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Ruídos no Campus



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Cibele Zardo – cibzardo@hotmail.com
Diossana da Costa – diossanacosta@gmail.com
Eduardo Simioni – simioni.radaresportivo@gmail.com

Por onde quer que as pessoas estejam ele se faz presente. Incolor, sem forma, porém audível. Essa pode ser a definição do ruído, um fator prejudicial tanto à saúde como ao aprendizado, que permeia o Campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). No espaço destinado aos estudos, em que o resultado das atividades acadêmicas depende, entre outros fatores, da concentração e do bem estar, o ruído atrapalha as atividades no ambiente universitário.

Dentre as principais causas geradoras do barulho estão o trânsito, as manifestações em frente ao Restaurante Universitário (RU) e o som estridente de aviões da Base Aérea que sobrevoam por perto, com frequência. Carros que passam com música em volume alto, ou buzinam em frente ao Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), fazem parte deste cenário. Isso, sem contar as construções que ficam ao lado de prédios com salas de aula e da Biblioteca, locais em que o silêncio se faz necessário para o rendimento do aprendizado.

Segundo o vigilante da Biblioteca da UFSM, Laerte Luiz Fontoura Alves, o som nos apartamentos da Casa do Estudante atrapalha quem trabalha à noite. Às vezes, alguns estudantes que moram no Campus procuram a Biblioteca após o horário de funcionamento em busca de um lugar mais silencioso para estudar. Mesmo com o barulho, Laerte não pode permitir a entrada dos estudantes após a Biblioteca encerrar suas atividades. Entretanto, mesmo com o barulho, os acadêmicos frequentam a Biblioteca, pois precisam estudar, pesquisar e fazer seus trabalhos acadêmicos. Durante o dia, o que incomoda os funcionários são as obras que ainda estão em andamento e os aviões. O vigilante, que trabalha há 25 anos na UFSM, diz que o problema não é recente, pois desde que começou a trabalhar na Instituição, há reclamações de funcionários e estudantes.

Assim, toda a comunidade acadêmica é afetada pelas consequências oriundas da poluição sonora. Funcionários e alunos expostos diariamente ao barulho correm o risco de desenvolver problemas de saúde. Conforme o professor de Otorrinolaringologia da UFSM, Fabrício Scapini, acima de 60 decibéis (dB) o ruído começa a causar incômodo. Quando em excesso, ele prejudica o sono e altera o humor, o que resulta em irritabilidade, ansiedade, cansaço, alteração de memória e concentração. Há maior produção de adrenalina, com aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial. Em relação à audição, qualquer trabalhador exposto ao ruído pode desenvolver Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair) com o passar dos anos. A Pair começa lentamente e atinge seu nível máximo após dez ou quinze anos de exposição.

Posicionamento da UFSM

O bom senso, o respeito, o diálogo e a conscientização por parte da comunidade acadêmica são fundamentais para que a presença de ruídos no Campus seja diminuída. Segundo o engenheiro e coordenador de Obras e Planejamento Ambiental e Urbano da Pró-Reitoria de Infraestrutura (Proinfra), Edison Andrade da Rosa, a Universidade utiliza o Código de Posturas do Município de Santa Maria e adere às normas da legislação federal sobre o assunto. Nesse sentido, o intervalo do meio-dia às 13h é liberado para divulgação em frente ao Restaurante Universitário. Além disso, as carreatas, que antigamente eram muito frequentes na UFSM, não são proibidas. No entanto, a Proinfra procura evitar que elas aconteçam para manter a ordem interna do Campus. O problema fica por conta da aplicação das normas, já que se trata de fatos isolados e não há como a vigilância prever ou controlar o instante de propagação dos ruídos. Abaixo mais informações a respeito das legislações seguida pela UFSM.

Legislação municipal

Conforme o artigo 21 da Lei Municipal Complementar da Polícia de Costumes, Segurança e Ordem Pública: “É proibido perturbar o bem-estar público ou particular com sons ou ruídos de qualquer natureza, produzidos por qualquer forma, que ultrapassem os níveis permitidos para as diferentes zonas e horários”. O artigo 23 do mesmo documento mostra que os níveis de intensidade de som e ruídos devem diminuir ao longo do dia. No horário das 07h às 19h, a emissão de ruídos é tolerável. Já das 19h às 22h deve haver redução do barulho. E, entre 22h às 07h, o silêncio deve ser absoluto.

