Desde abril de 2022, a flexibilização das medidas adotadas contra a propagação da Covid-19, como o uso de máscaras ter deixado de ser obrigatório, começou a valer em todos os estados brasileiros. No entanto, em dezembro, os casos voltaram a aumentar e a subvariante da Ômicron gera preocupação sobre uma nova onda da pandemia.
Dados reunidos pelo consórcio de veículos de imprensa até o dia 4 de janeiro de 2023 mostram que o país mantém uma média móvel de registros de 21 mil casos diários de Covid-19 e 120 mortes por dia.
Em novembro de 2021, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia classificado a cepa Ômicron do coronavírus como uma “variante de preocupação”, por ter muitas mutações que podem conferir vantagens ao vírus.
Ela deu origem a diversas subvariantes. As mais recentes são a BE.9 e a BQ.1, e esta última apresentou uma rápida disseminação pelo país.
Subvariante BQ.1
A BQ.1 apresenta mutações na proteína spike. Ela fica localizada na superfície do vírus da Covid-19 e permite que ele se ligue à célula e a infecte. Por isso, a subvariante pode contribuir para o aumento da transmissibilidade e na capacidade de infecção pelo coronavírus.
Conforme o professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e médico epidemiologista da Vigilância em Saúde do município de Santa Maria, Marcos Antônio de Oliveira Lobato, essas mutações escapam à nossa imunidade natural e vacinal. “O surgimento de novas variantes e subvariantes era esperado e, no futuro, vão aparecer outras com uma capacidade ainda maior de escapar das vacinas, a gente só não sabe quando isso vai acontecer”, destaca o professor.
De acordo com a OMS, até o momento a BQ.1 já foi identificada em mais de 60 países, incluindo o Brasil, e pode se tornar prevalente. Em Santa Maria, foram registrados três casos até dezembro de 2022.
Porém, Lobato afirma que certamente existem mais casos da variante no município. No entanto, para detectá-la, é necessário realizar o sequenciamento completo do genoma do vírus, o que exige um exame caro e demorado. Além disso, a flexibilização de medidas de prevenção pode potencializar o surgimento de uma nova onda da doença no país.
“É muito provável que chegue uma nova onda por causa dessa nova subvariante. Os dados não são suficientes para entendermos como ela vai ser, mas provavelmente será um pouco menos intensa do que a do final de 2021 e início de 2022, quando tivemos muitos casos notificados e poucos óbitos e internações”, explica o epidemiologista.
As restrições podem voltar?
Segundo o professor, algumas restrições podem voltar a ser adotadas, como o uso de máscaras em ambientes fechados e no transporte público, além de que a população deveria evitar aglomerações. No entanto, medidas seguidas em 2020, como o isolamento social e a redução da circulação de pessoas dificilmente vão voltar a acontecer. Isso só ocorreria caso surjam novas variantes que as vacinas não consigam cobrir.
“Crescendo o número de casos, temos que contê-los, porque o prejuízo social é muito grande. Existe sim a possibilidade de voltarmos à calamidade pública e à superlotação do sistema de saúde. Já passamos por isso, então vamos evitar que aconteça novamente”, pontua Lobato.
Cuidados e prevenção
As subvariantes da ômicron “escapam” com mais facilidade dos anticorpos gerados tanto pelas vacinas quanto por infecções anteriores. No entanto, as vacinas atuais ajudam a reduzir o risco de infecção grave.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso emergencial de duas vacinas bivalentes da Pfizer desenvolvidas especificamente para proteger contra a variante. Essas vacinas são capazes de imunizar contra mais de uma versão de um vírus de uma só vez.
O objetivo do reforço é expandir a resposta imune específica à ômicron e melhorar a proteção da população. Esses imunizantes devem chegar em breve ao país, mas a data ainda não foi divulgada.
Conforme Lobato, a melhor forma de evitar complicações da doenças e novas ondas é a vacinação. O professor destaca que é preciso ter uma parte expressiva da população com o esquema vacinal completo (duas doses e uma de reforço). “A curto prazo não temos perspectiva do fim da pandemia, pois se o que estamos fazendo não muda, como podemos esperar resultados diferentes? Se as pessoas deixarem de se vacinar vai voltar o caos dos outros anos”, afirma.
Veredito final: É possivel!
Sim, é possível ter uma nova onda da pandemia do coronavírus.
Expediente:
Reportagem: Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo e estagiária;
Design gráfico: Julia Coutinho, acadêmica de Desenho Industrial e voluntária;
Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Gabriel Escobar, acadêmico de Jornalismo e bolsista; e Nathália Brum, acadêmica de Jornalismo e estagiária;
Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;
Edição geral: Luciane Treulieb e Mariana Henriques, jornalistas.