Ganhando cada vez mais público, autores independentes explicam o que é essa independência e como ela funciona.
“É botar a cara a tapa e não parar de trabalhar nunca.” A fala é da escritora independente Milena Farias, sobre o que é ser um autor independente no mercado nacional. “Tem que estar o tempo inteiro produzindo e pensando em novas formas de divulgar o trabalho. E, antes disso, passar por todas as etapas da pré-publicação sozinha. Tem que correr atrás de revisão, diagramação, capista, entre outros. É bastante cansativo, mas é a forma que temos de colocarmos nossa arte no mundo quando não conseguimos chegar a alguma editora. No entanto, o carinho e o apoio dos leitores e de outros autores é sensacional. Descobri o mundo indie em 2021 e foi como descobrir toda uma nova realidade.”
A escritora, embora já tenha publicado um livro de contos por meio de uma editora prestadora de serviços, ou seja, uma editora paga pelo autor para publicar, diz que não o faria novamente. E, cansada de ser recusada pelas grandes editoras, publicou seu livro de forma independente em 2019, pelo site da Amazon.
Sobre os lucros gerados por publicações próprias, ela declara, “Se for pensar em cada unidade de livro vendida, eu ganho mais. Principalmente pelas páginas lidas do kindle unlimited. Autoras com muito alcance sem dúvidas ganham mais de forma independente”. O objetivo mais importante de um autor independente é se manter visto. A divulgação é constante e o marketing precisa ser bem elaborado. Dentro de uma editora, o trabalho feito para que o livro seja vendido é feito pela própria editora, a problemática surge dos valores cobrados para realizar essa etapa e as outras no processo de publicação.
A pandemia também mexeu com a publicação independente no Brasil, afetando consideravelmente os números e porcentagens. Segundo o site do Clube dos Autores, em abril de 2020 foi registrado um aumento de 40% na quantidade de livros publicados em relação ao mesmo período de 2019. Em maio, as vendas cresceram 56% e o número de novos autores aumentou em 83%.
Fátima Silva começou seu trabalho como autora pela plataforma de publicação independente Wattpad quando tinha 16 anos e, hoje, sete anos depois, possui um livro publicado por editora e outro publicado de maneira independente. No entanto, sua publicação por editora não foi fácil.
A autora diz que antes de publicar seu trabalho de forma independente, procurou novamente por editoras comerciais. As que aceitaram cobraram valores altos e ela então decidiu publicar sozinha. Fazer a publicação por si só, segundo o Clube dos Autores, exige escrever, revisar, diagramar, fazer a capa, adquirir ficha catalográfica, cadastrar ISBN, registrar na Biblioteca Nacional, imprimir, divulgar, distribuir amplamente, vender em diferentes canais, participar de eventos importantes e se manter ativo na mídia. Definitivamente, não é um trabalho fácil.
Uma das dificuldades para autores independentes é o retorno financeiro, uma vez que tudo depende deles próprios, inclusive a publicidade do trabalho. “Na Amazon fazemos o ebook sozinhos e colocamos lá sozinhos, de acordo com o passo a passo. Ganhamos ou 30% ou 70% em cima do valor de venda, dependendo do valor que deixamos para venda. Abaixo de R$5,99, ganhamos 30% e, acima, 70%. Caso a gente coloque no Kindle Unlimited, ganhamos em média pouco menos que um centavo por página lida, o que parece pouco mas costuma ajudar bastante na renda, além de permitir que mais pessoas leiam”, esclareceu Fátima.
Para autores que pensam na venda da unidade de seus livros, a Amazon é um bom negócio. Principalmente para os autores que já são conhecidos no meio independente ou que acabam ganhando grande público ao longo de seu trabalho. Milena Farias explicou que, entretanto, livros como os de poesias possuem maior alcance quando publicados por editoras, obtendo assim um maior retorno. Milena e Fátima são duas entre os muitos autores do país que publicam de forma independente. Escritores que, apesar de não terem muito reconhecimento, não desistem do sonho de ter seu livro publicado, optando muitas vezes por fazer todo o trabalho com as próprias mãos.
Reportagem: Ana Alice Viana, Giulia Cofani, Luiza Nunes e Maria Eduarda Cardomingo
Matéria produzida na disciplina Redação Jornalística II, do curso de Jornalismo do Campus da UFSM em Frederico Westphalen, no 2º semestre de 2021, ministrada pela Professora Andrea Franciele Weber.