Legislação federal

A Legislação Federal que vigora sobre o assunto é conhecida como Lei das Contravenções Penais, e define no artigo 42 três situações que envolvem o ruído. O inciso I fala sobre a ‘‘perturbação de alguém, trabalho ou sossego alheio, as gritarias ou algazarras’’. Já o inciso II aborda o exercício de profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescrições legais. Por fim, o inciso III fala sobre o abuso de instrumentos sonoros ou sinais acústicos. Por serem contravenções penais (infrações de menor gravidade que o crime) podem levar o infrator à prisão simples de quinze a três meses, ou multa, segundo o decreto-lei 3668/41 de 1941.

FONTES GERADORAS E CONSEQUÊNCIAS À SAÚDE

Combate ao ruído Pessoas de diferentes Centros, como do Centro de Ciências da Saúde (CCS), de Artes e Letras (CAL), de Tecnologia (CT) e de Educação (CE) se uniram no ano 2000, para dar origem ao projeto Acústica. Em 2009, foi oficializado o curso de Engenharia Acústica na UFSM, que se integrou ao projeto. O grupo multidisciplinar, que é cadastrado no Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), preocupase, principalmente, em levar informações às pessoas sobre as consequências à saúde em função do ruído.

Nas palavras da professora doutora em Engenharia Acústica da UFSM, Dinara Paixão, “o ruído é um contaminante que não tem cor, não tem sabor e nem forma. Então, quando se desliga a fonte, ele desaparece. Se torna mais perigoso, pois, embora você desligue a fonte e ela desapareça, como é uma energia, fica atuando no corpo do indivíduo, e as pessoas não têm noção do significado de tudo isso. O ruído não causa diretamente as doenças, mas ele as predispõe, como no caso do estresse”.

 

 

Surge a Conscientização Nacional

No mesmo ano de criação do curso de Engenharia Acústica, a Sociedade Brasileira de Acústica (Sobrac) começou a apoiar a criação do “Dia da Conscientização Nacional Sobre o Ruído” no Brasil, nomeado Inad. Em 2009, foram feitas atividades no Campus, que contaram com uma programação de rádio durante toda a manhã e com a participação de uma fonoaudióloga, um músico e integrantes do curso de Engenharia Acústica. Foram debatidos os problemas e as curiosidades acerca da questão que envolve o barulho.

Em janeiro de 2010, com o apoio da Câmara dos Vereadores de Santa Maria, foi sancionada uma lei que institui a criação da Semana Municipal de Conscientização Sobre o Ruído. A partir daquele ano, as atividades foram realizadas sempre no dia 25 de abril, considerado o Dia Internacional da Conscientização Sobre o Ruído.

Dentre as instituições que apoiam a causa e os ativistas envolvidos estão o Batalhão de Polícia Ambiental, a Prefeitura Municipal, alunos do Centro Universitário Franciscano (Unifra) e a Câmara de Vereadores de Santa Maria, além dos acadêmicos do curso de Engenharia Acústica da UFSM.

Exame gratuito à comunidade

Na Semana Nacional de Conscientização, um ônibus com cabine audiométrica, concedido pela Prefeitura, visita instituições de ensino da cidade para fazer audiometrias – exames que avaliam a capacidade do paciente para ouvir sons. O ônibus visita escolas municipais e de regiões carentes, para atender às pessoas que não têm acesso a esse tipo de exame. Desse modo, professores são orientados a observar os alunos que apresentam certa dificuldade de entendimento e que frequentemente pedem para repetir o que foi dito, pois podem apresentar algum tipo de problema auditivo.

Atividades de incentivo

Todos os anos, no dia 25 de abril, os alunos, com o apoio da Polícia Ambiental, realizam a chamada “Blitz no trânsito”, tarefa em que distribuem materiais de incentivo à conscientização, confeccionados pelo Grupo Acústica. A ideia se originou do pressuposto de que os ruídos domésticos e urbanos se relacionam, em primeiro lugar, com os comportamentos individuais e coletivos.

