A equipe de robótica Taura Bots, da Universidade Federal de Santa Maria, vai participar de uma competição internacional para robôs, a HuroCup, que será realizada no Irã entre os dias 1º e 7 de março. Coordenado pelo professor Rodrigo Guerra, do Departamento de Processamento de Energia Elétrica da UFSM, o Taura Bots tinha como ideia inicial competir na categoria arco e flecha, treinando e transformando o robô Dimitri em um arqueiro. No entanto, alguns imprevistos e problemas burocráticos surgiram como obstáculos no caminho do grupo, fazendo o sonho de participar do evento virar uma verdadeira saga.
A oportunidade
O Taura Bots, formado por acadêmicos e professores do Centro de Tecnologia da UFSM, não é novato em competições internacionais, tendo participado anteriormente da RoboCup, maior torneio de futebol para robôs do mundo, em 2015, na China, e em 2016, na Alemanha. Já a Hurocup, que é organizada pela Federação Internacional de Futebol de Robôs (FIRA), visa o desenvolvimento de robôs capazes de realizar tarefas diversas em ambientes complexos. A possibilidade de participar deste evento no Irã em 2018 surgiu a partir do contato do professor Rodrigo com Jacky Baltes, professor titular da Universidade Nacional do Taiwan e presidente da FIRA. Durante uma visita a Taiwan, a proposta foi recebida com entusiasmo pelo docente brasileiro: “O professor Jacky foi atleta olímpico em um time de patinação de velocidade no gelo, na Alemanha, durante a sua juventude. Ele sempre se interessou por competições, mesmo sendo da área de robótica. Visitei Taiwan a convite dele, e durante uma conversa soube que o Irã tinha recursos para custear a ida de equipes para participar da Hurocup, que vai acontecer lá, e ele sugeriu que o Taura Bots participasse. Aceitei a ideia de prontidão e fiquei bastante animado”.
O Irã, mesmo passando por diversos problemas sociais, políticos e religiosos, é um país que está investindo na ciência nacional, como conta o professor Rodrigo: “Os jovens iranianos que conseguem o primeiro, segundo ou terceiro lugar em competições de renome internacional, como essa, podem pedir dispensa do exército, o que faz com que o interesse nesse tipo de evento aumente por lá”.
A Hurocup conta com diversas categorias de competição, como o basquete, a maratona, o levantamento de peso, o salto à distância e o arco e flecha, sendo esta última a categoria escolhida pelo Taura Bots. “É um dos esportes olímpicos em que há mais potencial de, em breve, um robô superar um humano, por envolver principalmente a precisão. E não é tão ligado à violência, como o tiro. Como já tínhamos o Dimitri, pensamos em usá-lo para isso, compramos o equipamento e começamos a prepará-lo”, explica o professor Rodrigo.
As dificuldades
Utilizar o robô Dimitri para a competição de arco e flecha no Irã parecia o caminho mais simples a ser trilhado. No entanto, alguns problemas acabaram atrapalhando os planos do grupo, pois, atualmente, o robô se encontra sem as pernas, e não poderá viajar para a Hurocup, como conta o docente da UFSM: “Na primeira metade do ano passado, alguns membros do Taura Bots foram para um intercâmbio na Alemanha e levaram as pernas do robô, por meio de uma importação temporária. O processo acabou sofrendo com a burocracia dos países e o equipamento só chegou lá depois de três meses. Os alunos nem puderam utilizá-lo e enviaram de volta, e agora ele ainda está na alfândega brasileira, aguardando liberação, desde agosto de 2017”. O professor Rodrigo explica que, mesmo que as pernas do robô chegassem antes da viagem, ainda não haveria tempo hábil para que ele pudesse ser usado na competição: “Não adiantaria só ter o material em mãos, precisaria certo tempo até que ele ficasse pronto para ser utilizado. Precisaríamos, no mínimo, de duas a três semanas”.
A solução
Determinado a participar do evento no Irã, o professor Rodrigo não desistiu de encontrar uma saída para garantir a participação do Taura Bots na HuroCup. Ele relata que a solução surgiu em outra conversa com Jacky Baltes: “Ele ofereceu um robô emprestado, chamado Darwin-OP, que é parecido com o Juarez, um robô menor que temos aqui. Aceitamos e estamos trabalhando nisso agora”.
O grupo só terá acesso ao Darwin-OP dois dias antes do evento, no Irã. Enquanto isso, a equipe está utilizando o robô Juarez para testar os movimentos antes da competição. “Estamos trabalhando muito aqui na UFSM para levar o melhor possível para lá e ver o que dá para fazer nos dois dias de preparação. Se vamos conseguir, eu não sei”, pondera o professor Rodrigo.
O acadêmico de Engenharia da Computação, Guilherme Henrique Christmann , é membro do Taura Bots e vai acompanhar o professor Rodrigo na viagem ao Irã. Ele conta que a possibilidade de usar o robô Juarez na preparação para o evento só aconteceu devido a uma coincidência: “Ele não estava funcionando e estava desmontado há tempos. Ele só está montado agora porque um dos membros do grupo decidiu montá-lo, sem motivo, alguns meses atrás. Ele ainda está com problemas, e estamos utilizando algumas partes do Dimitri para fazê-lo funcionar”.
O professor Rodrigo ainda acrescenta que não há recursos disponíveis na Universidade para a manutenção do robô Juarez: “O computador que fica no peito dele não liga mais, e é um aparelho que custa em torno de 1.500 dólares. Estamos utilizando o do Dimitri para resolver essa situação emergencial. O pouco que a Universidade oferece nós preferimos investir na experiência dos alunos em intercâmbios e eventos internacionais e no Dimitri, que é a nossa prioridade”.
As expectativas
Apesar das dificuldades, o professor Rodrigo acredita que a experiência pode ser positiva para o grupo: “Vamos nos esforçar muito para que o robô acerte o alvo, ou que ao menos consiga atirar a flecha. Vamos aproveitar o máximo do nosso tempo e vamos tentar fazer essa aventura toda valer a pena”.
O professor Rodrigo Guerra e o acadêmico Guilherme Christmann viajam para o Irã nesta terça-feira (27), onde a Hurocup acontece entre os dias 1º e 7 de março.
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Repórter: Lucas Gutierres, do Núcleo de Divulgação Institucional do Centro de Tecnologia da UFSM
Fotografias: Rafael Happke e Rodrigo Guerra