O Brasil é o maior produtor cafeeiro do mundo. Segundo dados do Ministério da Agricultura, são cerca de 2,25 milhões de hectares utilizados para a plantação de café no país. Devido aos diferentes climas e relevos, e à grande diversidade de tipos de café produzidos, os especialistas dividem o Brasil em 15 regiões de plantio, desde o Norte até o Sul. Também, é no país que se desenvolve o maior polo de pesquisa científica sobre o assunto, o Consórcio Pesquisa Café, que financia trabalhos que busquem alternativas sustentáveis, competitivas e inovadoras para o produto.
Um grupo de pesquisadores* do Espírito Santo e Minas Gerais está se dedicando a um dos grandes desafios da produção sustentável de café, a redução da quantidade de água utilizada no processamento do fruto do cafeeiro. Atualmente, são necessários de 3 a 5 litros de água para 1 litro de fruto processado.
A qualidade do café varia de acordo com fatores como aroma, sabor e corpo. Quanto melhores forem estes atributos, maior o valor de mercado. Entre os tipos com maior equilíbrio entre os fatores, está o fruto cereja. No entanto, o fruto necessita de colheita seletiva, para separar os frutos maduros dos verdes – que é muito custosa – ou passar por processamento via úmida, onde é possível separar o café bóia – totalmente maduro – do café verde, e também descascar o fruto. A remoção da casca reduz em 50% o tamanho do fruto, o que possibilita estruturas menores tanto para secagem quanto para o armazenamento.
Preocupados com a quantidade de água ocupada e descartada para o processamento dos frutos e aliando o benefício do descascamento, os pesquisadores investigaram se a reutilização da água residuária afetaria a qualidade da bebida. O experimento foi realizado em uma fazenda experimental no Espírito Santo com capacidade de processamento de 400 litros de fruto por hora. A água residuária foi utilizada por cinco dias consecutivos. Antes de ser reutilizada, ela passava por um processo de decantação, onde era possível retirar os resíduos sólidos do processo anterior. A bebida final foi avaliada por juízas da Associação Americana de Cafés Especiais, sob os aspectos aroma, sabor, acidez, corpo, equilíbrio e finalização.
No início do processamento houve um gasto de 5530 litros de água para 2843 litros de café, o que resultou em um gasto de 1,96 litros de água por litro de fruto processado. Ao fim dos cinco dias, o gasto médio com a reutilização foi de 0,28 litros de água limpa para cada litro de fruto, resultando em 78% de economia de água. Entretanto, em alguns momentos foi preciso retirar frutos do fundo do lavador, o que resultou em perda de água e necessidade de repô-la. O fato aponta que a água residuária deve ser utilizada apenas no descascador para maior eficiência.
De acordo com os juízes, no decorrer dos cinco dias de reuso de água não houve diminuição considerável na qualidade da bebida. Com exceção do aspecto equilíbrio, todos os outros tiveram aumento em suas notas no último dia de experimento de reuso da água.
*Os pesquisadores são das instituições: Instituto Federal do Espírito Santo, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Universidade Federal do Espírito Santo, Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais, Universidade Federal de Viçosa, e do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural.
Reportagem: Andressa Foggiato e Jocéli Lima
Infográficos: Nicolle Sartor