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Infâncias roubadas: A triste realidade vivenciada por crianças sírias



Criança síria levanta os braços ao confundir câmera com arma. Imagem: Osman Sagirl.

A crise política de 2011 na Síria, inspirada no movimento da Primavera Árabe, desencadeou uma guerra civil no país que, em março de 2020, completou 9 anos. O caos e a violência instaurados desde o início do conflito vem afligindo a parte mais frágil da sociedade no país: as crianças. Elas vêm sofrendo inúmeras violações de direitos que foram ratificados na Declaração Universal dos Direitos das Crianças, em 1959. 

“Não se deverá permitir que a criança trabalhe antes de uma idade mínima adequada; em caso algum será permitido que a criança dedique-se, ou a ela se imponha, qualquer ocupação ou emprego que possa prejudicar sua saúde ou sua educação, ou impedir seu desenvolvimento físico, mental ou moral.“ Princípio IX, Declaração Universal dos Direitos das Crianças – UNICEF.

Segundo a UNICEF, 4,8 milhões de crianças nasceram na Síria no decorrer da guerra. Outros 1 milhão nasceram como refugiados em países vizinhos. Dados também apontam que mais de 9 mil pequenos foram mortos ou feridos desde o estopim dos ataques. Além disso, outro problema surge: as “crianças-soldados”. Cerca de 5 mil crianças (entre elas, algumas de 7 anos) foram recrutadas para lutar, onde só em 2018, 1.006 morreram em combate.

Crianças aprendem a usar armas Foto: Reprodução / Twitter / ‏@ILNews.

Essa problemática foi abordada no artigo de Daiane Guimarães Lôbo “Filhos do Califado: o recrutamento de crianças-soldados pelo Estado Islâmico na Guerra Civil da Síria”. A organização criminosa recruta menores que estão, devido à guerra, vulneráveis e não podem negar a oferta. Muitos adentram o EI na intenção de dar melhores condições para eles e seus familiares. Com isso, infâncias são perdidas e futuros adultos terroristas são formados.

A violência sexual se tornou comum no conflito. Em uma matéria feita pelo Syrian Justice and Accountability Centre (SJAC), 351 sobreviventes da guerra foram entrevistados e relataram casos assustadores, onde inúmeras pessoas e crianças foram estupradas, ou tiveram seus órgãos genitais feridos, como forma de controle, incutir medo, humilhar e punir a população. Há relatos também de meninas e mães que foram estupradas coletivamente na frente de seus familiares, como forma de revidar contra reações políticas.

As crianças que conseguem se refugiar em outros países também passam por problemas. Na maioria das vezes, as famílias não possuem dinheiro nem recebem apoio financeiro para sustentar todos os seus membros e passam por necessidades. Nessas situações, o trabalho infantil ganha espaço e crianças como Mahmoud, que aos 11 anos trabalhava em uma oficina mecânica na Turquia, se tornam milhares. Alguns pais até arranjam casamentos para suas filhas, ainda menores de idade, para melhorarem sua condição econômica.

Em uma matéria publicada no National Geographic em 2018, a fotojornalista Özge Sebzeci foi à Turquia para documentar os casos de casamento precoce. Ela relatou que além do alívio para as finanças das famílias, muitos pais procuram casar suas filhas para evitar que elas sofram assédio de outros homens.

Foto de Özge Sebzeci

Nesse registro, a menina é uma noiva e quando foi questionada pela fotógrafa sobre qual presente de casamento ela gostaria de receber, ela respondeu que queria um ursinho de pelúcia.

Embora no país turco haja legislações contra o casamento de menores, a prática continua ocorrendo, no que foi tratado na matéria como “segredo conhecido”.

“A criança tem direito a receber educação escolar, a qual será gratuita e obrigatória, ao menos nas etapas elementares. Dar-se-á à criança uma educação que favoreça sua cultura geral e lhe permita – em condições de igualdade de oportunidades – desenvolver suas aptidões e sua individualidade, seu senso de responsabilidade social e moral . Chegando a ser um membro útil à sociedade. “ Princípio VII, Declaração Universal dos Direitos das Crianças – UNICEF.

A UNICEF divulgou, em 2018, que 4,9 milhões de crianças nascidas na Síria continuaram a ter acesso à educação no período dos conflitos. Apesar de ser uma vitória, na mesma publicação, a organização também ressaltou que 2,8 milhões de menores sírios estão sem estudar. A pesquisa mostra que 40% deles têm entre 15 e 17 anos e nunca iniciaram a vida estudantil desde o início da guerra em 2011.

A Guerra na Síria não tem previsão para acabar. O presidente Bashar Al-Assad recuperou 70% do território do país até o fim de 2019, mas os rebeldes continuam com fortes ataques. Não temos data para o final disso tudo, mas sabemos que as consequências que o conflito trará tanto para o país sírio, quanto para o mundo serão gravíssimas e as crianças, que com sorte, se tornarão futuros adultos, carregarão para sempre as cicatrizes invisíveis da Guerra.

Apesar da impotência frente ao combate físico, a Síria possui um Centro de Justiça e de Responsabilidade, que conta com documentações das violações dos direitos humanos, que conta com os seguintes objetivos:

  • Relembrar os perpetradores e garantir às vítimas que os perpetradores serão responsabilizados;
  • Prevenir a recorrência de violações em uma futura Síria por meio de uma reforma de princípios;
  • Garantir que uma narrativa das histórias das vítimas seja ouvida não apenas nos processos de responsabilização, mas ao longo da história.

Um desses documentos é o filme documentário “For Sama”, lançado em 2019. Gravado pela cineasta Waad al-Kateab, que engravidou e teve sua filha durante o conflito, o filme traz imagens chocantes de crianças que sofreram com desabamentos e ficaram órfãs no conflito.

Para saber mais:

Texto: Caroline Siqueira e Igor Barros

Supervisão: Professora Cláudia Moraes, disciplina Comunicação, Cidadania e Ambiente

Especial para Agência Íntegra

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