Foi em um bairro de Blumenau, o Itoupavazinha, que no final do século XX surgiu o projeto Unisol Itoupavazinha, uma iniciativa de extensão do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Regional de Blumenau (FURB). A falta de formação dos moradores, sem profissão definida, levou o projeto a oferecer cursos de carpinteiro, pedreiro e eletricista. Com o fim da demanda, o projeto foi expandido e passou a atender entidades sem fins lucrativos, auxiliando na criação de projetos arquitetônicos, paisagísticos e estruturais. Os primeiros atendidos foram associações de moradores dos bairros de Blumenau, que com pouco recurso financeiro, não tinham condições contratar profissionais do mercado.
Desde então, o programa Unisol virou Construir, e as ambições aumentaram. Com três projetos complementares, Planejar, Estruturar e Conscientizar, o Programa une os cursos de Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Civil e Elétrica da FURB. O último a ser pensado, o Conscientizar, surgiu devido às condições das áreas que as associações de moradores recebiam da prefeitura. Para começar a construção, ele desmatavam, limpavam e roçavam o terreno, o que deixava o local suscetível a desabamento. Então, o Conscientizar passou a oferecer palestras sobre questões ambientais, ética e cidadania. “A questão da conscientização é que realmente, na hora que eles executarem isso, eles optem por opções, por exemplo, como lâmpadas mais eficientes, em termos de economia”, diz o coordenador do projeto, João Francisco. Quantos aos alunos participantes do Programa, o Conscientizar virou uma forma de pensar e conhecer as inúmeras realidades encontradas fora da sala de aula.
O Construir já planejou e estruturou um espaço infantil para atendimento odontológico, uma biblioteca escolar externa para contação de histórias, a associação de servidores da FURB e diversos outros projetos. Pelo foco do programa ser social e com entidades sem fins lucrativos, João Francisco Noll conta que já precisou recusar trabalho, tanto pela grande demanda, quanto pela finalidade. Alguns projetos que podem gerar competição com o mercado de trabalho já foram negados, como a construção de um centro esportivo para uma instituição federal. “O quartel como instituição federal teria condições de pagar esse projeto arquitetônico para o centro que eles queriam fazer”, afirma ele.
Também, alguns projetos nunca saíram do papel, devido a falta de verba. Noll também conta que as relações políticas podem influenciar. No caso do projeto de uma associação de moradores, a troca do presidente fez com que o projeto fosse engavetado. Apesar disso, o reconhecimento na cidade faz o projeto continuar. Através de visitas na comunidade para conhecimento das condições sociais e ambientais, professores e alunos se reúnem para fornecer a melhor opção que alie bom desempenho, menor custo, respeito ao meio ambiente, qualidade de vida e desenvolvimento local.
Reportagem: Andressa Foggiato e Guilherme Gabbi