Foto por Alice Vergueiro/Estadão Conteúdo – 08.03.2020
O Brasil é o quinto país do mundo com a maior taxa de feminicídio. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a média é de 4,8 assassinatos para cada 100 mil mulheres. Apenas no primeiro semestre de 2020, foram registrados 648 feminicídios no país, 1,9% a mais do que no mesmo período em 2019. Em julho, a ONU advertiu que seis meses de restrições sanitárias poderiam ocasionar 31 milhões de casos adicionais de violência sexista no mundo, sete milhões de gravidezes indesejadas, além de colocar em risco a luta contra a mutilação genital feminina e os casamentos arranjados.
É importante ressaltar que o feminicídio é e sempre foi uma problemática gravíssima e mundial. Porém, o isolamento social fez com que quatro bilhões de pessoas tivessem que ficar dentro de casa, o que foi uma medida protetora para alguns, porém uma sentença de morte para outros. Afinal, milhões de vítimas ao redor do mundo estão 24h do dia presas com o seu abusador dentro de casa. Segundo a ONU Mulheres, no ano anterior à pandemia, 243 milhões de mulheres e meninas, entre os 15 e 49 anos e do mundo todo, sofreram alguma violência sexual ou física por um parceiro íntimo.
À medida que a pandemia da Covid-19 foi se seguindo, é provável que esse número cresça com múltiplos impactos às mulheres. De acordo com dados da ONU Mulheres, as autoridades e ativistas dos direitos feministas da Argentina, Canadá, França, Alemanha, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos, indicaram um aumento nas denúncias por violência doméstica e demanda de abrigo de emergência. O mesmo aconteceu em outros lugares, como Singapura, Chipre e Austrália.
Segundo o veículo Ponte Jornalismo, desde o início da pandemia até junho de 2020, a Itália teve um aumento de 161,71% nas denúncias telefônicas entre os dias 1º e 18 de Abril. O Brasil, em contrapartida, registrou um aumento de denúncias de 34% apenas no mesmo período. Esse número não foi mais alto porque, de acordo com a ONU Mulheres, menos de 40% das vítimas buscaram ajuda ou denunciaram o crime de violência, desse número, menos de 10% iam à polícia. Com isso, registrou-se uma queda nas notificações de violência no país. A revista AzMina, porém, publicou que não se pode afirmar, de fato, que houve uma diminuição nos índices, pois somente 20 estados coletaram os dados e, ainda assim, possuem ineficiência por não apresentarem informações de raça, orientação sexual e escolaridade. Sendo assim, não é possível identificar os perfis das mulheres que morrem todos os dias.
Gráfico publicado pela Revista AzMina
Segundo o Atlas da Violência de 2020, em 2018, 4.519 mulheres foram assassinadas. Desse número, 68% eram mulheres negras, totalizando cerca de 3.072 feminicídios negros. Essa é uma questão muito importante a ser levantada, ao falar sobre a violência de gênero, é necessário que o recorte racial seja feito. Por questões institucionais, mulheres negras se encontram mais em situações de vulnerabilidade social, sendo exemplo disso a favelização, subemprego e os índices de violência doméstica. Além disso, a pesquisa Um Vírus e Duas Guerras também mostra, por exemplo, que em Minas Gerais 61% das vítimas de feminicídio são mulheres negras.
Por isso, a fala de Ayla Santerio, coordenadora do N’zinga – Coletivo de Mulheres Negras de Belo Horizonte e da Articulação de Mulheres negras no Brasil, à Ponte Jornalismo é importantíssima: “Discutir violência de gênero sem a perspectiva de raça é ignorar a história escravista e colonial do país que violenta até hoje as mulheres negras”.
Para saber mais:
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Texto: Caroline Schneider Lorenzetti, Julia Caroline Selzler Passos de Sá e Maria Mariana do Nascimento Silva
Supervisão: Professora Cláudia Moraes, disciplina Comunicação, Cidadania e Ambiente
Especial para Íntegra