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Jogue spray no preconceito



Francys Albrecht – franalbrecht13@gmail.com
Paula Mattos – paulabisiomattos@yahoo.com

O grafite é a arte das periferias, uma manifestação artística em espaços públicos que teve início dentro do movimento hip-hop na década de 70, nos Estados Unidos. Os grafiteiros buscam além de visibilidade, reivindicar seus direitos através de sua arte marginalizada. O grafitismo engloba várias manifestações artísticas urbanas como pichações, pixo, colagem, stencil, folhinha, arte 3D e muralismo. No Brasil, o movimento surgiu no final dos anos 70, em São Paulo, e o país é o único país que aceita o grafite como arte, pois aqui as pinturas ganharam características próprias. Devido a isso, os grafiteiros brasileiros são considerados os mais expressivos do mundo.

Na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), aconteceu dos dias 17 a 21 de abril deste ano, a 22ª edição do Festival Nossas Expressões. O Festival existe desde os anos 80 e teve momentos de grande visibilidade na cidade. O evento é promovido todos os anos pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE). Segundo o acadêmico de Geografia e membro do DCE, Guilherme Soares, o objetivo do Nossas Expressões é construir junto aos estudantes espaços que democratizem, valorizem e divulguem todas as expressões culturais da cidade. O tema dessa edição foi “Cultura e políticas para a juventude”.

O muralismo foi organizado pelo DCE e executado por alunos da Universidade, com o objetivo de restaurar visualmente alguns pontos do Campus, como os pilares da ponte seca e o hall do RU. A arte criada pelos grafiteiros foi de livre expressão e ligada ao tema proposto pelo festival. Para que houvesse a intervenção artística, foi necessária apenas a autorização da Pró- Reitoria de Infraestrutura (Proinfra) da UFSM. O material utilizado pelos grafiteiros foi doado pelo DCE e distribuído igualmente entre os participantes do projeto. As pinturas foram realizadas nos dias 17 e 18 de abril, priorizando o horário do meio-dia, pois havia maior fluxo de estudantes e funcionários pelo local para que houvesse maior interação entre público e artistas.

As várias modalidades do grafite

O grafite é qualquer intervenção artísticavisual em meio urbano. Engloba pinturas multicoloridas, preto e branco, frases de cunho político, xingamentos e assinaturas (tag) que servem como demarcação de grupos de pichadores.

Desde a pré-história, o homem sente necessidade de expressar-se. Assim, vai às ruas expor seus pensamentos e visões sobre o mundo, por isso pode ser considerado grafite desde uma pintura rupestre até a pichação em um outdoor. O artista aproveita os espaços públicos, criando uma linguagem intencional para interferir na cidade. Estão inseridas no movimento várias modalidades na arte de grafitar:

Pichação: é o ato de escrever ou rabiscar lugares que integram os espaços públicos como muros, fachadas de edificações, asfalto de ruas ou monumentos, utiliza-se tinta em spray aerossol, stencil ou mesmo rolo de tinta.

Muralismo: é o grafite autorizado, feito com o consentimento público ou privado.

Pixo: é a junção de diversos pixos que têm linhas políticas semelhantes e, em geral, é uma assinatura para identificar um grupo/ coletivo.

Para diferenciar uma tag de um pixo convencional é necessário analisar os traços, pois a tag geralmente é difícil de ler e parece com uma assinatura, enquanto o pixo costuma usar letras espaçadas, as unindo como um desenho.

Bomber: são letras largas e que parecem vivas. São geralmente feitas com duas ou três cores.

Stencil: é a aplicação de spray aerossol sobre molde de papel vazado. Muito utilizado
como manifestação política.

Colagem: é a composição feita a partir do uso de matérias de diversas texturas, sobrepostas ou colocadas lado a lado, na criação de uma imagem.

