Para entender seu lugar no mundo, o homem aprendeu a desenhar mapas. Com a tecnologia, a Cartografia também avançou e o conhecimento acumulado sobre as relações entre o homem e seus territórios é cada vez mais global. Na escola, por exemplo, existe cada vez menos espaço para a Geografia local, porque existe cada vez mais conhecimento acumulado sobre o mundo. Mas o professor de Geografia não pode esquecer que os mapas também representam um instrumento de leitura e compreensão do espaço em que vivemos.
Foi pensando nisso que uma dupla de pesquisadores da UFSM resolveu devolver o protagonismo dos municípios no ensino de Geografia. O doutorando Leonardo Pinto dos Santos e a pesquisadora Gilda Maria Cabral Benaduce, ambos da UFSM, alertam que um dos motivos para que o ensino da Cartografia acabe sendo negligenciado pelos professores de ensino médio e fundamental é a falta de material didático adequado que aborde os aspectos locais.
A preocupação dos pesquisadores resultou no desenvolvimento do “Atlas Digital de Faxinal do Soturno”, um munícipio distante 60 km de Santa Maria, com pouco mais de 6 mil habitantes. “A construção de um atlas municipal do local onde ocorrem as relações sociais, físicas e econômicas, próximas a sua realidade, ampliará as possibilidades de transformar os nossos estudantes em cidadãos conscientes de seus direitos e deveres”, afirmam os pesquisadores.
A ferramenta digital está sendo disponibilizada gratuitamente para o município e vai integrar o acervo didático dos professores, para ser utilizado em sala de aula. “O atlas geográfico deverá contribuir como ferramenta para auxiliar as aulas que, em função da falta de material local, acabam trabalhando apenas com o livro didático e materiais que retratam em sua maioria regiões metropolitanas e grandes aglomerados populacionais”, destacam Leonardo e Gilda. Como está disponível online, o Atlas Digital de Faxinal do Soturno pode ser acessado por qualquer pessoa com acesso à internet.
Cartografando Faxinal do Soturno
O maior desafio dos pesquisadores no desenvolvimento do Atlas Digital foi a coleta de dados e informações confiáveis, tanto porque o Atlas se caracteriza como um material científico quanto porque seu objetivo é integrar o processo de ensino dos alunos de Faxinal do Soturno. “A precisão e a exatidão da base cartográfica garantirão um produto final melhor e com ganho de tempo para possíveis acréscimos ao atlas no futuro. Afinal, este atlas digital não é mais estático, permitindo a possibilidade de rápida e constante atualização”, ponderam os pesquisadores.
A coleta dos materiais teve várias etapas, e precisou considerar visitas de campo ao município, análise de bancos de dados com estatísticas geográficas e populacionais, o uso de equipamentos de geoprocessamento e imagens de satélite, por exemplo.
Faxinal do Soturno está situado na região Central do Estado do Rio Grande do Sul, e integra a conhecida Quarta Colônia, de forte influência italiana. O território do município agrega as cartas topográficas de Camobi, Faxinal do Soturno, Val de Serra e Nova Palma, perfazendo uma área de aproximadamente 169,9 quilômetros quadrados. As cartas topográficas não obedecem às “fronteiras” ou às divisas políticas de um município, e são geralmente criadas a partir de áreas maiores, porque apresentam a topografia do terreno, ou seja, o desenho da área do ponto de vista da natureza e de suas características locais.
Com a definição da área e o conhecimento das cartas topográficas, o próximo passo foi obter imagens de satélite e dados de geolocalização. Os pesquisadores cruzaram essas informações com as cartas topográficas para gerar uma versão completa do terreno, com o máximo de informações disponíveis.
Além disso, a pesquisa coletou um vasto conjunto de dados sobre o município, como o contexto histórico, dados populacionais, econômicos, de hidrografia, relevo, solos, entre outros. Os dados são de acesso público, produzidos por instituições de pesquisa como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a Fundação de Economia e Estatística (FEE) do Rio Grande do Sul, a Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER/RS) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).
Como essas agências coletam informações muito gerais, a base de dados locais foi produzida pelos próprios pesquisadores, em trabalhos de campo e visitas ao município. Além da Prefeitura e das Secretarias do município, o acervo de pesquisa contou com os documentos de Planejamento Ambiental da Quarta Colônia e com o Inventário Técnico de Flora e Fauna da Quarta Colônia. Esse esforço teve impacto direto no resultado do trabalho, como apontam os pesquisadores: “Com a aquisição deste conjunto de dados, tornou-se possível a criação do atlas que reuniu distintas formas visuais de representação como os mapas, gráficos, fotografias, vídeos e tabelas, somando-se a isso escritos explicativos que servirão de referência para os usuários”.
Além dos mapas e dos dados estatísticos, o Atlas Digital de Faxinal do Soturno destaca aspectos muito específicos do município, como os geossítios arqueológicos e o potencial turístico presente nas festividades religiosas e nas belezas cênicas da região.
Repórter: Jocéli Bisonhim