Com as recentes flexibilizações da quarentena de Covid-19 ocasionadas pela vacinação, a expectativa para o retorno das festividades presenciais de final de ano aumenta. Na matéria dessa semana, falamos sobre como a pandemia modificou a dinâmica de datas comemorativas e o impacto emocional do retorno dos encontros familiares.
Quando o tópico são as festividades de final de ano, Natal e Ano Novo, um fator essencial sempre é lembrado: os encontros (e reencontros) familiares. Jantares e confraternizações com parentes e amigos sempre fizeram parte deste contexto. A pandemia de Covid-19 e as medidas ocasionadas pela quarentena, porém, mudaram de forma drástica a dinâmica das datas comemorativas de muitas famílias.
Chegando ao final de 2021, com o avanço da vacinação e a queda no número de casos de coronavírus, os planos de celebração com a mesa mais cheia, que faltaram no último ano, voltaram para grande parte da população. Com a sensação de segurança que a imunização traz, atrelada ao distanciamento, ventilação e também o uso de máscaras, fica o questionamento de como será o impacto emocional desse retorno de encontros familiares após tanto tempo e, em muitos casos, perdas.
Francisco Carvalho Soares, estudante de jornalismo da UFSM campus Frederico Westphalen, conta que chegou a ficar cerca de 6 meses sem visitar a casa dos pais, que moram em São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul, no período de bandeira preta da pandemia no estado e que o período distante da família não foi nada fácil. “Ficar longe da família durante a pandemia foi uma experiência bastante difícil, tanto por falta de um ombro amigo, falta de um abraço, falta de uma proteção que a gente sente quando está junto da família”, desabafa.
O estudante, que chegou a contrair o coronavírus em janeiro de 2021, conta que passou o último Natal longe dos pais mas que, dessa vez, conseguirá passar a data comemorativa ao lado da família, mantendo todos os cuidados preventivos como o uso da máscara, o distanciamento social e evitando aglomerações. “Felizmente vou conseguir visitar minha família, por conta das férias da faculdade e do trabalho, mas eu vou me cuidar. Então eu vou aproveitar esse momento, mas com consciência e prevenção”, finaliza.
Já a estudante de relações públicas da UFSM campus Frederico Westphalen, Lorena Lopes de Almeida, conta que não irá conseguir voltar para casa, em São José dos Campos, São Paulo, para o Natal deste ano. Por isso, irá se reunir com um grupo de amigas que também não vão conseguir voltar para casa. “Já estou aqui [em Frederico Westphalen] há 3 anos, ano passado foi a primeira vez que eu passei a Páscoa sozinha e outros feriados que eu sempre passei com a minha família. A minha família é grande, então a gente sempre se reunia para comemorar cada feriado. Então, é difícil estar sozinha, mas a gente aprende a se cuidar, se abraçar nesses momentos, ver a importância de ter uma rede de apoio aqui”, relatou.
Lorena, que só voltará para sua cidade natal para as comemorações de Réveillon, afirma que nem consegue descrever a sensação de ansiedade de voltar para casa depois de tanto tempo. Encontrar os familiares, rever os amigos e comer comida de mãe são exemplos de coisas que a estudante anseia fazer. “Eu quero as coisas mais simples para poder estar com as pessoas que eu amo, para poder curtir tudo isso”, finaliza.
Fabiane Schott, psicóloga e pós-graduanda em terapia cognitivo-comportamental e em psicologia infantil, que atua em Santa Maria (RS), explica que, mesmo com a sensação de segurança tendo passado o período mais crítico da pandemia e com boa parte da população vacinada, é preciso relembrar que inevitavelmente já fazem dois anos que a pandemia surgiu e que ela ainda causa muitos impactos emocionais, financeiros, sociais e situacionais.
A psicóloga também lembra do impacto emocional que as perdas causadas pela Covid-19 possuem nas celebrações do final de ano, que simbolicamente remetem a festas, a união, a reencontros com entes queridos, amigos e conhecidos. Apesar de essas datas terem todos esses significados, nesses dois anos de pandemia muitas dessas pessoas não se farão presentes, já que foram levadas pela doença. Nesse sentido, esses momentos de celebração tornam-se menos divertidos e mais dolorosos.
Fabiane também esclarece sobre o desconforto que o reencontro com o grupo familiar após tanto tempo de distanciamento social pode acarretar. De acordo com a especialista, pessoas reagem de maneiras diferentes às mesmas condições. Para ela, por exemplo, algumas pessoas não sentiram tantos impactos como outras, para algumas pessoas o distanciamento não foi um problema, e sim solução. Todavia, para os enlutados pela Covid-19 o apoio social é fundamental e ajuda a enfrentar a perda.
Em decorrência de uma situação atípica como a pandemia, a preparação emocional para o momento de reencontro das festividades consiste, principalmente, no apoio mútuo entre as pessoas. Em alguns casos também se faz necessário buscar ajuda profissional de um psicólogo para compartilhar os sentimentos, dividir a dor e compreender os impactos das mudanças decorrentes das eventuais perdas nesse período.
É muito importante lembrar que, apesar do momento mais positivo da pandemia no Brasil, ela ainda não acabou. A cobertura vacinal no país ainda não chegou a um número acima dos recomendados 80% e a nova variante Ômicron começa a se tornar preocupante. A recomendação de especialistas é realizar confraternizações com grupos menores de pessoas, evitando aglomerações e de preferência em locais arejados. O uso de (uma boa) máscara também continua sendo um dos principais aliados contra a contaminação.
Apuração: Caroline Schneider Lorenzetti, Júlia de Sá e Maria Mariana do Nascimento Silva
Reportagem: Kelvin Verdum e Caroline Schneider Lorenzetti
Site e redes sociais: Maria Mariana do Nascimento Silva