O Professor Reges Schwaab conversa com estudantes e profissionais de Comunicação sobre as incertezas na conjuntura política, social e cultural que interferem o fazer Jornalismo e a credibilidade dos profissionais.
Na última segunda-feira, 04/05, no instagram da @integraufsm foi realizada uma live junto com o professor Reges Schwaab, docente do Departamento de Ciências da Comunicação-UFSM / FW, no qual proferiu uma discussão sobre o Jornalismo em tempos de Incertezas. O debate traz a reflexão do papel do jornalismo e dos seus profissionais dentro da sociedade brasileira, em inúmeros momentos como os de crises políticas, científicas e sanitárias.
A Agência Experimental, com o objetivo de divulgar, mediar e integrar conhecimentos do DECOM da UFSM de Frederico Westphalen, convidou o professor para contribuir com esse debate. O Projeto de ensino MovimentAção: comunicação para formação profissional e cidadã por meio da Agência Íntegra, com o objetivo de sensibilizar, articular e promover a deliberação acerca das temáticas que envolvem a Sustentabilidade, teve importantes contribuições do professor nas reflexões.
Esta é a segunda Live da série, sendo que a primeira, com a professora Claudia H. de Moraes, falou sobre Educomunicação socioambiental, relatando a importância de se pensar no papel educacional da comunicação, e como comunicadores podem contribuir com a sociedade na conscientização ambiental, política, científica e cultural, de modo a possibilitar aos agentes participantes uma leitura crítica do mundo. Com a Educomunicação, o fazer comunicação se torna participativo, de forma que consolida a credibilidade pública da informação qualificada e encaminha um novo modo de se fazer comunicação dentro das inovações na busca e recebimento da informação. Para dar continuidade a este debate, o Professor Reges nos provoca a refletir sobre a importância do Jornalismo em tempo de crise.
Crise essa que perpassa por diferentes aspectos, níveis e teores. Por um lado, temos a crise da COVID-19, uma pandemia que faz o mundo inteiro parar e reviver lembranças históricas que não víamos desde 1920. Ainda no meio disso, uma crise política que ameaça a população invisível, como dito no programa de jornal com maior alcance nacional, que impulsiona mortes e desestrutura nossos direitos. Ainda, por outro lado, a crise da ciência, que nasce do descrédito e desmonte do conhecimento e de instituições científicas.
É neste contexto que o Reges ressalta que o descrédito nas instituições e profissionais de comunicação são fatores que corroboram a circulação do grande número de notícias fraudulentas, intensificando as consequências das crises e evidenciando a necessidade de se repensar em como a Comunicação, em específico o Jornalismo, pensa no para quem e para que agem.
Segundo Reges, esses últimos anos mostrou que é necessário uma reflexão dos meios e profissionais de comunicação do país, pois o jornalismo brasileiro se encontra em descrédito junto ao seu público, onde grandes veículos de comunicação tem sua credibilidade colocada em cheque. É necessário que os jornalistas façam uma autocrítica, eles devem pensar de como, e como funciona o papel social democrático do jornalismo. O momento agora é de pensar em novas formas de se fazer o Jornalismo, é momento de refletir o porquê da descredibilidade dos veículos de comunicação e dos seus profissionais. As diferentes crises que estamos vivendo agora na ciência, educação, meio ambiente e informação mostram que este é momento para reconstruir a credibilidade dos meios de comunicação.
Fazer jornalismo é fazer escolhas, ou seja é escolher temas, letras, fotos e histórias para contar um acontecimento. Os Jornalistas tentam chegar o mais próximo da realidade, para levar ao público informação sobre o que está acontecendo no Brasil e no mundo. O Brasil é um continente vasto, com diferentes culturas, povos e realidades dentro dele. Os meios de comunicação de massa não conseguem trazer todas as vivências e realidades do povo brasileiro, ou como Regis diz “ o Brasil nunca foi ao Brasil’’. A pergunta que não quer calar, para quem é feito o jornalismo no Brasil. Observando os grandes veículos de comunicação, eles focam seu olhar em um público branco, elitista e das grandes capitais do sudeste, deixando de lado outras histórias, vivências e populações do restante do país.
