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Sustentabilidade no campo

Com o uso da rotação de culturas, pesquisas do grupo GEPAI buscam um uso alternativo do solo em áreas de várzea



A palavra “sustentabilidade” é proveniente do latim sustentare e significa favorecer, conservar, sustentar. Atualmente, relacionamos o termo com questões ambientais, como o cuidado e a preservação do meio. Ou seja, ser sustentável significa saber viver em um ambiente sem agredi-lo. É fazer uso de recursos naturais com o objetivo de devolvê-los, de alguma forma, para a natureza. “Sustentabilidade” também é usada em outros setores, como economia, educação, cultura e agricultura. Na UFSM, é palavra-chave nas pesquisas do professor do curso de Agronomia Ênio Marchesan.

O Grupo de Pesquisa em Arroz Irrigado e Uso Alternativo de Várzea (GEPAI), sob a liderança de Marchesan, busca identificar maneiras de usar o solo em áreas de terras baixas (conhecidas também como áreas de várzea) de modo intensivo e sustentável. Para isso, o grupo efetua pesquisas que consideram as condições e necessidades do produtor, do consumidor e do meio ambiente.

O principal objetivo do GEPAI, quando este começou, em 1993, era o manejo de arroz irrigado. Manejo são práticas que consideram especificidades, como a fertilidade do solo, a alimentação das plantas e as possíveis patologias, para proporcionar mais condições de desenvolvimento e produtividade à lavoura. O grupo conquistou reconhecimento através das pesquisas com arroz em áreas de terras baixas, que constituem cerca de 20% do solo do Rio Grande do Sul, segundo informações da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). No entanto, começaram a surgir ideias para um melhor aproveitamento do solo, de maneira que o produtor encontrasse uma maior fonte de renda em suas terras. Foi então que o grupo começou a adotar a rotação de culturas.

A rotação de culturas baseia-se na alternação de plantios em um mesmo solo. Como informa o professor Marchesan, “a cada ano que passa, surgem novas tecnologias para a produção de arroz, mas, no geral, sabemos o que é preciso para esse cultivo. O desafio para continuar aumentando o potencial dessas áreas em que se produz o arroz é fazer a rotação de culturas”.

Um dos primeiros passos dos pesquisadores do grupo foi tentar a integração lavoura-pecuária, com uma possível criação de bovinos na área. Os resultados, porém, indicaram que esta produção seria mais adequada para grandes propriedades, e exigiria a utilização de nível tecnológico elevado. A tentativa seguinte foi a rizipiscicultura, cultivo de arroz e peixes na mesma área. No entanto, como o mercado de peixes é pequeno e várias dificuldades apareceram, não foi encontrada economicidade nessa produção. O cultivo vencedor, enfim, foi o da soja.

 

O DESAFIO PARA CONTINUAR AUMENTANDO O POTENCIAL DESSAS ÁREAS EM QUE SE PRODUZ O ARROZ É FAZER A ROTAÇÃO DE CULTURAS.

 

Além de ter espaço no mercado, a soja é uma leguminosa que ajuda a combater o chamado “arroz vermelho” e outras plantas daninhas que costumam aparecer nas lavouras de arroz e são de difícil controle. Como o arroz é cultivado em áreas alagadas e a soja é uma planta “do seco”, uma série de adaptações devem ser feitas para esta rotação de culturas funcionar. A primeira é o estabelecimento de um sistema de drenagem da água na superfície do solo.

Como é informado em uma das pesquisas do professor Marchesan, as áreas de terras baixas que têm cultivo contínuo de arroz irrigado tendem a desenvolver uma camada de terra compactada na superfície do solo. Assim, ele perde sua porosidade, e dificulta a drenagem interna. Isso pode causar danos ao desenvolvimento da planta de soja e à sua produtividade. Além disso, entre os cultivos, inserem-se as “plantas de cobertura”, que funcionam como um descanso para o solo. Elas formam um tapete verde e previnem a erosão quando chove. Fazem também a ciclagem de nutrientes, absorvendo-os quando a planta anterior está se decompondo.

 

NA PRÁTICA

Dentro da propriedade do campus da UFSM, existe uma área didático-experimental de várzea, do Departamento de Fitotecnia, com 10 hectares. Utilizada para o trabalho dos alunos, ela é equipada com salas de aula, laboratórios de pesquisa e parque de máquinas. Os alunos, ao chegar ao professor, devem ter consigo um projeto de pesquisa escrito, como um “esqueleto” do que pretendem fazer no campo. No momento de lidar com a parte prática, responsabilizam-se por cumprir todo o procedimento: plantar, regular a semeadora, verificar quantas sementes caem por metro. Quando a planta nascer, se vier uma erva daninha junto, precisam usar um herbicida, mas antes pesquisar e discutir as possibilidades com o professor.

O grupo, formado por alunos de graduação e pós-graduação, ainda faz os “Dias de Campo” na área que utilizam dentro da universidade. É uma maneira de transferir a tecnologia e trocar as experiências feitas nas áreas de várzea. Quando as pesquisas têm mais de um ano de experimentação, com resultados confiáveis, estes são apresentados aos possíveis usuários, que são produtores rurais e técnicos de diversos municípios do Estado. A cada dois anos, os “Dias de Campo” ocorrem para atender um público grande, de 250 a 300 pessoas, número máximo que as estruturas conseguem atender. No intervalo destes dois anos, a apresentação acontece para um grupo menor, de 25 a 30 pessoas, com o objetivo de promover uma discussão mais específica sobre os resultados. Além disso, todo ano há uma exibição para os alunos de graduação da UFSM.

Os “Dias de Campo” são compostos por cinco a seis estações visitadas, apresentadas por alunos e professores responsáveis por suas respectivas pesquisas. Os temas variam, mas tratam principalmente sobre arroz irrigado, soja, milho e plantas de cobertura de inverno em áreas de várzea. Outra forma usada pelo grupo para promover a transferência de tecnologias são os Seminários. A cada dois anos, ocorre o Seminário Regional sobre “Uso intensivo e sustentável de áreas de várzea”. Nesta ocasião, as novas tecnologias para estas áreas são apresentadas e discutidas, com convidados de todo o estado e público de 300 a 400 pessoas. É uma forma de atualização, interação e transferência de tecnologias entre os diferentes participantes da cadeia produtiva do setor primário de produção.

 

 “É IMPORTANTE QUE A PESSOA DO OUTRO LADO DA ESTRADA SAIBA E ENTENDA ESSAS INFORMAÇÕES.”

 

Segundo Vicente Luis Naidon, produtor de arroz e soja, o uso da rotação de culturas fez grande diferença em seus cultivos. A qualidade do grão de arroz aumentou e os problemas com a planta daninha “arroz vermelho” acabaram. Há cerca de 10 anos, Vicente acompanha os experimentos do professor Marchesan, e procura visitar a área de várzea do campus todos os domingos. Apesar de sua lavoura ser maior e, consequentemente, o tempo e o clima afetarem-na de maneiras diferentes, aproxima os resultados dos experimentos o máximo que pode. “O que eu puder adotar, adoto”, completa Vicente.

Assim, os resultados encontrados pelo Gepai e a aplicabilidade destes podem chegar a públicos de diversos segmentos, do grande ao pequeno produtor. Nas palavras do professor Ênio: ”È importante que a pessoa do outro lado da estrada saiba e entenda essas informações”.

Repórter: Myrella Allgayer

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