Com a expansão da vacinação e a recente queda na média móvel de mortes por Covid-19 no Brasil, é visível um cenário de flexibilização e um aumento dos casos de aglomeração. Na matéria desta semana, falamos sobre o quadro atual da pandemia no país, os perigos de abrir mão das medidas preventivas de forma precipitada e a situação de Frederico Westphalen.
Nos primeiros 20 dias de agosto, o Brasil registrou queda na média móvel diária de mortes em decorrência da Covid-19 em 14 estados, enquanto outros 11, incluindo o Distrito Federal, registraram estabilidade. Nesse período, apenas o Paraná teve aumento no número de casos, de acordo com os dados do consórcio de veículos de imprensa junto às secretarias estaduais de saúde compilados pelo UOL. A média móvel corrige as oscilações nos dados dos órgãos de saúde que ocorrem aos fins de semana e feriados, sendo considerada o melhor modo de analisar a pandemia.
Em decorrência dessa queda na média móvel diária e do avanço da vacinação, cidades e estados do país estão flexibilizando as medidas de proteção contra a Covid-19. O governo do estado de São Paulo, por exemplo, encerrou as restrições de horários e público no dia 17 de agosto. Agora, os estabelecimentos comerciais não terão mais limite de horário e nem de capacidade de ocupação de público. Mas, apesar da indicação para evitar aglomeração e uso de máscara continuar sendo obrigatório, o primeiro fim de semana sem restrições da quarentena em SP foi marcado por inúmeras aglomerações.
A grande preocupação são as consequências dessa flexibilização, já que, de acordo com o Vacinômetro, o estado vacinou 74% da população com a primeira dose, mas somente 33% dos cidadãos estão com o esquema vacinal completo, ou seja, receberam as duas doses ou dose única. Para que a proteção seja eficaz, é necessário que grande parte da população esteja completamente vacinada, o que ainda não é o caso dos estados brasileiros, incluindo São Paulo.
Confira a reportagem da Agência Da Hora sobre a variante Delta
Segundo informações disponíveis na Exame, a Sociedade Paulista de Infectologia vê “com extrema preocupação” as novas medidas de flexibilização da quarentena. Os profissionais alertam que essa decisão pode gerar uma nova onda da Covid-19, especialmente pela circulação da variante Delta, já que mesmo países com alta cobertura vacinal, como Israel e Estados Unidos, estão enfrentando o aumento de casos e mortes em decorrência da nova variante.
Agosto 2020 X Agosto 2021
Segundo dados do consórcio de veículos de imprensa junto das secretarias de Saúde do país, em agosto de 2020 o Brasil teve 28.947 mortes pela Covid-19. Já em agosto deste ano, até a atualização do dia 26, foram 21.195 vidas perdidas pela doença. Além disso, nessa mesma semana a média móvel de mortes de 7 dias foi a menor registrada desde o dia 6 de janeiro, fechando em 730. Já a média móvel de casos, indicada na semana do dia 24 de agosto, em 28.258 casos por dia, atingiu o menor patamar desde novembro.
Mais informações sobre número de casos, óbitos e média móvel podem ser encontrados no consórcio de veículos de imprensa e no painel Coronavírus Brasil.
No entanto, só esse levantamento não é o suficiente para flexibilizar as medidas de proteção. Inúmeras vidas continuam sendo perdidas todos os dias e a taxa de transmissão ainda não é segura. Em coletiva de imprensa realizada em junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) voltou a reforçar para o Brasil que “a pandemia ainda não terminou”. Segundo a organização, só o avanço da vacinação não irá controlar a Covid-19 no país, e “medidas como o uso de máscaras e evitar aglomerações precisam ser reforçadas e implementadas com mais rigor”.
O médico, professor universitário e deputado federal (PT-SP) Alexandre Padilha esclareceu para a RBA que é preocupante ver as flexibilizações acontecendo nesse momento, pois sugerem o retorno à vida normal e ainda não temos segurança suficiente para isso. “Infelizmente, irão surgir mutações resistentes às vacinas que temos disponíveis, não sabemos quando isso pode acontecer, se daqui uma semana, um mês ou 10 anos. Por isso, precisamos democratizar o acesso à vacina no mundo e suspender o monopólio das patentes para que elas se tornem bens públicos. Quanto mais rápida a produção nos laboratórios públicos e privados, mais ágil será o acesso às possíveis adaptações das vacinas, se necessário”, explicou o médico para a RBA.
Como está a pandemia em Frederico Westphalen?
O estado do Rio Grande do Sul contava, até o dia 26 de agosto, com 1.404.562 de casos confirmados de coronavírus e 34.087 óbitos. Desses, 5.628 infectados e 77 mortes foram registradas em Frederico Westphalen, segundo dados disponibilizados pela Secretaria de Saúde do estado e o Boletim do Coronavírus, atualizado com dados da Secretaria Municipal de Saúde e Hospital Divina Providência (HDP) na página do Facebook da prefeitura do município.
A secretária de saúde de Frederico Westphalen, Tais Candaten, explica que, apesar do relativo controle e da redução dos casos no município, o cenário ainda não permite a diminuição nas medidas de prevenção à doença. No dia 26 de agosto, o município contava com 40 infectados ativos e apenas uma internação na UTI e leito clínico do Hospital Divina Providência em decorrência de Covid-19. Também se chegou a um cenário de expansão na faixa etária de vacinação, que já alcançou a faixa dos 19 anos na cidade. Ainda assim, a orientação é que a população mantenha os cuidados para que se mantenha a estabilização e, consequentemente, a diminuição total dos casos de infecções e internações.
“Nós precisamos continuar com as medidas de prevenção, precisamos continuar com os cuidados de higiene, continuar usando álcool gel, máscara e evitando aglomerações. Nós reforçamos que é muito importante que mesmo vacinada, a população tenha a permanência dos cuidados. Isso é muito importante para que a gente evite novas cepas, a gente evite novos novos surtos e aconteça aí toda a questão de um novo cenário da evolução da pandemia”, finaliza a secretária de saúde.
Como já abordamos em nossa matéria sobre a necessidade de se manter o uso das máscaras para a prevenção da Covid-19, é natural que, após tanto tempo de isolamento social e privações, a população esteja ansiosa para o retorno à ‘vida normal’ e pela suspensão das medidas sanitárias ocasionadas pela pandemia. Porém, apesar dos dados atuais parecerem otimistas, uma reabertura prematura traria consequências negativas como um aumento de casos, mortes e até mesmo o surgimento de novas cepas do vírus. É essencial que se mantenham as medidas preventivas e se evite aglomerações até que se alcance um número ideal de pessoas totalmente imunizadas, para que a flexibilização possa ocorrer de forma gradual e com um número de riscos muito menor.
Reportagem: Caroline Schneider Lorenzetti e Kelvin Verdum.
Edição: Luciana Carvalho