Devido às restrições da pandemia, fotógrafos buscam novas direções de trabalho
Beatriz Emer de Moraes
Dourados-MS
Jornalístico, documental ou comercial, os fotógrafos trabalham com o público. Devido a pandemia da Covid-19, esta área está sendo uma das mais afetadas a partir desta questão, pois, muitas oportunidades neste meio foram descartadas. Com isso, festas, casamentos, eventos publicitários ou corporativos foram uns dos primeiros a serem proibidos, eventos nos quais Laura Ávila, Lorran Souza e Rafael Messa, fotógrafos profissionais, atuam. A partir disso, dificuldades para exercerem e divulgarem seu trabalho, começaram a surgir.
A fim de superar o transtorno das restrições de eventos presenciais, os fotógrafos tiveram que aderir a diferentes alternativas para compensar a falta de trabalho, além da preocupação financeira. Optaram por trabalhos versáteis e flexíveis, que não oferecem risco a contaminação nem problemas com decretos estaduais e municipais que impeçam o trabalho em meio a essa situação de crise.
A distância não é um problema
Formada em Produção Publicitária (Unigran), Laura Ávila, fotógrafa profissional, 28 anos, de Dourados (MS), realizava a maioria de seus trabalhos em casamentos, festas, ensaios e eventos corporativos. Ela precisou reformular sua área e escolheu realizar trabalhos variados, como fotos de produtos para vendas em lojas virtuais, impressão de fotos e a venda de alguns de seus equipamentos fotográficos, foram algumas das válvulas de escape para manter suas atividades profissionais, o que de certa forma acabou agregando para o seu crescimento profissional, pois ela explorou novos rumos dentro da fotografia. “Comecei a fazer fotos para lojas virtuais, pois saíram do físico e foram para o digital. Eu comecei a fazer vídeos e fotos, além de ajudar no marketing também. Estava com sete câmeras e vendi algumas, alguns equipamentos, para agregar mais ao meu estúdio”, comenta.
Lorran Souza, fotógrafo de casamentos, de Terra Roxa (PR), trabalha com eventos, com foco principal em casamentos e conta que seus cursos online progrediram mais e ajudaram outros fotógrafos à distância. “A vários anos eu trabalhava com treinamento para fotógrafos e cursos para fotógrafos, com valores. Fizemos ações para ajudar outros fotógrafos, abri mão de 95% do valor do meu treinamento e comecei a cobrar um valor simbólico apenas pelas despesas e anúncios patrocinados para fazer com que o curso chegasse para mais pessoas, a gente alcançou a marca de quase 4.300 fotógrafos cadastrados em único curso do ano passado para 2021. Muitos fotógrafos de vários lugares do mundo entraram nesse curso porque reduzimos o valor para ajudar”, informa.
Rafael Messa, 36 anos, fotógrafo e filmmaker, de Dourados (MS), atua em casamentos e aniversários, migrou para a área corporativa. “Eu consegui mudar o foco, mas não sair do ramo. Percebi que as coisas não iam voltar ao normal tão cedo. Aproveitei para estudar um pouco e ver o que eu podia fazer. E vi que existe um mercado muito grande da área corporativa, pois as empresas precisam vender, por estarem de portas fechadas. E como ela vai vender? Ela precisa divulgar o trabalho e foi aí que eu foquei na área empresarial, com isso não precisei sair do meu ramo de videomaker. De certa forma até que foi bom, pois não precisava de tantos equipamentos e acabei vendendo alguns. O empresarial não vai do lado da emoção de casamentos e aniversários, ele quer um negócio rápido e prático. É totalmente diferente do que eu fazia”, conta.
Assim, informam que a distância não foi prejudicial, em relação ao que esperavam, pois dessa maneira acabaram encontrando novas formas e oportunidades para lidar com essa situação da pandemia de uma forma positiva e que agregasse para o crescimento do trabalho fotográfico.
Pontos positivos
Existem profissionais que não perderam o foco e aproveitaram as adversidades para se reinventarem. Nem um vírus tão contagioso foi capaz de pará-los. São aqueles que chamamos de criativos e empreendedores, que buscam o tempo todo fazer algo inovador e que consiga mantê-los na área de trabalho que realmente gostam, no caso a fotografia.
Segundo Lorran, 2021 foi um dos anos em que ele mais ganhou dinheiro com a fotografia. “Viajamos muito a trabalho e o custo costumava ser muito alto e ano passado isso diminuiu, os gastos diminuíram por estarmos mais tempo em casa. Nosso lucro ficou menor, mas os gastos com viagem também diminuíram, sobrou mais dinheiro. Ao invés dos outros anos, ganhamos mais dinheiro mas sobrava menos”, expõe.
Laura abriu o próprio estúdio com suas economias que havia guardado e descobriu novas perspectivas da fotografia. “Na pandemia comecei a usar o estúdio que havia montado no escritório do meu pai e percebi que gostava mais do que trabalhar em casamentos, assim percebi que meu fluxo poderia ser maior, pelo tempo de entrega ser mais rápido. Enquanto o casamento demora dois meses para editar as fotos, no estúdio demora dois dias. Assim posso fazer um giro muito maior”, estima.
De acordo com o Rafael, toda essa situação serviu de amadurecimento e surpresas, fez-o abrir os olhos para outras oportunidades “No meio da pandemia pensei em abrir um comércio, mas bati o pé, persisti na minha área de trabalho e vi que com muito menos posso conseguir muito mais, em relação aos equipamentos. Era muito estressante conferir tudo antes de um evento, hoje só chego e faço. Tudo foi como uma readaptação. Vi muitas pessoas mudando de trabalho. E de qualquer forma estamos numa crise, mas que serviu como abertura para novas direções.”, acrescenta.
A fotografia nunca foi e não é uma área simples de atuar ou completamente acessível para todos que trabalham com ela. Mas, às vezes, algumas situações gritam mais alto e é preciso se reinventar para garantir estabilidade nesta quarentena. Alguns mudaram o rumo dentro da área fotográfica, outros venderam seus equipamentos fotográficos e até pensaram em desistir de tudo. Mas focaram em seus propósitos e não desistiram de seus sonhos.
Repórter: Beatriz Emer de Moraes
Edição digital e publicação: Emily Calderaro (monitora)
Professor responsável: Reges Schwaab
* Trabalho experimental desenvolvido na disciplina de Reportagem em Jornalismo Impresso em 2021/1, período em que trabalhamos de modo remoto em razão da pandemia do novo coronavírus.
Contato:meiomundo@ufsm.br.