Atletas que largaram tudo em busca de um sonho. Jovens com deficiência que estão voando alto através do esporte. E um atleta que já disputou duas paraolimpíadas.
Texto: Andrei Sartori, Emanuel Costa dos Santos, Irênio Candido silva filho e Lucas José Bortoluzzi
O clube de futebol União Frederiquense, da cidade de Frederico Westphalen fornece em suas categorias de base uma oportunidade na vida de garotos, muitas vezes vindos de lares carentes para buscar no esporte uma chance de mudar suas vidas e a de suas famílias.
O ex-jogador do União e atual coordenador das categorias de base, Douglas Rinaldi, relata a dificuldade dos atletas para se firmarem no clube, pois muitos deles vêm para uma realidade completamente diferente. Assim, o trabalho feito com os atletas é tanto físico quanto psicológico.
“Nós buscamos passar uma mentalidade para eles, que os atletas de grande rendimento têm que se acostumar com todas as adversidades, sempre procuramos eles para conversar e auxiliar para não desistir deste sonho”.
Além do clube de futebol, a cidade de Frederico Westphalen conta com a APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) que auxilia mais de 150 jovens com deficiência, que, além de atividades educacionais, lá encontram diversas modalidades esportivas, como futsal, bocha adaptada, handebol, natação, ginástica, atletismo e tênis de mesa.
Jussania Basso Bordin, diretora da instituição, conta que, em 2022, a APAE de Frederico Westphalen participaram das Olimpíadas Estaduais das APAEs, na cidade de Canoas (RS), na qual oito atletas conseguiram se classificar para disputar em Aracaju (SE) as Olimpíadas nacionais das APAEs.
“Fomos numa delegação de 12 alunos, oito de Frederico Westphalen, e nossos oito atletas retornaram como medalhistas, em 2º e 3º lugar, o que é um fato muito grande, um orgulho para nossa cidade”.
De acordo com a Associação Brasileira de Desportos de Deficientes Mentais (ABDEM), no Brasil, existem cerca de 25 milhões de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência, que, muitas vezes, encontram no esporte as oportunidades que lhes faltam em outros setores da sociedade.
“Percebemos que os jovens gostam muito dos esportes. Eles têm horários normais de educação física, sempre buscando evolução, nem sempre visando competição, trabalhando, muitas vezes, para o desenvolvimento físico dos jovens”, complementa a diretora.
O atleta paraolímpico Vanderson Chaves, de 28 anos, natural da cidade de Porto Alegre, relata que conseguiu encontrar um novo sonho através da esgrima, mostrando todo o seu talento e participando de duas paraolimpíadas, Brasil 2016 e Japão 2020.
“Eu descobri a esgrima, através de uma entrevista de emprego na Prefeitura de Porto Alegre com um amigo que eu tinha lá, na época, eu era muito novo, demorei ainda mais um ano para tomar coragem e ir lá conhecer. A partir daquele momento, eu me apaixonei pela esgrima e foi assim que ingressei no esporte, podendo disputar duas paraolimpíadas”, relata o atleta.
Vanderson é portador de deficiência física, pois perdeu os movimentos das duas pernas após ser atingido por uma bala perdida em 2006. Naquela época, ele tinha o sonho de se tornar jogador de futebol profissional.
O atleta paraolímpico ainda relata a dificuldade para se manter dentro do esporte, pois, muitas vezes, os atletas não recebem o reconhecimento que é deles de direito.
“Antes de eu ser cadeirante, quando morava nas periferias de Porto Alegre, eu nem sabia que existia esporte paralímpico, na minha escola tinha muita acessibilidade, e eu, naquele momento não sabia por que existia aquilo, eu só fui saber depois que eu precisei usar. Hoje em dia, a situação ainda é precária, porém já melhorou muito comparado ao que era no passado, mas eu ainda sinto uma falta de poder falar mais sobre o esporte, sobre a acessibilidade, porque nas mídias sociais falam somente sobre futebol e outros esportes, que financeiramente são melhores para esses veículos de comunicação”, declara Vanderson.
União Frederiquense, a APAE e a história do Vanderson, são exemplos de como o esporte pode ser e é ferramenta essencial para a inclusão, mostrando que a dedicação e o amor pelo esporte podem mudar vidas. São histórias como essas que nos permitem entender a importância dos programas sociais e o papel do Estado na vida pessoal e competitiva dos atletas. Pode não estar presente nos assuntos cotidianos, mas muda a perspectiva de vida dessas pessoas, mostrando que investir no esporte é investir em saúde, não só do corpo mas também da mente.