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Como outros países lidam com a pandemia? E qual a situação do Brasil no contexto internacional?



A pandemia do novo coronavírus impõe desafios para todos os países. Enquanto alguns têm bom desempenho na contenção do vírus, outros ainda enfrentam momentos trágicos, como é o caso do Brasil. Por isso, na matéria desta semana, trazemos os depoimentos de brasileiros que vivem em países onde foram adotadas medidas eficazes contra a doença, e como tem sido o processo de vacinação nesses locais, além da opinião de um especialista.

Há pouco mais de um ano, o mundo foi paralisado diante da Covid-19. Por conta da pandemia, países focaram em medidas restritivas, organização de hospitais, capacitação de profissionais e desenvolvimento de pesquisas na área, enquanto em outros locais a adoção dessas medidas começou de forma tardia e descentralizada, prejudicando a redução nos números de casos da doença. O avanço da vacinação é um processo crucial para a contenção da pandemia e, nesse contexto, os países que seguiram medidas baseadas na ciência durante todo esse período, estão em uma realidade diferente do Brasil, com baixos índices de casos e óbitos durante toda pandemia.

Como é a percepção de brasileiros que vivem fora do país em relação à Covid-19?

Nova Zelândia 

Diego Sieg, 36, vive em Aukland, maior cidade da Nova Zelândia, onde há pouco mais de sete anos atua como desenvolvedor web. Desde o início da pandemia, o país se tornou referência no combate à Covid-19, tendo adotado o lockdown de maneira rígida, desde os primeiros casos. A restrição foi de dois meses seguidos com o comércio fechado, policiamento nas ruas para averiguar o motivo da circulação dos carros, segundo Diego. “Nem médico, nem hospital, era tudo por telefone ou internet, só podia ir ao hospital se pedissem para ir e com autorização”, conta Diego. 

A testagem em massa após o período de lockdown no país foi também uma medida adotada pelo governo local, assim possibilitando o rastreamento da infecção e já isolando os possíveis casos para, dessa forma, barrar a transmissão do vírus. Diego lembra que, em um único dia, o país chegou a 80 mil testes realizados, assim alcançando a população inteira. 

Até o momento, estrangeiros não podem entrar na Nova Zelândia, pois as fronteiras para entrada no país estão fechadas. Na última semana, houve abertura apenas para algumas regiões da Austrália. 

O conjunto de medidas adotadas pelo governo da premiê Jacinta Ardern surtiu resultados eficazes para a população. Diego ressalta a valorização da ciência no país. “Todas as decisões do governo foram baseadas em estudos científicos das universidades. As decisões do ministro da saúde em conjunto com a primeira ministra, eram baseadas nas declarações de especialistas no assunto”, destacou.

Os efeitos do controle da pandemia no país já refletem no cotidiano dos cidadãos. Desde o segundo semestre de 2020, a vida por lá já quase retornou ao que era antes da pandemia. Diego conta que ele e a esposa já vão a shows, eventos com várias pessoas. “Cinema e teatro já voltaram há bastante tempo”, ele diz. Para garantir a segurança da população, o governo criou  o Tracing, aplicativo de celular que faz a leitura dos códigos QR, baixados nos smartphones das pessoas. Apontando a câmera do celular para o código, localizado na entrada dos ambientes, o app registra quem esteve nesses locais. Caso ocorra algum caso de Covid-19, é possível rastrear as pessoas que estiveram no mesmo local e orientar o isolamento. 

Austrália 

Outro país referência na adoção de medidas preventivas é a Austrália. Para relatar o momento por lá, nossa equipe entrevistou Emanuel Bertizzolo, 24 anos, químico que mora desde o início de 2020 em Perth, zona Ocidental do país. Emanuel conta que foram poucos momentos de adoção de medidas restritivas, seguindo os padrões já conhecidos: trabalhos adaptados para serem efetuados de casa, comércios essenciais funcionando com limitações de pessoas, uso de máscaras e higienização das mãos. Emanuel conta que, neste final de abril, o país está no segundo lockdown de 2021, em que “basicamente as mesmas medidas estão sendo exigidas, como sair na rua de máscara, para exercício físico e ida aos estabelecimentos, passando álcool em gel e fazendo o registro que está naquele local toda vez.”

A diferença demográfica é uma questão lembrada por Emanuel. A Austrália é um país com baixa densidade populacional, então facilita tanto o controle por parte das autoridades, quanto evita a formação de aglomerações, que são um dos principais meios de infecção pelo vírus. “Temos uma área aproximada de 2 milhões de metros quadrados para uma população de apenas dois vírgula seis milhões de pessoas, então é muito mais fácil o controle da dispersão de contaminação”, afirmou.

Argentina

Enquanto isso, país vizinho ao Brasil, a Argentina adotou a quarentena mais longa do mundo durante 2020,  com 233 dias, medida essa que foi eficiente para contenção da doença. Entretanto, em 2021, com o relaxamento das medidas, a infecção aumentou. María Graciela Rodríguez, 64 anos, professora e pesquisadora universitária e moradora da capital, Buenos Aires, testemunha que “Em meados de março de 2020 houve muitas restrições. Depois afrouxaram e, agora, abril de 2021, diante do aumento de casos, as medidas estão sendo revertidas para restringir muito a circulação.”

A infecção de jovens argentinos é uma preocupação para autoridades médicas, segundo Maria: “Os casos aumentaram muito desde fevereiro por causa das férias e de muitos jovens que, sem se vacinarem, saíam à noite. Agora o governo está ficando mais rígido e com circulação restrita entre 20h e 6h.” Nesta sexta-feira, dia 30/04, Maria afirma ser a data que o governo estipulou para anúncio das medidas.