Do marginal ao politizado

A arte do grafite é valorizada como método de ensino, através de oficinas, nas comunidades e favelas em algumas cidades do país. Hoje, se percebe que o grafite tem caráter social e tira muitas crianças da rua. Além de ocupálas, embeleza e colore as comunidades em que vivem. Como o grafite é uma intervenção artística marginalizada, não recebe apoio dos poderes públicos e privado. Apenas mídias alternativas e coletivos culturais divulgam e apoiam a arte. Por possuir estética periférica, o grafite geralmente não é aceito no centro das cidades, pois remete à realidade das favelas.

Um dos intuitos dos grafiteiros é questionar o sistema político e social em que estão inseridos. Isso, muitas vezes, leva-os a picharem publicidades expostas às ruas como forma de contestação à sociedade de consumo.

Apesar de o movimento estar em crescente aceitação no Brasil, ainda é considerado crime por dano ambiental. A pichação traz cores e questionamentos às ruas. Porém, para maioria da sociedade, é considerado vandalismo, pois interfere no ambiente comum.

Grafite na UFSM

Um dos alunos inscritos para grafitar foi o acadêmico do 3º semestre de Artes Visuais, Daniel Lopes. O seu trabalho foi realizado com tinta látex em um dos pilares da ponte seca do Campus. A intenção do trabalho era restaurar a pintura já desgastada da ponte. O estudante pratica o grafitismo desde 2007 e, para ele, “os grafiteiros colocam sua arte na rua com a mesma consciência que músicos, pintores e atores ocupam o espaço público”.

Arte e Saúde

A atuação do Centro de Apoio Psicossocial (Caps) Cia do Recomeço foi executada através de convite do DCE para participação no “Nossas Expressões”. Ao mostrar a sua arte, os usuários do Caps puderam contribuir com os outros participantes. Eles tiveram a oportunidade de trocar saberes e interagir com estudantes e grafiteiros. A participação dos usuários foi proveitosa para o seu tratamento, pois possibilitou uma atividade diferenciada em que diversas pessoas pudessem apreciar suas criações.

O psicólogo Thiago Alves coordenador do projeto trabalhava com oficinas de stencil no Centro e levou essa prática até o Campus da UFSM. “O stencil entra na minha prática em saúde por perceber, nesta ferramenta artística, uma das formas de potencialização, também de vínculo profissional-usuário e recurso de invenção de vida. Consequentemente, saúde voltadas para a autonomia, a cidadania e o empoderamento dos usuários do serviço. Visa produzir processos de mudança no cotidiano das pessoas que se interessam pela prática dele”, conta Alves.

A grafitagem no Campus concedeu aos alunos e demais participantes a liberdade de criação para expor suas ideias e pensamentos através da arte urbana. Disponibilizou um espaço mais agradável a quem transita pela Universidade ou quem por ali descansa no intervalo das aulas. O resultado do trabalho realizado nessa edição do festival é visto nos pilares da ponte seca e no hall do RU. Também podem ser vistos outros trabalhos da arte urbana em diversos locais da UFSM.

        

 

Bastidores da .txt

Nossa apuração foi feita, primeiramente, pela internet. Assistimos a documentários sobre grafite e lemos artigos sobre essa arte. Após isso, entramos em contato com a página do DCE para solicitar o contato de um dos organizadores do Festival Nossas Expressões, o estudante Guilherme Soares. O estudante nos passou as informações básicas sobre o evento por email junto aos contatos dos artistas participantes do grafitismo.

Um dos artistas foi o estudante de Artes Visuais, Daniel Lopes. A entrevista foi feita no Hall do Centro de Artes e Letras da Universidade. A partir da entrevista pudemos descobrir mais curiosidades sobre o grafite e também conhecemos um pouco da experiência de Daniel com o grafite em Santa Maria.

Outro entrevistado foi o psicólogo Thiago Alves, que participou do grafitismo na UFSM junto com o Centro de Apoio Psicosocial (Caps), do qual é o coordenador. Thiago nos contou sobre o trabalho artístico realizado pelos pacientes.

A reportagem foi muito válida, pois gostamos do tema e tivemos a oportunidade de aprofundar nossos conhecimentos sobre o assunto.

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