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Reinfecção por Covid-19: devo me preocupar com os casos confirmados?



Nos últimos dias do mês de agosto, muito se ouviu falar sobre a reinfecção do coronavírus, pessoas que contraíram o vírus, se recuperaram e, após isso, contraíram novamente. A equipe da Agência da Hora ouviu médicos epidemiologistas para saber se estes casos confirmados são ou não motivo para pânico. 

 

Desde o momento em que a OMS declarou pandemia, a corrida por um medicamento eficaz contra a doença, ou até mesmo a produção de uma vacina, fez cientistas, médicos e equipes de saúde do mundo todo trabalharem dobrado para que todos possamos voltar ao estado de normalidade novamente. 

No dia 31 de agosto, em Hong Kong, foi confirmado o primeiro caso de reinfecção por Covid-19, mesmo já havendo especulações desse acontecimento em diversos outros lugares, embora sem confirmação. A notícia, em um primeiro momento de divulgação, causou pânico e deixou a população apreensiva com uma possível segunda onda de contaminação, onde até as pessoas que provavelmente teriam imunidade ficariam novamente expostas ao vírus pela segunda vez. 

Como pesquisas relacionadas à imunidade contra a Covid-19 ainda estão em andamento, o caso de reinfecção pode ser a chave para uma possível resposta: a imunidade contra o coronavírus pode sim ter um prazo de validade, mas, para isso ser confirmado, é necessário que outros fatores sejam estudados. A equipe da Agência Da Hora foi em busca de pessoas que já se infectaram e conversou com uma profissional de saúde para saber um pouco mais sobre esse caso confirmado de reinfecção e se ele pode ou não ser motivo para pânico. 

Para proteger a identidade das pessoas que foram acometidas com a Covid-19, os nomes das pessoas que forneceram entrevista são fictícios e identificados com um asterístico (*). 

O que as pessoas que já foram infectadas relatam sobre a reinfecção? 

Fernanda da Silva Prates*, 48 anos, contraiu Covid-19 no mês de maio. Ela teve sintomas leves da doença, sentiu dor de cabeça, dor de garganta e teve febre por apenas dois dias. Fernanda diz ter tomado as medidas de segurança, e que por isso não sabe como se infectou. Ela foi afastada do trabalho por 14 dias para fazer o tratamento, e conta que se assustou com o caso confirmado de reinfecção, o que a fez ter medo de contrair a doença novamente e precisar ser internada. “Morro de medo desse vírus. Depois que eu peguei, meus cuidados triplicaram. Tiro um dia do mês para sair, faço um ‘ranchão’ e pago todas as contas. Saio novamente só no próximo mês”, declarou. 

Bruna Fernandes de Aguiar*, 27 anos, é vendedora em uma loja e acredita que contraiu o vírus entrando em contato com alguém que provavelmente não sabia que estava contaminado. “Todo o tempo, desde que voltei a trabalhar, nunca tive contato com nenhuma pessoa doente, seja na minha família ou na loja. Não sei onde peguei isso”, disse. Ela conta que teme uma possível reinfecção, mas acredita que pessoas que já contraíram o vírus possuem memória imunológica para o mesmo. “Senti pouca coisa, uma febre baixa, vi que era corona mesmo pelo fato de perder o paladar e olfato, fiquei meus dias em casa e voltei a trabalhar normalmente”. conclui a vendedora. 

Lucia Pereira*, 67 anos, perdeu seu marido para a doença no mês de junho. Eles foram internados, mas Lúcia não precisou de intubação. No entanto, seu marido foi entubado e não conseguiu se recuperar, indo a óbito. Lucia conta que contraiu Covid-19 por negligência, em não respeitar o isolamento social e os cuidados recomendados pela Organização Mundial da Saúde. Ela e o marido tinham consciência de que pertenciam ao grupo de risco, mas mesmo assim viviam uma vida normal. “Estou me cuidando mais agora, coisa que antes eu não fiz. Sempre uso máscara fora de casa, evito sair e lavo muito as mãos. Tenho fraqueza nas pernas, quando caminho, e quando ando mais rápido fico com respiração ofegante”. Apesar de tomar todos os cuidados, Lúcia relata que sente um sono fora do normal e que chega a fazer esforço para respirar. 

O que dizem os profissionais da saúde sobre a reinfecção? 

Ivana Beatrice Manica da Cruz, professora associada da UFSM, bióloga, doutora em Genética e Biologia Molecular, assegura que a reinfecção é uma questão que não está totalmente esclarecida. “De fato, há uma preocupação crescente de que os pacientes que se recuperam de Covid-19 possam estar em risco de reinfecção. Dessa forma, você poderia se reinfectar, mas isto não significaria ter sintomas tão intensos ou mesmo ter sintomas clínicos observados na primeira infecção. Isso sugere que a imunidade adquirida após a infecção primária com SARS-CoV-2 pode proteger após a exposição subsequente ao vírus”.

Foi comprovado cientificamente, por pesquisadores da Universidade de São Paulo, a existência de 36 genomas diferentes do coronavírus circulando durante a pandemia. Cada um deles carrega consigo um tipo de infecção, mas a sua manifestação dependerá do estado clínico de cada pessoa, se ela possui ou não comorbidades, bem como sua imunidade. 

“Existem também evidências de que ocorra reinfecção nas pessoas, e de que isso as leve a sintomas neurológicos e clínicos. Por este motivo, precisamos de mais estudos e que as pessoas que tenham sido infectadas pela primeira vez não tenham a sensação de ‘estarem completamente imunes’. Este pode não ser o caso”, menciona Ivana. Questionada sobre a gravidade da segunda infecção, a médica diz que, “geralmente, espera-se que seja mais leve ou sem sintomas, considerando que algum nível de resposta imune já foi desenvolvido anteriormente, pela primeira infecção”. 

A reinfecção por Covid-19 não deve ser motivo para pânico. Os casos foram pouco considerados devido ao baixo número de reinfectados em todo o mundo. Observou-se também que as pessoas que obtiveram a doença pela segunda vez tiveram sintomas leves. Segundo a OMS, ainda não existe um medicamento que seja 100% eficaz contra a doença, e a única forma de se proteger é através do uso de máscaras, álcool em gel 70%, evitar aglomeração e, se puder, ficar em casa. 

 

Texto: Igor Mussolin e Alice Rodrigues

Apuração: Alice Rodrigues e Yasmin Vilanova 

Edição: Luis Fernando Rabello Borges

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