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Lazer noturno na Universidade



Nadine e Dani

Daniela Sangalli –
Nadine Kowaleski – nadinerk@gmail.com

O conceito de ócio criativo, desenvolvido na década de 1990 pelo sociólogo italiano Domenico Masi, mescla as atividades de trabalho, tempo livre e estudo. Segundo essa definição, o campus da Universidade Federal de Santa Maria funciona como um espaço de ócio criativo.

Mesmo após um dia intenso de estudos, quando chega a noite, é comum ver jovens concentrados em frente ao Restaurante Universitário (RU) para interagir, conversar, festejar. Neste mesmo espaço, também ocorrem eventos festivos promovidos pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), na União Universitária, e pelos cursos da UFSM, no Centro de Eventos.

Santa Maria tem o título de Cidade Cultura, mas hoje faltam espaços para expressão cultural e também apoio do município. O descuido por parte da administração da cidade com o planejamento dos espaços públicos destinados à cultura levou a um aumento no número de serviços privados de entretenimento. Em função disso, o acesso à diversão noturna em Santa Maria também ficou restrito às camadas de maior poder aquisitivo.

Com o fechamento da boate do DCE, em janeiro de 2013, os universitários perderam um importante espaço de integração cultural gratuito na cidade. De acordo com o acadêmico de Psicologia e membro do DCE, Alex Monaiar, a Boate pautava os preços das outras casas noturnas da cidade: “era um lugar onde estudante entrava de graça. Todas as boates da cidade também tinham entrada gratuita para universitários. A cerveja nos outros lugares era barata. Como que ia ser diferente se o fornecedor era o mesmo da Boate?”, afirma.

Espaços como os bosques da Universidade e a Casa do Estudante Universitário (CEU) são os principais ambientes de interação noturna entre os estudantes que fazem da universidade a sua própria casa. A maioria deles não é natural de Santa Maria, como Mateus Klein, de Chapecó, SC, e acadêmico de Comunicação Social. Como morador da CEU, Mateus Klein conta que teve seus melhores momentos de ócio quando se juntava aos amigos para conversar nos bancos na frente da União Universitária e conhecer novas pessoas que por lá estavam à noite. Muitos desses momentos auxiliam a desenvolver o sentimento de pertencimento à Universidade, não só como uma instituição, mas também como um espaço compartilhado.

Fizemos uma visita especial ao Campus em uma noite de final de semana para encontrar pessoas que aproveitam o espaço efetivamente durante esse período. Era quase madrugada quando conversamos com os estudantes de Matemática Bruno Pimpão, Eduardo Philippsen e Greice Kelly que, junto com Felipe Schardong, militar que mora no quartel, conversavam em frente à CEU, próximos às brasas ainda quentes do churrasco que haviam feito na noite.

E vocês fazem o que além de tocar violão e assar carne?

– Ah, a gente gosta muito de churrasco. Estamos quase sempre na rua, todo domingo tem churrasco. De preferência nesta exata churrasqueira.

E além de ficar aqui no Campus, tem alguma outra opção de lazer que vocês curtem?

– A gente geralmente fica por aqui, às vezes vamos para apartamento de amigos e tal. Algumas ‘junções’. Fora isso nada.

Como o Campus é um lugar público dividido por muitas pessoas, é necessário que certa ordem seja mantida durante a noite. Em frente à Casa, há uma guarita onde o vigilante Lenon Silveira permanece durante a noite para atender a chamados em caso de tumulto. “Os jovens moradores não fazem baderna, são apenas um pouco barulhentos”, afirma Lenon, que é funcionário terceirizado da Universidade.

Um problema constante tem sido o consumo e a venda de bebidas alcoólicas. Este fato é um empecilho para a vida cultural na Universidade, segundo os alunos de Matemática entrevistados. De acordo com Alex Monaiar, a lei que proíbe o consumo é apenas um modo de lidar com a relação jovem-bebida: “eu não acho que essa seja uma resolução do conselho a partir de uma lei, uma lei inteligente. Porque é uma lei que ignora a realidade concreta. As pessoas bebem. As pessoas vendem, compram. A questão é como tu ‘regula’ essas relações sociais muito mais do que tu ‘ignora’ elas”, ressalta. Mesmo com o inconveniente, o DCE mantém suas festas em frente ao RU e faz acordos diretos com a Reitoria.

Quem também utiliza os espaços da UFSM é o grupo de skatistas “Skate Santa Maria – Conexão Roraima”. Depois de um dia de trabalho e estudo, eles se encontram no fim da tarde, já caindo a noite, e utilizam a ciclovia na Avenida Roraima – que dá acesso à Universidade – e do próprio Campus para andar de skate. O solo da biblioteca também é um atrativo para o grupo, de cerca de 15 integrantes, pois tem um “chão liso” perfeito para praticar. O acadêmico de Comunicação Social e participante do grupo, Germano Molardi, afirma que ambientes e atividades assim servem para “relaxar a mente” e interagir. Segundo ele, os vigilantes também nunca se incomodaram com a presença do grupo.

Seja para praticar esportes, promover festas ou simplesmente aproveitar os momentos de ócio com os amigos ao redor de uma fogueira, o campus da UFSM é um espaço de divertimento noturno seguro e acessível. Ocupar os espaços públicos é uma demanda importante não só para os estudantes universitários que carecem de cultura em uma cidade que, com tantos artistas sem incentivo e forasteiros sem grande poder aquisitivo, fazem da Universidade sua casa e também seu bar, sua boate.

Bastidores da .TXT

A pauta levantada pouco mudou durante a apuração. Encontramos os caminhos certos para problematizar e mostrar a importância do Campus da UFSM como um espaço de lazer noturno. Conversamos com quem trabalha no Campus à noite, como os responsáveis pela segurança na entrada do Campus, que nos deixaram assustadas em relação aos assaltos frequentes próximos a Av. Roraima – ainda mais por estarmos carregando uma câmera profissional na mochila.

Os frequentadores do Campus no período da noite também nos mostraram que lá é sim um espaço de diversão e ócio criativo muito importante pra eles que, como a maioria dos Universitários da cidade, não tem muitas opções a baixo custo. Demos muitas risadas naquela madrugada e vimos que mesmo à noite Universidade continua acordada. O secretário do DCE esclareceu que ocupar os espaços públicos culturais vai além de mais opções para uma noite de final de semana, mas que isso é um direito nosso. Ele ainda mostrou para uma das repórteres as instalações da boate do DCE e as mudanças que já haviam sido feitas para sua reabertura.TXT

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