O fomento à conscientização também ocorre nas escolas de Santa Maria. Os acadêmicos engajados no Projeto Acústica trabalham com oficinas para levar informações sobre o ruído como, os riscos que ele representa ao homem. Conforme o relato da professora Dinara Paixão, foram realizadas medições de níveis de pressão sonora através de espetáculos artísticos com os próprios alunos da Engenharia Acústica. À medida em que cantavam e tocavam instrumentos musicais, era exibido como funcionam os níveis dos sons graves e agudos em um painel, além de apontar os níveis recomendados para fins de saúde.

Debates na Câmara de Vereadores se inserem no cronograma das atividades da Semana de Conscientização. O primeiro deles, em 2008, discutiu a relação do ruído com o trabalhador, e estavam presentes médicos da área do trabalho e integrantes do Ministério do Trabalho. A instalação de pequenas empresas em áreas residenciais da cidade foi um dos temas levantados pelos trabalhadores.

Influência no aprendizado

Trabalhos científicos sobre a repercussão dos ruídos na aquisição de conhecimento mostram que há prejuízos tanto para o aluno como para o professor. Nas salas de aula expostas ao barulho, explica Dinara, os professores precisam de um grande esforço vocal, o que acarreta problemas nas cordas vocais. Essa situação decorre do tempo de reverberação elevado do som – fenômeno em que o som bate e reflete diversas vezes dentro da sala, o que gera uma confusão sonora e faz com que ele não chegue nítido a quem está ouvindo.

Nesse contexto, a professora complementa que “a sala de aula é um espaço definido para a voz, a fala. Então, quando se faz um projeto acústico de um local, calcula-se qual é o tempo de reverberação que melhor irá se adequar a esse ambiente e para que o local será destinado.”

Com o intuito de ajustar o ambiente interno dos locais de aula para torná-lo melhor em sua finalidade, o Grupo Acústica fez medições nas salas do curso. Cadeiras, classes e mochilas foram medidas para poder calcular qual a resposta do espaço quando estiver lotado, com metade dos alunos ou vazio.

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Locais de atenção

O Hospital Universitário de Santa Maria desperta interesse sobre a adequação dos espaços internos. Sabe-se que, fatores como o descanso e sono sem estar exposto a ruídos intensos contribuem para o tratamento dos pacientes. Todavia, o entorno do HUSM é permeado por fontes de barulho que andam na contramão do silêncio necessário para a recuperação dos pacientes: especialmente de veículos e o ruído aeronáutico.

Uma simples decisão na orientação do trânsito, levando em consideração a arquitetura do prédio do Hospital, como a direção das janelas, por exemplo, são medidas que podem fazer a diferença, acredita a docente do curso de Engenharia Acústica. Outro local em que há grande quantidade de pessoas, o Restaurante Universitário, também merece atenção na estrutura física. Devido às questões de higiene, o RU possui superfícies lisas, o que nem sempre é favorável para a acústica.

“Precisa de um aspecto de planejamento real do que acontece no ambiente, e por isso, é importante que a questão acústica não seja esquecida quando se faz um planejamento urbano e de mobilidade. Trabalhar esses ambientes para que eles tenham uma acústica mais adequada para o bem estar das pessoas”, afirma Dinara.

O barulho das aeronaves

Dentre os locais mais afetados pelo barulho das aeronaves estão os Centros de Tecnologia, o de Ciências Naturais e Exatas (CCNE), o HUSM e o Colégio Técnico Industrial (CTISM). A constatação se define pela localização dos prédios, que coincidem com a região denominada de “Cone de aproximação” da pista da Base Aérea de Santa Maria – região por onde as aeronaves passam e que permite pousos e decolagens com segurança. Ainda assim, segundo Edison Andrade da Rosa, a comunidade acadêmica não se manifestou sobre os ruídos produzidos pelos aviões da Base Aérea e do Aeroporto de Santa Maria.

Com relação ao sobrevoo constante de caças e aviões que emitem sons graves no ambiente acadêmico, não há preocupações de que o barulho emitido gere algum tipo de consequência à audição. Embora interrompam explicações de docentes durante as aulas e causem desconforto aos ouvidos, os sons das aeronaves não têm como ocasionar danos auditivos, uma vez que esses danos dependem da intensidade e da distância da fonte geradora do som até os ouvidos.

