TEXTO OPINATIVO – CAMILA AMORIM – VOLUNTÁRIA DA AGÊNCIA DA HORA
Dia 19 de novembro de 2020, véspera do dia da Consciência Negra, João Alberto Silveira Freitas, homem negro, é espancado até a morte por um segurança e um policial militar, dois homens brancos, no mercado Carrefour do bairro IAPI, Zona Norte de Porto Alegre. Não é de hoje que o Carrefour está envolvido em casos de violência, é a mesma rede de supermercados que escondeu um corpo coberto por sombrinhas para continuar em funcionamento. Sim, a mesma rede em que outro segurança espancou um cachorro, também até a morte.
A justificativa do Carrefour? A empresa de segurança era terceirizada, mas mais uma vez as vítimas dos enganos de policiais, forças armadas e seguranças, são pessoas negras periféricas. Esse tipo de justificativa não pode ser normalizada. Ela é reflexo do discurso de ódio que vem ganhando espaço cada vez mais na população brasileira. Ela é resultado de uma política de segurança pública que muitas vezes viola os direitos humanos e é, principalmente, retrato do racismo estrutural enraizado na nossa sociedade. É o Estado sendo cúmplice do genocídio contra pessoas negras no nosso país.
Não adianta negar, dizer que é vitimismo ou até mesmo ‘’mimimi’’, a sociedade brasileira nascida do escravismo é racista e nossas forças armadas são racistas também, culpa de um racismo estrutural vindo direto do nosso sistema! A população, acostumada a ver corpos pretos assassinados pelo Estado, automaticamente justifica o genocídio. “O que ele fez para ser assassinado?”, questionam, mas não se perguntam, porém, por que mais uma vez o Estado assassinou um homem inocente.
Eles dizem que é caso isolado, mas a quantidade de pessoas negras mortas no Brasil é infinitamente maior do que a de pessoas não negras. E isso não é um caso isolado. É um projeto de extermínio. É preciso olhar para esses números como se olha para a vida. VIDAS NEGRAS IMPORTAM!
O racismo mata milhares de vidas negras todos os dias e o racista gostaria de matar mais. Todos os dias a população brasileira morre um pouco. Quando o Estado não é genocida diretamente, mata pouco a pouco. O assassinato de João Alberto não foi um caso isolado, 80 tiros não foram equívocos, o que aconteceu com Marielle não foi acidente.
As pessoas se dizem horrorizadas por um homem negro morrer no Dia da Consciência Negra. Mal sabem eles que o negro é vítima de ódio, preconceito e assassinato TODOS OS DIAS. Até quando? O quanto estamos adormecidos diante dessa estrutura social que naturaliza a morte desses corpos marginalizados historicamente? O Dia da Consciência Negra no Brasil de 2020 começou com um homicídio que lembra o período escravocrata e terminou com o Vice-Presidente da República negando a existência do racismo, e isso já diz muito sobre o nosso país.