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Leitura no Brasil

Apenas uma em cada quatro pessoas domina plenamente habilidades de leitura, escrita e matemática



O educador brasileiro Anísio Teixeira afirmou, uma vez, que “só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias”, referindo-se à escola pública. No florão da América, país que carrega a porcentagem de 49,25% de adultos acima dos 25 anos sem o ensino fundamental (dados do IBGE 2010), a democracia estável parece estar muito além das margens plácidas.

 

Segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF), apenas 8% da população brasileira atingiu o nível “proeficiente”, ou seja, possui habilidade de produção de textos complexos e de interpretação de tabelas e gráficos. Se para bom entendedor meia palavra basta, por outro lado, dados do Instituto Pró-Livro (IPL) revelam que 75% dos brasileiros não dominam plenamente as habilidades de leitura, escrita e matemática. Destes, 9% são analfabetos absolutos, 30% lêem mas compreendem muito pouco e 37% entendem em parte mas não são capazes de interpretar e relacionar informações.

 

Grande parte do mundo nos é apresentada através da leitura. Placas, etiquetas, documentos, embalagens e rótulos de produtos; tudo envolve, em graus diferentes, a habilidade da leitura. Nesse contexto, ainda que o número de analfabetos tenha diminuído nos últimos anos, a qualidade das escolas públicas brasileiras permanece baixa, resultando em um desempenho mais quantitativo do que qualitativo nas instituições de ensino. Fernando José Almeida reproduz a definição de Paulo Freire sobre o que significa ler:

 

“Ler não é caminhar sobre as letras, mas interpretar o mundo e poder lançar sua palavra sobre ele, interferir no mundo pela ação. Ler é tomar consciência. A leitura é antes de tudo uma interpretação do mundo em que se vive. Mas não só ler. É também representá-lo pela linguagem escrita. Falar sobre ele, interpretá-lo, escrevê-lo. Ler e escrever, dentro desta perspectiva, é também libertar-se. Leitura e escrita como prática de liberdade.”

 

O IPL realizou, no ano passado, a quarta edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, que apresentou dados apurados pelo IBOPE e buscou conhecer o comportamento leitor medindo a frequência, forma, dificuldades, motivações e condições de leitura e de acesso ao livro pelos brasileiros, tanto impresso quanto digital. Criado em 2006, o IPL é uma associação privada e sem fins lucrativos, que tem o objetivo de fomentar a leitura no Brasil e oportunizar o acesso a livros pela população.

 

Os dados foram obtidos a partir de 5012 entrevistas realizadas em todo o país. Segundo a pesquisa, o brasileiro lê, em média, cinco livros por ano, sendo a Bíblia o mais lido no país. Apenas 56% da população brasileira é considerada leitora – a partir dos 5 anos. O estudo define como “leitor” alguém que leu pelo menos um livro inteiro ou partes de um livro nos últimos três meses. Em 2011, somente metade da população brasileira era considerada leitora.

 

Atualmente, 9% da população brasileira é analfabeta, apresentando significativa mudança desde 2007, quando 15% dos brasileiros não sabiam ler e escrever. Segundo a pesquisa, estudantes de qualquer um dos níveis de escolaridade lêem mais do que as pessoas que não estudam, ainda que o número de leitores adultos e de leitores que não estão na escola tenha aumentado nas últimas edições da pesquisa. A tendência entre os estudantes e os não estudantes é que quanto maiores a renda e o grau de escolaridade, maior é o hábito de leitura.

 

Tanto para estudantes quanto para não estudantes, o principal motivo para não ler é a falta de tempo, que também vem em primeiro lugar entre os não leitores. 77% dos entrevistados afirmaram que queriam ter lido mais. Os brasileiros também estão preenchendo seu tempo livre com várias outras atividades. Em 2015, uma das práticas que mais cresceu foi o uso da internet, do computador, do celular e do whatsapp, além de outras redes sociais. Ao decorrer das edições das pesquisas, o número de pessoas que afirmavam não ter nenhuma dificuldade para ler diminuiu. Entre as dificuldades, a mais apontada é a falta de paciência para ler.

 

A pesquisa também revelou que a principal forma de acesso a livros é através da compra em lojas físicas ou pela internet. Em segundo lugar, livros recebidos de presente e, em terceiro, livros emprestados por parentes ou amigos. Apenas 7% dos entrevistados retiram livros de bibliotecas públicas ou comunitárias. Segundo a pesquisa, o hábito de leitura é construído na infância, mas apenas um em cada três brasileiros foi estimulado a ler por alguém, sendo que a mãe, ou responsável do sexo feminino, e o professor foram as influências mais citadas. Nesse contexto, o hábito da leitura é transmitido de uma criança à outra, e ampliando-se pelas novas gerações. E você, quantos livros anda lendo?

Reportagem: Carolina Escher, Maria Helena e Nicoli Saft
Infográfico: Nicolle Sartor

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