali.

O advogado Paulo Iotti, considerado um dos LGBTQIA+ mais influentes do Brasil por sua atuação, em 2019, no Supremo Tribunal Federal (STF) para a  equiparação da homofobia ao crime de racismo, afirma que o Tribunal tem sido excelente na proteção das minorias. Segundo ele, que é também doutor em direito constitucional, em relação à tutela de direitos do grupo LGBTQIA+, é preciso reconhecer que significativa parte das conquistas alcançadas se concretizou por meio de decisões paradigmáticas do Supremo Tribunal Federal. 

No entanto, Paulo chama a atenção de que é preciso ir além de palestras e conferências, embora reconhecendo a contribuição delas para a visibilidade e respeito à comunidade LGBTQIA+. O advogado destaca a importância de ações práticas no dia da Justiça Federal e cita como um exemplo de ação concreta a inclusão no cadastro funcional dos servidores de um campo que reconheça as diferentes identidades de gênero, não se limitando ao sexo masculino ou feminino.

Para Dona Rita, os avanços em relação aos direitos da comunidade LGBTQIA+ se devem à intervenção do Poder Judiciário, já que  o Poder Legislativo sequer levantou o debate. Agradecida e, segundo ela, honrada por estar conversando com integrantes do Poder Judiciário, o Poder da República mais importante para os avanços envolvendo a causa LGBTQIA+, Rita Von Hunty acredita no papel das instituições e da educação. “É necessário fazer pontes entre educação e lei”, finalizou ela. 

A escolha do mês de junho para a celebração e reflexão sobre a temática LGBTQIA+ faz referência à revolta de Stonewall, ocorrida em Nova York, no dia 28 de junho de 1969, quando um grupo enfrentou a frequente violência policial sofrida por homossexuais. Desde 1970, todo mês de junho é dedicado a celebrar o que a comunidade já conquistou e reivindicar o muito ainda a conquistar. E é também um período de promoção de ações afirmativas para esclarecer as pessoas sobre a diversidade de orientações sexuais e identidades de gênero.

Repórter: Patrick Costa Meneghetti

Imagens: XXXXX (se for o caso)

Edição digital e publicação: Emily Calderaro (monitora)

Professor responsável: Reges Schwaab

* Trabalho experimental desenvolvido na disciplina de Reportagem em Jornalismo Impresso em 2021/1, período em que trabalhamos de modo remoto em razão da pandemia do novo coronavírus.

Contato: meiomundo@ufsm.br

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