Nós precisamos falar sobre a solidão do homem negro.
Para o tráfico e para o crime. Imagine-se chegando em um lugar no qual ninguém te conhece e não ter o direito de falar sobre si sem que uma imensidão de estereótipos sejam postos sobre seu corpo, antes mesmo de cumprimentar as pessoa a sua volta. Pense em como deve ser estabelecer laços sociais em uma conjuntura na qual você é posto como o outro, o de outra raça, o não-semelhante, de modo em que seja comum atravessarem a rua para não compartilhar a mesma calçada contigo ou ser abordado por policiais porque o seu tom de pele diz que você não deveria circular por determinados lugares ou ter poder aquisitivo para comprar determinados objetos. Imagine-se não podendo falar de suas próprias dores, tendo sua história contada por aqueles que produzem conhecimento a partir daqueles que escravizaram seus ancestrais. Agora lhes pergunto: conseguiram fazer este exercício reflexivo-empático sobre como homens negros se sentem solitários?
Quando não para o tráfico o crime, para o sexo e o prazer. A hiperssexualização dos corpos negros é um dos fatores que corroboram sua solidão. Seja hétero ou bi, gay ou pan, trans ou cis, seus corpos são marcados pelo desejo alheio permitidos pelas narrativas midiáticas-racistas. Principalmente quando o assunto é as relações interraciais, o amor é posto a prova quando o racismo estrutural é evidenciado no dia-a-dia da relação. Se relacionar com um homem negro, que diariamente enfrenta batalhas contra os estereótipos racistas, não é se relacionar somente com o seu corpo: é se relacionar com sua história, suas ancestralidades, sua percepção de mundo e sua diária resistência.
Quando não para o tráfico e o crime, nem para o sexo e o prazer, para o trabalho mal pago e a invisibilidade. A vivência do homem negro é invisibilizada a partir da hipervisibilidade dos discursos naturalizados acerca de seus corpos: Negros aprisionados por leis ineficientes; provenientes de zonas periféricas; culturalmente sexualizados; e constantemente esfacelados na/pela mídia. O modo como a negritude é retratada nos meios de comunicação corrobora com a construção de um imaginário social extremamente racista e excludente. O homem negro, muitas vezes, se sente solitário nos seus ciclos sociais, nos relacionamentos afetivos e românticos, em seu ambiente de trabalho e em suas conquistas. Qual é o seu papel em relação a solidão do homem negro? Você reforça ou você acolhe?
Fotos tiradas pelo estudante de Jornalismo André Luís dos Santos.