Desde o início da pandemia de COVID-19 causada pelo coronavírus ( (SARS-CoV-2), ficou escancarada a desigualdade presente no território brasileiro em todos os setores: vimos o aumento da pobreza, regredimos no ensino, assistimos nossa saúde pública colapsar e mais inúmeras tragédias que, infelizmente, se tornaram tão rotineiras que pararam de causar estranhamento. O ODS 10 – Redução das Desigualdades é um entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que compõem uma agenda mundial adotada a partir da Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável em setembro de 2015.
Assim como na maioria das problemáticas sociais, a camada mais atingida pelo baque da pandemia foi a mais pobre, constituída em sua maioria por pessoas pretas e pardas que, segundo a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foram as que mais morreram devido ao coronavírus, já que, na maioria das vezes, vivem uma constante situação de negligência e marginalização social. Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Brasil no período entre agosto e fevereiro de 2021, teve um avassalador aumento de 17, 7 milhões de pessoas voltando à situação de pobreza. Em agosto de 2020, no auge da pandemia, esse número, já exorbitante, era de 9,5 milhões. Logo, isso significa que 27,2 milhões de habitantes ou 12,83% da população brasileira vive em situação de pobreza no nosso país.
Além disso, o preço de alimentos básicos e essenciais aumenta exponencialmente a cada dia, fazendo com que mais de 19 milhões de pessoas não saibam se sequer terão alguma refeição em seu dia. A atual realidade brasileira pode ser definida em uma simples situação que está se tornando cada vez mais corriqueira e normalizada: centenas de pessoas formando filas quilométricas em açougues, no intuito de comprar restos de ossos para se alimentar.
Com isso tudo é quase que impossível que um cidadão que detém baixo poder aquisitivo tenha uma boa qualidade de vida no Brasil. Segundo dados da revista Piauí, a parcela dos 40% mais pobres em nosso país foi a que mais sofreu um declínio do conceito de felicidade em sua vida, com a taxa caindo de 6,3 para 5,8. Já a população privilegiada e de classe mais alta vivenciou o contrário, com a sua taxa de felicidade sofrendo um leve aumento de 6,8 para 6,9. Logo, é inegável que quem de fato sofreu um maior baque durante a pandemia foi e ainda está sendo a classe mais baixa.
Com o fim ou no mínimo o congelamento de diversas políticas públicas durante um dos períodos mais difíceis do Brasil, tornou-se ainda mais visível o problema estrutural que está enraizado nos primórdios de nossa história: a manutenção da desigualdade como ferramenta de opressão e enriquecimento dos poucos indivíduos que detém os meios de poder em nosso país.
De acordo com pesquisa do Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC), o valor exato dos cortes realizados pelo governo pode chegar a 18 bilhões de reais, com o investimento em educação representando 18% desse número. Apenas isso já é o suficiente para exemplificar que a desigualdade no Brasil não é vista como um problema para quem nos governa, mas sim como uma ferramenta de controle. Se não educada, a população jamais criará discernimento para se rebelar contra quem os controla. Além disso, setores como o judiciário e o legislativo, inegavelmente privilegiados, não sofreram cortes significativos no período. Se você quiser ver os detalhes, clique neste link para visualizar a tabela dos congelamentos feitos pelo governo brasileiro.
Em suma, é inegável que, com o agravamento da pandemia no Brasil, a desigualdade social e de vários outros âmbitos aumentou ainda mais. Indivíduos de alta renda apenas enriqueceram, enquanto a base da pirâmide social se viu ainda mais fragilizada do que antes. Os preços de itens essenciais para uma vida minimamente digna apenas aumentam, na mesma proporção que o poder de compra cai tragicamente. É lógico que o período que enfrentamos atualmente não foi e nem está sendo fácil ou benéfico para nação alguma, mas países como o Brasil, que ainda carecem de pilares básicos para que haja qualidade de vida, foram ainda mais afetados do que aqueles que possuem recursos para se reerguer. Portanto, para que as metas do o ODS-10 sejam atingidas, ainda é preciso quebrar inúmeras
barreiras.
Texto: Matias Araujo e Paulo Cruz
Supervisão: Professora Cláudia Herte de Moraes, pela disciplina de Comunicação, Cidadania e Ambiente
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