Existem dois tipos de reatores nucleares: os de potência e os de pesquisa. O primeiro é voltado à produção em larga escala de energia, para diversos fins. Já o segundo, serve para entender as propriedades físicas e químicas dos materiais. Conforme a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), atualmente são 30 países que investem na construção e manutenção de reatores nucleares de potência. Nações como França e Estados Unidos, possuem larga capacidade de geração de energia elétrica através desses reatores.
O Brasil deve ganhar um novo impulso no que se refere à utilização da energia nuclear, beneficiando áreas como a medicina e a agricultura. Trata-se do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), cujo projeto vem sendo trabalhado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). O RMB pode dar autonomia ao país na produção de radioisótopos e ampliar a capacidade nacional em pesquisa de técnicas nucleares.
O professor aposentado do Departamento de Física da UFSM, Odilon Marcuzzo do Canto, doutor em Engenharia Nuclear pela University of California – Berkeley (UCB), explica que um reator é uma máquina na qual é possível controlar a fissão (divisão do núcleo de um átomo pesado – por exemplo, do urânio-235 – em dois menores, quando atingido por um nêutron). Desta forma, um reator produz energia de fissão, que é transformada em energia calorífica e, por fim, em energia elétrica.
Outra utilização do reator é a produção de radioisótopos – elementos ativos dos radiofármacos, que são empregados como agentes no diagnóstico e no tratamento de câncer e outras doenças. Atualmente, tudo o que é utilizado de radioisótopos no Brasil vem do exterior. Assim, o reator multipropósito abriria muitas possibilidades no Brasil, em áreas como a medicina. “O reator faria o país ficar autônomo em termos de radioisótopos na medicina”, afirma Odilon. A agronomia seria outra área beneficiada, como por exemplo, para a criação de cultivares mais tolerantes ao estresse hídrico.
“O início do processo em um reator é sempre o mesmo, a fissão do núcleo. Aí o homem, com sua capacidade, com sua engenharia, pode decidir o que fazer com a energia, usar como bomba, para destruir, ou canalizar esta energia de determinadas formas”, afirma Odilon, salientando a importância das pesquisas com energia nuclear. O RMB deverá ser construído em Iperó (SP), devendo entrar em operação em 2024.
O coordenador do projeto na Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), José Augusto Perrotta, é um dos conferencistas confirmados do Seminário Internacional América do Sul na Era Nuclear: Riscos, Desafios e Perspectivas, que será realizado nos dias 20 e 21 de agosto, no Centro de Convenções da UFSM, em Santa Maria.
Reatores nucleares pela América do Sul
No continente sul americano, somente Brasil e Argentina possuem reatores nucleares de potência certificados pela AIEA. Em solo brasileiro há duas usinas em atividade (Angra 1 e Angra 2), além de uma em construção (Angra 3), todas localizadas na cidade de Angra dos Reis (RJ). Já os argentinos possuem três reatores em operação (Atucha-1, Atucha-2 e Embalse) e uma em construção (Carem25), três delas em Lima e outra em Embalse. No Brasil, a energia nuclear representa quase 3% da matriz energética.
Confira a seguir, nos mapas interativos, quantos reatores de potência cada país possui, assim como a capacidade de energia elétrica que cada uma das nações tem.
Reportagem: Luan Romero e Ricardo Bonfanti/Assessoria Gabinete do Reitor e Agência de Notícias da UFSM
Ilustração: Deirdre Holanda
Edição: Andressa Motter, acadêmica de Jornalismo