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“As Minas da Cena” – o rap feminino brasileiro alcançando mais espaço em 2024



Uma dessas minas é Nina, que se apresenta nesta sexta no Rock In Rio.

Texto e arte: Teresa Vitória / Fotos: Divulgação

O rap feminino no Brasil é uma parte vibrante e importante da cena musical do país. Surgiu nas décadas de 1980 e 1990, principalmente nas periferias urbanas, como uma forma de expressão cultural e social para as mulheres. Assim como o rap em geral, as letras abordam uma variedade de temas, desde questões políticas e sociais até experiências pessoais e desafios enfrentados pelas mulheres na sociedade.

A cena das mulheres sempre existiu no rap, mas hoje, em 2024, temos uma grande força de mulheres ganhando visibilidade. Dentre os nomes mais promissores do país, temos: Nina do Porte, Tasha e Tracie, Slipmami, Duquesa, Ebony, MC Luana, e outras artistas que trazem a cena feminina para o holofote.

Com esse holofote nas mulheres, temos também o destaque para suas dores e anseios que precisavam ser ditos após muito tempo de vozes caladas. Entretanto, o rap feminino vai muito além disso.

Os esquemas sociais em que vivemos sempre impediram que elas pudessem falar explicitamente como os homens da cena fazem. Somente hoje, em 2024, graças às plataformas digitais e o alcance para outras mulheres, a cena feminina vem sendo recebida cada vez mais.

As rimas abordam a autoestima, sexualidade, liberdade feminina, independência financeira e também a raiva da mulher. As mulheres sentem, as mulheres transam, as mulheres bancam e as mulheres também podem ser bravas ou como abordado em muitas músicas masculinas podem levar uma vida sexualmente ativa, noturna e fechar seus próprios “combos no rolê”.

Uma rapper que faz esse trajeto com maestria em forma de música é Anna Ferreira, ou como é conhecida: NINA do Porte. Com direito à conquista de espaço inclusive na atual edição do Rock In Rio, em que se apresenta nesta sexta-feira, dia 20/09.

Com mais de 2 milhões de ouvintes mensais no Spotify, como o vulgo da rapper já diz: a bruta, a braba, a forte, uma das pioneiras do grime e do drill no Brasil (gêneros musicais que vêm do rap/trap com influências internacionais e ritmo de 140 bpm). Através dos dois álbuns de estúdio lançados pela rapper, “PELE” em 2022 e “PTGQJM” em 2023, vemos a trajetória de uma mulher superando seus traumas de abusos, agressões e uma relação extremamente tóxica, e como Nina se colocou na linha de frente de sua própria história.

Em seu primeiro álbum “PELE”, como o nome já diz, Nina veste suas dores como uma pele. Onde retira a CULPA (nome de uma das faixas do álbum) de si mesma, ou melhor, de ANNA (outra faixa), uma menina preta que cresceu na cidade alta do Rio em volta de uma dura realidade, Enquanto no PELE ouvimos rimas que trazem dores femininas à vista, ao som do drill, sendo uma das precursoras do estilo no país. Para a rapper, o processo de criação deste álbum, e revisitar seus traumas mais profundos foi doloroso, mas necessário. Ela conta:

Em seu segundo álbum, “Para Todos os Garotos que Já Mamei”, ouvimos a versão curada de suas cicatrizes.

“Foi um álbum que veio em um momento leve da minha vida, é sobre amor próprio, sobre se permitir sentir amada, principalmente sendo uma mulher preta”, ressalta Nina. Já na primeira música, temos uma sonoridade deliciosa em “Faz Assim”, e uma letra sexualmente explícita, onde a mulher é ativa e está no comando. Sexo é bom, todo mundo gosta, por que isso é um tabu para mulheres?

Em torno deste álbum vemos letras sobre autovalorização e libertação sexual, a exemplo de “Prece”, que conta com participação de Baco Exu do Blues, uma das referências do rap nacional. Em “Despedidas”, ouvimos: “Mas dessa vez me escolho acima de tudo”. A letra mostra que não é errado se escolher, ao invés de voltar para aquele relacionamento que te fez mal. Nina diz que o público feminino é o que mais abraça seu trabalho, o mesmo público que por muito tempo foi invisibilizado em questões de protagonismo. Principalmente no cenário do rap.

E diz que o que a inspirou foi justamente a falta de mulheres abordando certos assuntos, que muitas anseiam ouvir.

A cena feminina passa a visão de que a mulher não precisa sempre ser bondosa e passiva pelo outro, ela pode escolher, e isso não é errado ou egoísta. É o caso de “Karma”, uma colaboração com MC Luanna, uma promissora voz da cena também, faixa que trata sobre se retirar do papel de “mulher traída” ou de “coitadinha”, como estamos acostumados a ver. A mulher pode fazer pior não dizendo que sente orgulho, mas que também não sente culpa, vista na frase: “Enquanto ele tava com várias na rua eu tava pelada em outro banco de trás”.

É um álbum sobre cura, empoderamento, sobre a sexualidade feminina e a mulher assumindo seu lugar de poder que por tanto tempo foi negado. Nina conta: “Já vi muita gente desacreditar do meu trabalho, que não ia dar certo, que meu flow era quadrado, e hoje eu vejo essa mesma galera na platéia me olhando”. E, mesmo com as críticas, ainda asssim Nina percebe como sua música impacta determinados gêneros dentro do rap.

O rap feminino dá às mulheres esse poder. Não só Nina, mas outras artistas da cena estão furando a bolha, e finalmente esses tópicos estão sendo abordados após quase 30 anos. E ressalta: “Hoje o papel da mulher na cena do rap brasileiro é comandar mesmo o bagulho! Quando falamos sobre ritmo e poesia, acho que as mulheres estão muito à frente que qualquer outro homem na cena. E hoje nossa função é tocar essa cena pra frente, e o que temos feito na cena é algo que há muito tempo não era feito, que é: movimento”.

“A gente tá fazendo a música sair da mesmice, do mesmo lugar, mesmas bolhas, mesmos ciclos, para se transformar em outra coisa.”

Para finalizar, Nina fala que o rap feminino sempre vem evoluindo e sempre vai evoluir. Mas ainda não é um espaço “nosso” , ou seja, das mulheres.

É necessário muita coragem para se fazer isso, pegar um gênero que sempre foi predominantemente masculino, com assuntos masculinos, e transformar em arte, numa narrativa própria de força feminina.

*Um agradecimento especial à cantora, nacionalmente conhecida, que tirou um tempo de sua agenda lotada para conceder essa entrevista com muito carinho, e também por toda sua mobilização no Instagram em prol das vítimas das enchentes ocorridas este ano no Rio Grande do Sul.

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