Quanto à rigidez com as restrições, Maria explica que “No ano passado sim e este ano também, mas a diferença é que os setores produtivos estão abertos, o que se pretende restringir é a circulação de pessoas.”

O quê, afinal, dá certo?

O isolamento dos casos, seguido da testagem em número elevado, que vem sendo adotado por muitos países, constitui medidas recomendadas por especialistas da área da saúde. O doutor em Genética e Biologia Molecular, Fernando Spilki, diz que “As políticas de distanciamento social, testagem e quarentena dos infectados e possíveis contatos são as mais eficazes. Precisa ter teste estratégico.” 

Enquanto isso o Brasil alcançou números dramáticos de óbitos e infectados pela Covid-19, provocando no restante do mundo preocupação frente a esse cenário. Atualmente, são mais de 200 países onde as restrições para entrada de brasileiros são rígidas, devido à crise sanitária instaurada.  De acordo com Spilki: “As políticas de enfrentamento à pandemia no Brasil são motivos de preocupação já que adotamos o isolamento social em um período de tempo muito curto, e de maneira muito flexível, o que não permitiu que tivéssemos um número baixo de casos para realizar essas medidas.”

E a vacinação nesses países? Como está?

As medidas adotadas nesses países diminuíram os casos e controlaram a Covid-19, dessa forma a vacinação em massa não é uma urgência, como no Brasil, já que a falta das medidas restritivas ao longo desse período têm como a vacinação em massa a única perspectiva de melhora no país. Para comparar as realidades em vacinação, nossos entrevistados que moram fora do Brasil relatam o que vivem.

Diego relata que a Nova Zelândia chegou a ficar seis meses sem novos casos, desse modo a vacinação não é uma urgência no país. Por isso, lá a aplicação das vacinas teve início com pessoas que atuam nas linhas de fronteira, como aeroportos e imigrações, depois agentes de saúde e idosos. Diego conta sobre a criação de um site oficial para que os cidadãos saibam a estimativa de quando irão se vacinar. “Desde o início da vacinação, o site feito pelo governo pede dados como idade, profissão e região que vive”, afirma. Diego, de acordo com sua idade, profissão e cidade, tem previsão para ser vacinado em julho. Ele complementa que, na Nova Zelândia, o governo distribuiu uma cartilha sobre a vacinação. 

Na Nova Zelândia, o governo enviou aos moradores uma cartilha com explicações sobre a vacinação no país. Fonte: Acervo Pessoal – Diego Sieg

Situação parecida é vivenciada na Austrália. Emanuel relata que o baixo número de casos no país não justifica a vacinação como urgência, já que por lá a pandemia também está controlada. “Não se fala muito, principalmente no estado em que moro, estado Ocidental do país. Porque realmente não temos casos significativos desde metade do ano passado, junho de 2020”, explicou. Quanto aos grupos prioritários, Emanuel conta que são agentes de saúde, funcionários de comércios essenciais como mercados, funcionários de órgãos governamentais e, então, os idosos.

Já, na Argentina, que fez acordo de compra da vacina russa Sputnik V, Maria acredita que dentro de algumas semanas será imunizada. Sobre a distribuição da vacina por lá, a professora explica: “Em alguns distritos, é extraordinário. Na Cidade de Buenos Aires, nem tanto: vem devagar e com distribuições arbitrárias ao setor privado”. 

O negacionismo e a propagação de desinformação

Desconfiança com a vacina, notícias falsas e grupos que negam a ciência são pautas frequentes e que dificultam ações de enfrentamento à pandemia no Brasil, por isso perguntamos aos entrevistados como são essas discussões em países que conseguiram reduzir os impactos causados pela Covid-19. 

Na Nova Zelândia, Diego afirma que existem grupos negacionistas e que invalidam a ciência, porém, são minoritários no país. Ele ressalta a valorização de pesquisas científicas no país, assim argumentos sem comprovação científica não entram em discussões por lá. “Hoje em dia existe muita fake news, não só em português mas em inglês também. Mas são casos muito isolados e proporcionalmente na população é muito baixo”, avalia. No país, a única vacina disponível é a da Pfizer-Biontech. Algumas notícias de casos de reações alérgicas suscitaram debates. “Entrou em debate na mídia se [o país] tinha feito a compra correta, mas são debates muito bem embasados, levam-se cientistas, professores universitários, sempre pessoas capacitadas”, disse o brasileiro que vive na Nova Zelândia.

Na Austrália, Emanuel explica que pautas como a desconfiança com a vacina e negação da ciência existem também por lá, agravadas por problemas diplomáticos entre Austrália e China. “Mas são grupos isolados, então não chega à pauta do governo, quando existem discursos do Primeiro-Ministro dos Estados e Primeiro-Ministro Geral, esse tópico não é tocado”, concluiu.

Já na Argentina, o cenário é diferente, assim como no Brasil a circulação de informações descontextualizadas ou falsas criou um ambiente propício ao negacionismo e desconfiança com a ciência. “Existe [desinformação], especialmente entre o jornalismo e políticos de oposição. Entre as pessoas comuns não. Como eu disse, a oposição está em chamas, militante a favor da Pfizer com mentiras e notícias falsas. As autoridades governamentais oscilam, até recentemente tentavam manter um certo consenso com a oposição”, explica a professora Maria.

Reportagem: Camila Amorim e Fernanda Vasconcellos

Edição: Luciana Carvalho

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