A desigualdade no Brasil afeta o acesso à informação, pois as diferenças sociais acarretam a possibilidade de abranger todas as pessoas do país. Para ele é necessário que os profissionais e os estudantes de jornalismo devem refletir sobre as discrepâncias existentes no Brasil, eles devem levar em conta para suas matérias e reportagens que nem todo brasileiro tem acesso a uma educação de qualidade, cultura e lazer. Outro problema enfrentado por milhares de brasileiros é a falta de acesso a internet, isso ocasiona diferentes formas de se informar e interpretar a realidade. Sendo assim, o profissional de comunicação deve levar em conta essas realidades na hora de construir o seu trabalho.
Schwaab também traz a discussão, sobre como uma parte da população desdenha do jornalismo, que não acredita e deprecia o trabalho destes profissionais. Com isso, essa parcela da sociedade busca outras formas de informar-se, como correntes no Whatsapp, ficando mais suscetível a acreditar em Fake News, pois não checam se a informação é verdadeira ou falsa. Os profissionais e estudantes de comunicação devem sempre pensar em seu público, é um momento de analisar o público que perdeu a confiança nos jornais de massa e seus profissionais; e o público que não tem acesso a internet no seu dia a dia e buscar formas de chegar até eles.
O jornalismo cometeu erros na forma de fazer jornalismo, ele flertou com movimentos antidemocráticos, levantou certas bandeiras, algumas das coisas que ele deveria combater. Juntando isso, com outros erros consecutivos, os jornais perderam sua credibilidade perante o público, um erro grave, pois credibilidade é um capital dentro do se fazer Jornalismo. Com isso, uma parcela da população além de não confiar na imprensa, acha que ela não é necessária no processo democrático de direito. Juntando esses aspectos citados, junto com um governo que incita o ódio contra os profissionais de comunicação, temos vistos nos últimos meses diversos ataques verbais e físicos contra jornalistas. O Brasil é o 4º país mais perigoso do mundo para se ser jornalista, ficando atrás do México, Afeganistão e Paquistão segundo o senso de 2019 da ABI(Associação Brasileira de Imprensa). É preciso buscar formas de tornar o trabalho dos profissionais de imprensa mais seguros, pois assim a informação que é um direito de todo cidadão pode chegar a seu destino.
O Brasil além de ser um lugar perigoso para ser um profissional de jornalismo, é um país que não valoriza esses profissionais, pois não é necessário ter diploma para exercer a profissão, sendo assim muitos veículos de comunicação prestam um serviço de qualidade duvidosa. E com o congresso atual, é pouco provável que este cenário mude nos próximos anos, mesmo assim este fato é um tema discutido recorrente no meio jornalístico. A valorização do profissional, e o requerimento de diploma para função jornalística deve permanecer na luta da classe para um jornalismo sério e de qualidade.
Para Reges o jornalismo é um local de alteridade, pois reportagens não podem ser superficiais, elas também não podem apenas checar os números de vítimas e perdas materiais, ou na divulgação semelhante dos fatos. O jornalismo deve pensar nas intersecção dos acontecimentos, das pessoas envolvidas e dos meios em que elas vivem. O repórter deve fazer o recorte que envolva classe, gênero, raça, cultura, vivências e políticas para narrar algum acontecimento, pois elas podem ter impactos de causa e consequência dos acontecimentos descritos nas reportagens. O profissional deve entender que cada história tem sua singularidade, dentro dos borrões que o jornalismo faz dentro daquilo que eles chamam de reflexo da realidade. Pois na realidade, o jornalismo não reflete totalmente a realidade, mas sim parte dela, então ele acaba deixando aspectos das vivências e das realidades de brasileiros no raso, sem aprofundar as peculiaridades.
Deve-se entender que o jornalismo não deve apenas informar, mas também educar, levar pluralidade de temas e de pessoas. Este pensamento deve vir de dentro das universidades, de como fazer o jornalismo mais plural, profundo e de como ele pode chegar a todos, principalmente de quem tem necessidade de informação. Ela deve pensar em como furar a bolha, para chegar em toda a sociedade. Para finalizar o papel do jornalista é fazer que a alteridade seja entendida, feita e fragmentada por todos na sociedade.
Por André Luis e Kawê Veronezi
Orientado pela professora Mirian Quadros