As pessoas com deficiência (PcD’s) têm direitos assegurados por lei, mas isso passa despercebido para grande parte da sociedade. Ruas cheias de buracos, longas distâncias sem calçamento, calçadas sem acessibilidade a pessoas com deficiência visual, falta de elevadores para cadeira de rodas. Ainda há muito para adaptar.
A jornalista e historiadora Cristiane Ramos Gonçalves, que tem dois filhos com deficiência, percebe que a acessibilidade em alguns estabelecimentos e locais públicos de Santa Maria, no centro do Estado, é bastante comprometida: “A regra é não ter acessibilidade, a exceção é se perceber acessibilidade. É só observar por exemplo as ruas. Tanto centro quanto bairro, a gente percebe que dificilmente tem uma rampa de acesso, não tem o sinalizador ou semáforo com temporizador. Os restaurantes não têm mesa, em sua grande maioria, não têm mesa que comporte o encaixe de uma cadeira de rodas, os banheiros não dispõem de acessibilidade”, relata.
Falar em PcD’s não é lembrar apenas daqueles que usam cadeiras ou andadores para se locomover. A legislação considera PcD a pessoa que vive com alguma deficiência física, auditiva, visual, intelectual ou múltipla. Além disso, há pessoas com condições invisíveis (próteses, pinos, parafusos) e temporárias (quebraduras, cirurgias). A acessibilidade deve ser para todos, então deve-se incluir, também, os idosos, as gestantes e as pessoas com crianças de colo.
Como se não bastasse esse problema da ‘falta’, ainda há a questão do respeito àquele que necessita. As vagas reservadas de estacionamento, por exemplo, são constantemente utilizadas por pessoas que não precisam, não possuem cartão e cadastro nas prefeituras para tal uso. E, algumas vezes, quando questionadas, acreditam ter direito. Alguns são grosseiros com quem solicita a vaga. Segundo Cristiane, já houve inúmeras situações assim quando foi estacionar para deixar seus filhos na escola: “Nas duas únicas vagas especiais que tem em frente ao colégio e única vaga especial que tem atrás do colégio, utilizada por todo tipo de pessoas, e pessoas assim na sua infinita maioria quando questionadas por estarem usando indevidamente a vaga dizem que usam e vão continuar usando porque é mais perto, porque estão com pressa e a gente que espere”, desabafa.
Situações constrangedoras se somam o tempo todo. Algumas pessoas ou desconhecem o direito daquele que necessita ou simplesmente não se importam. A fisioterapeuta Mariluza Souza de Souza, 54 anos, que atende em uma clínica de reabilitação com pacientes que passaram por cirurgias em membros superiores e inferiores, alguns com necessidades especiais invisíveis, e também temporárias, fica muito decepcionada com algumas situações frequentes. “Vejo isso na clínica em que trabalho. Na frente, há vagas reservadas. Isso é uma falta de respeito, estacionar em local reservado para pessoas portadoras de necessidades especiais”, opina.
Empresas com acessibilidade
Algumas empresas têm investido na adaptação de seus espaços para garantir acessibilidade a todos. É o caso de um laboratório localizado em Santa Maria, que dispõe de portas mais largas para passagem de cadeirantes, rampas e corrimão para as pessoas com dificuldade de locomoção, banheiro adaptado, sala para gestantes com poltronas maiores e mais confortáveis.
A gerente da empresa, farmacêutica Aline Scaramussa, diz que “o laboratório sempre se preocupou muito em atender todos os tipos de pessoas, com necessidades especiais também. Somos uma área que todos precisam, então sempre tivemos preocupação com todas as pessoas que precisam ocupar nossos serviços”.
Reportagem: Graziela Machado Rocha
Matéria produzida na disciplina Redação Jornalística II, do curso de Jornalismo do Campus da UFSM em Frederico Westphalen, no 1º semestre de 2021, ministrada pela Professora Luciana Carvalho.