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“Sou resultado de uma desinformação absoluta”, o dilema de estudantes com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade



Como é a inclusão e abordagem da comunidade escolar em relação a pessoas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

“Eu sou resultado de uma desinformação absoluta”, foi assim que o jornalista Bruno Nasser se definiu em depoimento no vídeo “TDAH histórias reais”. A população no geral tem pouco conhecimento sobre o transtorno e acaba apresentando preconceito, dilema que afeta diretamente a pessoa com essa neurodivergência. Juntamente a ele, outras 2 milhões de pessoas no Brasil passam pelas mesmas questões ao viver com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH. Na maioria dos casos, a dificuldade inicia-se na primeira infância – até os cinco anos de idade – e o diagnóstico pode ser feito a partir dos primeiros sinais que são percebidos nas instituições de ensino e até mesmo em casa, durante atividades cotidianas. 

O TDAH, segundo o site O TDAH no DSM-5 – Tudo sobre TDAH, é um dos transtornos do neurodesenvolvimento, que são  caracterizados por dificuldades no desenvolvimento que se manifestam precocemente e influenciam o funcionamento pessoal, social ou acadêmico. Os sintomas mais comuns são a hiperatividade-impulsividade e/ ou desatenção. 

A escola possui uma grande influência no diagnóstico, já que muitas das características do transtorno são notadas pela primeira vez pelos professores. É necessário trabalhar os métodos de educação de forma a abraçar essas crianças e adolescentes. 

Para a psicopedagoga gaúcha Micheli Lorenset, que atua na clínica Aprender Brincando, como não existe um exame específico para diagnosticar o transtorno, o processo pode ser longo. A escola e a família possuem um papel fundamental, já que o transtorno se dá a partir de uma avaliação com equipe interdisciplinar, em que cada profissional analisa e avalia habilidades específicas do sujeito com suspeita de TDAH. A psicopedagoga ainda lembra que, no fim de 2021, foi sancionada e publicada a Lei Federal 14.254 que assegura direitos aos estudantes com TDAH e qualquer outro transtorno de aprendizagem. A lei prevê que seja feito todo o acompanhamento ao estudante, desde o diagnóstico até o apoio educacional e terapêutico nas escolas da rede pública e privada durante as etapas da educação básica, assim, garantindo capacitação aos professores.

Fonte: Arquivo pessoal/Vanessa Bencz

 O neurologista e especialista em TDAH, Marco Antônio Arruda, falou sobre esse transtorno para a Redação Donna e explicou que os pais não devem procurar uma escola especial para seus filhos. Segundo ele, “a maior parte das escolas tem condições de trabalhar em conjunto com a família e com um especialista, que faz o acompanhamento médico do paciente, para superar os desafios do problema”. Para a diretora da educação infantil Maria Cristina Cotrim, as crianças que possuem TDAH são observadas constantemente para que sempre ocorra um bom aprendizado, mas quando necessário são encaminhadas para a chamada sala de recurso, onde uma professora de Atendimento Educacional Especializado (AEE) realiza um acompanhamento pessoal.

De acordo com a revista científica Neuroscience and Biobehavioral Reviews, o transtorno de atenção e hiperatividade afeta 5,9% de crianças e adolescentes, atingindo parte do neurodesenvolvimento na fase escolar. Com os avanços de pesquisas científicas sobre o tema, as escolas se aperfeiçoaram nos últimos anos e estão mais preparadas para lidar com o TDAH, mesmo que as condições técnicas para proporcionar a inclusão e a aprendizagem ainda encontrem-se longe do ideal. 

A escola tem uma grande influência em como a pessoa com TDAH vai iniciar sua vida e seu tratamento, pois o transtorno faz com que o seu aprendizado aconteça de uma forma diferente e, no caso de a escola não buscar formas atualizadas de ensinar, toda a vida acadêmica do aluno pode ser prejudicada. A Secretária da Educação da cidade de Santana do Livramento, Elis Duarte, deixa claro que todas as instituições de ensino deveriam receber orientações prévias e realizar um planejamento, identificando os melhores métodos para auxiliar no desenvolvimento dos alunos.

Segundo a psicopedagoga Micheli Lorenset, existem estratégias em sala de aula que auxiliam os estudantes com TDAH em seu processo de aprendizagem, como por exemplo ter assento preferencial na sala de aula, realizar atividades mais complexas logo no início da aula, utilizar estímulos visuais e sensoriais para facilitar a compreensão do conteúdo, até mesmo mudar o tom de voz, dando ênfase para o que for mais importante que o aluno aprenda, realizar mais trabalhos de campo, propor alternativas lúdicas de aprendizagem e mudar as estratégias de avaliação, fazendo com que a metodologia seja adequada para este estudante.

Para Marcelo C. Reinhardt e Caciane A.U. Reinhardt, no artigo “Attention deficit-hyperactivity disorder, comorbidities, and risk situations”, crianças e adolescentes com TDAH são mais vulneráveis em relação ao bullying. Em um estudo com crianças de 10 anos, eles identificaram que pessoas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade possuem uma chance maior de serem envolvidos em violência escolar, tanto como agressores, quanto vítimas. 

Jaine*, estudante de 14 anos, conta que o bullying foi um fator que influenciou muito a sua vida escolar já que, por falta de conhecimento, os colegas faziam piadas acerca de suas características e sobre o tratamento. Ela enfatizou que isso foi um dos maiores problemas em relação ao transtorno, pois com as condições certas a aprendizagem ocorre, mas o prejulgamento e a discriminação a prejudicam de várias formas.

Micheli Lorenset afirma que devemos analisar cada sujeito de forma única e singular, acreditando e valorizando primeiramente as habilidades e potencialidades dele. É este olhar cuidadoso que faz a diferença em qualquer intervenção, seja no âmbito escolar, clínico ou familiar.

Para Bruno Nasser, o transtorno moldou suas relações pessoais e o fez acreditar que suas características fossem imperfeições, que o limitavam e faziam não ser bom o suficiente para as pessoas que o rodeavam. O documentário ‘TDAH, histórias reais’ foi realizado 4 meses depois do seu diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, o qual foi tardio, sendo realizado apenas com 28 anos, assim apontando que não sofreu bullying durante a infância, já que andava com os grupos que praticavam esse tipo de violência escolar.

O jornalista ainda relatou uma experiência de trabalho em que foi demitido por não cumprir exigências que suas características com TDAH não lhe possibilitaram executar. Além disso, contou que cursou jornalismo, direito, e atualmente trabalha como roteirista, mas que as dificuldades e lutas diárias são intrínsecas à realidade que um adulto que vive com o transtorno. 

*Menor de idade, protegida sob pseudônimo 

 

Reportagem: Ana Carolina Zago Mendes, Isabeau Cotrim, Taís Schakofski Busanello, Yasmmin Soares Ferreira

Matéria produzida na disciplina Redação Jornalística II, do curso de Jornalismo do Campus da UFSM em Frederico Westphalen, no 2º semestre de 2021, ministrada pela Professora Andrea Franciele Weber.

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