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Trocando uma ideia com as plantas



Cresce o interesse dos brasileiros por jardinagem durante a pandemia, aliada para o enfrentamento de problemas da saúde mental durante a pandemia de COVID-19. 

Victor da Matta

Praia Grande, SP

Durante esse período prolongado e intenso de isolamento social, o espaço que ocupamos em nossas casas é colocado em xeque, nos fazendo repensar hábitos do dia a dia para nos adaptarmos à nova realidade. No entanto, um dos impactos mais prejudiciais na vida das pessoas que procuram se prevenir da COVID-19, é na saúde mental. Segundo um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UERJ), os casos de depressão aumentaram 90% e o número de pessoas que relataram sintomas de ansiedade e estresse agudo duplicou desde Março de 2020. Sejam familiares, amigos ou colegas de trabalho, a distância, que já não era uma opção, passou a ser um dever de responsabilidade e cuidado. Por isso, algumas pessoas procuram reestruturar sua vida particular dentro de suas casas. A jardinagem é uma dessas transformações que vão além da mudança estética e passam a fazer mudanças na rotina de quem adota a prática. 

Segundo aponta uma pesquisa feita pelo Google Trends a busca pelo termo “kit de jardinagem” aumentou em 180% no Brasil desde o início do período de isolamento. Fator esse que pode ser dado pela falta de convívio no meio social, pela mudança brusca da rotina ou pela falta de atividades, que atinge várias pessoas levando a complicações na vida pessoal e a procura de novas maneiras de interação. Tanto para aqueles que encontram na natureza um refúgio de uma rotina muitas vezes sufocante, quanto para aqueles que não tinham o costume de plantar, a prática pode ser surpreendentemente terapêutica. 

Trocando uma ideia com as plantas 

A secretária, Stephanie Nascimento, 22 anos, de Praia Grande (SP), não tinha o hábito de plantar. Sua mãe tinha um tomate cereja e uma muda de manjericão na varanda do seu apartamento e pra elas já era algo. Contudo, desde março de 2020, quando estourou a pandemia da COVID-19 no Brasil e começa então a primeira quarentena, muito mudou para Stephanie. Ela já não encarava sua rotina ou sua casa da mesma forma. Foi tomada algumas vezes por episódios de ansiedade e sentimento de solidão. Tudo mudou quando uma amiga a convidou para ir na loja Fênix, que segundo ela: “Me apaixonei de cara! Era tanta variedade, uma mais linda que a outra”. Levou para casa mudas, sementes, terra e vaso. Estava decidida a dar continuidade a hortinha que a mãe começou.

Hoje, com pelo menos cinquenta plantas, entre elas flores, frutas e vegetais – suas preferidas são as Begônias, as Orquídeas e uma Coleus, que ganhou de presente do seu namorado – ela se sente realizada. “Me dedico inteiramente a minhas plantas. Gosto de acordar e cuidar delas antes de ir pro trabalho, quando chego, tomo meu banho e vou direto para a varanda” reflete. A secretária ressalta que é um momento dela relaxar, não ficar pensando muito nas incertezas e se dedicar em manter aquelas plantinhas nutridas. Mas não apenas, ela também criou o costume de conversar com suas plantas, hábito que ajudou bastante em momentos de estresse agudo. “Eu converso com elas porque acredito que há uma troca. Eu cuido delas e no final elas me dão o melhor tomate cereja, a flor mais bonita e o melhor ar para minha casa. Pra mim, todo afeto e carinho que dou são retribuídos da forma mais linda que é a da natureza”, afirma Stephanie. Com o intuito de incentivar seus próximos, criou um instagram para divulgar o seu convívio com suas plantas (@meuverde.lar), para mostrar como pode ser favorável e benéfico ter sua própria horta.

Hortoterapia

Como forma eficaz de combater o estresse, a depressão e o sedentarismo, fatores muito presentes na vida dos brasileiros durante a pandemia do coronavírus, a jardinagem tem sido cada vez mais utilizada como auxiliar para a manutenção da saúde mental. Já existe há muito tempo  um debate sobre o conceito de Hortoterapia, (consiste na contemplação e/ou envolvimento com a natureza a partir de um jardim, horta ou pomar), que mesmo sem comprovação científica, vem ganhando espaço como estratégia de promoção da saúde. Já é bastante utilizada para cuidar de idosos, para o tratamento de dependentes químicos e pessoas que sofrem com transtornos mentais. Exatamente por estimular a criatividade, a memória, a atividade motora, concebendo um efeito motivador e relaxante.

Repórter: Victor da Matta

Edição digital e publicação: Emily Calderaro (monitora)

Professor responsável: Reges Schwaab

* Trabalho experimental desenvolvido na disciplina de Reportagem em Jornalismo Impresso em 2021/1, período em que trabalhamos de modo remoto em razão da pandemia do novo coronavírus.

Contato:meiomundo@ufsm.br.

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