A mudança de rotina causada pelo isolamento pode estressar felinos, mas o convívio com eles pode acalmar os humanos.
Marcos Pellegatti
Santa Cruz do Rio Pardo/SP
Seja gato ou cachorro, um animal de estimação é sempre uma ótima companhia, principalmente com o isolamento social causado pela pandemia de covid-19 a partir de março de 2020. Com o intuito de diminuir a circulação do vírus e de não se contaminar, muitas pessoas ainda estão trabalhando remotamente ou tendo aulas online. Com mais tempo em casa, os amados pets passaram a ter mais tempo com seus donos. Esse contato mais intenso pode aliviar o estresse do isolamento para os humanos, mas a mudança na rotina pode estressar os felinos.
O médico veterinário Kaio Sérgio, explica que os gatos sentiram muito com seus donos mudando sua rotina e passando mais tempo em casa, mas isso não significa que os bichanos não gostem de seus donos. Ele conta que, felinos são animais que criam sua rotina na cabeça e quando acontece uma quebra nessa rotina, pode causar o aumento do cortisol. “Isso começa a formar nele o aumento do o hormônio do estresse e isso vem carregado de coisas que acabam acontecendo. Tem um problema urinário muito comum, muito frequente acontece com essa elevação do estresse que é a cistite idiopática ou cistite inflamatória do felino. Isso aconteceu bastante, de dez gatos que vem pra clínica, pelo menos sete é desse problema. Porque mudou totalmente a rotina deles, então eles têm se estressado mais”. Já os cães, segundo Kaio, gostaram mais deste período. “Cachorro é companhia, né? Então, quanto mais companhia pra ele, tá ótimo”, conta.
A professora do Departamento de Ciências da Comunicação da UFSM-FW (Universidade Federal de Santa Maria – Campus Frederico Westphalen), Marluza da Rosa, conta que sempre teve gatos e sente que são animais muito calmos, sua gata e ‘filha’, Hematomas, está com ela desde 2016, apesar de ter passado um período longe dela, elas já enfrentaram diversos momentos e desde agosto de 2020 estão juntas novamente. Marluza conta como a companhia da Ema está ajudando neste período isolada. “Ajuda bastante sim nesses momentos em que a gente está confinado no espaço, então parece que a gente mora no trabalho como de fato acontece, então nesses momentos em que a gente tem as opções de lazer, as opções de contato social muito restritos, sem dúvida ela ajuda bastante nessa, não só em termos de desestressar, mas de uma companhia mesmo, de alguém com quem você vai fazer um social, alguém a mais, com quem você pode interagir, com quem você pode assistir TV junto, enfim, nesse sentido sim, concordo que que é uma experiência produtiva. Eu acho que seria muito mais solitário esse trabalho durante esse período de confinamento se ela não existisse, se ela não estivesse por perto. Muito embora como se possa imaginar, ela sobe no computador no meio das aulas, então desfoca as vezes, tira um pouco a nossa atenção, mas sem dúvida é uma companhia importante pra gente nesse período”, relata.
O isolamento deu também um novo lar a Malu, uma cadela da raça Lulu da Pomerânia. A Psicóloga Ângela Barbieri conta que a ideia de um novo cachorrinho surgiu porque sua filha mais nova estava desenvolvendo alguns medos relacionados à pandemia. Cuidar de um filhote trouxe algumas responsabilidades para toda família, mantendo assim muitas vezes a cabeça ocupada. “Estar ocupando a cabeça com essa responsabilidade de cuidar também desse animalzinho de estimação ajuda muito a gente a deixar de lado pensamentos negativos ou ficar só pensando na doença, ou ficar catastrofizando algo na nossa vida. E se envolvendo com atividades assim que são saudáveis, tu se desliga também um pouco da tecnologia”. Ângela aconselha a convivência com animais domésticos em momentos como este, em que as pessoas estão mais deprimidas. “Eu aconselho muito pessoas que não estão bem emocionalmente, psicologicamente, até que se sentem deprimidas. Porque o animal ele dá carinho sem receber nada em troca, assim, ele tá sempre ali querendo um carinho, querendo a companhia”, conta.
Animais não se infectam
A estudante mexicana María del Mar Aguilar relata que durante os dezessete dias em que esteve com covid-19, ela ficou isolada em seu quarto e sem a companhia de suas duas cadelas, Cami e Sasha. “Não as vi, não me deixaram toca-las porque havia o medo de que se eu tocasse, o vírus pegasse meu irmão, minha mãe. Como se o vírus estivesse em seu pelo, e como havia o medo de contágio não me deixaram vê-las”, ela conta também que só as via no quintal, através de sua janela.
O veterinário Kaio Sergio explica que saíram já várias notícias falsas sobre que os animais podem ficar doentes e até mesmo transmitir o vírus, ele conta que até o momento nada foi provado sobre a infecção dos pets, e explica a diferença entre estar contaminado e estar infectado. “Até agora nada disso foi comprovado, todos os trabalhos que entregaram os animais como positivo sendo doente para covid-19, o tutor estando doente, vai, faz o teste swab nos cães, e óbvio que vai aparecer partículas, vai aparecer o positivo, porque o exame ele pega partículas do vírus. Então, se você está em contato o tempo todo com uma pessoa que está contaminada, ela está eliminando vírus, eles vão estar presente no pelo, vão estar presente no fundo da garganta, vão estar presente no focinho. Mas isso não indica que eles estão infectados, estar contaminado é diferente que estar infectado. Estar contaminado é ele ter a presença do de uma partícula ali, estar infectado, é ele ter ficado doente com esse vírus. Então, isso não foi comprovado, por enquanto estamos tranquilos em relação aos gatos e cachorros com a covid-19”, pondera.
Repórter: Marcos Pellegatti
Edição digital e publicação: Emily Calderaro (monitora)
Professor responsável: Reges Schwaab
* Trabalho experimental desenvolvido na disciplina de Reportagem em Jornalismo Impresso em 2021/1, período em que trabalhamos de modo remoto em razão da pandemia do novo coronavírus.
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