Por trás do ruído

O professor e otorrinolaringologista da UFSM, Fabrício Scapini, faz uma ressalva sobre a quantidade de som que uma pessoa pode tolerar sem sofrer danos aos ouvidos. “Os limites aceitáveis para intensidade e tempo de exposição ao ruído são regulamentados pela Norma Regulamentadora nº15 (NR-15), do Ministério do Trabalho, sendo que para uma jornada de trabalho de 8 horas diárias são permitidos até 85dB. O tempo de exposição pode ser reduzido a até 7 minutos diários para intensidades de 115dB”, afirma Scapini.

Prejuízos à saúde

A exposição excessiva ao ruído pode provocar zumbido por horas ou dias. Dependendo da intensidade e do tempo de exposição, este desconforto pode tornarse permanente. As queixas mais comuns, relacionadas ao ruído, são irritabilidade, desconforto na audição, zumbido, ansiedade, insônia e diminuição da concentração. Conforme aponta pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2011, o ruído ambiente ocasiona uma carga de doença que, atualmente, é a segunda em magnitude dentre os fatores ambientais e perde somente para a poluição do ar.

Perda Auditiva Induzida por Ruído

A Pair habitualmente tem evolução lenta, com perda progressiva da audição ao longo dos anos, principalmente nas frequências agudas, isto é, não afeta toda a audição. Inicialmente, os sintomas são mais relacionados ao zumbido e ao desconforto causado pelo ruído. Com o passar dos anos, tende a ocorrer dificuldade para ouvir sons agudos, bem como maior dificuldade de ouvir e entender as consoantes das palavras (como sons de “f ”, “v”, “s” e “ch” que têm frequências agudas). Além dos sintomas auditivos, aqueles chamados extraauditivos, como distúrbios do sono, ansiedade, irritabilidade, alteração de concentração e dor de cabeça, também são comuns, enumera Scapini.

Como proteger os ouvidos

Para o médico, a principal medida de proteção é a prevenção. Evitar se expor a sons intensos, afastando-se, por exemplo, de caixas de som de casas noturnas e shows, previne problemas futuros. Um dos hábitos mais comuns do dia-a-dia, especialmente na população jovem, é a utilização de tocadores de música com fones de ouvido. Esse hábito pode ser prejudicial à audição na medida em que a intensidade pode atingir 120dB, apenas dez decibéis a menos que um avião produz ao decolar. Dessa forma, recomendase que o volume seja ajustado para até 60% da capacidade por até 90 minutos diários. “Nos casos de exposição no trabalho, como na construção civil, nas serrarias e em aeroportos, devem-se utilizar os equipamentos de proteção individual (EPI), que podem ser circum-auriculares (concha) ou de inserção (pug.)”, finaliza Scapini.

Bastidores da .txt

O processo de produção da matéria “Ruídos no Campus: fontes geradoras e consequências à saúde” foi feito em 4 momentos. Primeiramente, nós escolhemos o tema “Ruídos no Campus”, uma vez que haviam especulações quanto à reclamações da comunidade acadêmica em relação aos barulhos que se fazem presentes na Universidade. Desde aquele momento, sabíamos do desafio que enfrentaríamos ao tentar buscar fontes que trouxessem questões mais específicas sobre o referido tema.

No segundo momento, pensamos nas fontes que poderíamos recorrer, pensando de que forma essas fontes ajudariam em uma melhor elucidação do problema em questão. Definidas as fontes, fomos à apuração. Médicos, engenheiros e a comunidade acadêmica como um todo nos deram o suporte necessário para, enfim, definirmos o viés da matéria: os ruídos exercendo influência no dia-a-dia acadêmico. Ademais, buscamos retratar questões envolvendo as legislações que referem-se à produção de ruídos em locais públicos, para ostentar à comunidade as normas que vigoram e como adequar-se à elas.

O terceiro momento foi a produção da matéria. Com o foco definido e as fontes apuradas, dividimos a equipe e cada um ficou responsável por escrever o que conseguiu apurar e, no final, unir tudo e organizar.

E o quarto momento foi encontrar artes que mostrassem a dimensão pretendida na matéria. Contatamos a acadêmica do 5º semestre de Desenho Industrial da UFSM, Maria Teresa Vivian Kurek, que desenhou as três artes presentes na matéria impressa.

Foi um grande desafio escrever sobre esta problemática que envolve os ruídos na UFSM. Porém, o resultado foi muito compensador e esperamos que tenham apreciado a leitura.txt

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