No Oriente Médio, ela é uma velha conhecida. Há mais de 5 mil anos, os egípcios usam a alfarroba em suas receitas. Os árabes utilizam-na para a fabricação de uma bebida típica consumida durante o Ramadã, mês islâmico reservado aos jejuns religiosos. Já na tradição judaica, a árvore da alfarroba está numa antiga parábola sobre altruísmo. Nela, o feiticeiro Honi encontra um velho plantando um pé de alfarrobeira e, ao saber que os frutos só virão em 70 anos, questiona se o senhor espera mesmo viver para prová-los. A resposta: “Encontrei este mundo plantado com alfarrobeiras. Assim como meus antepassados plantaram para mim, vou plantar para meus descendentes”.
No Brasil, no entanto, a alfarroba ainda não é muito conhecida. Ela é uma leguminosa de cor, sabor e aroma semelhantes aos do cacau, mas possui algumas vantagens significativas em comparação àquele, contendo mais vitaminas e sais minerais e menos gordura. Também se diferencia por apresentar grande quantidade de açúcares naturais, o que foi constatado há muitos anos pelos egípcios: o hieróglifo que representa a vagem da alfarroba também significa “açucarado”. Da vagem da alfarrobeira é extraída a polpa, a qual, uma vez torrada e moída, forma uma farinha. Pelas características da leguminosa, essa farinha apresenta alto teor nutritivo, sendo utilizada como uma alternativa ao cacau na preparação de doces.
BEBIDA LÁCTEA COM ALFARROBA: NUTRITIVA E SABOROSA
Em seu mestrado em Ciências e Tecnologia dos Alimentos, Daniela Buzatti pesquisou uma das possíveis aplicações da alfarroba. A dissertação, Efeitos da substituição parcial de cacau por alfarroba em bebidas lácteas, foi defendida em 2013 na UFSM. O trabalho de pesquisa foi dividido em etapas. Na primeira, Daniela substituiu o soro líquido, utilizado normalmente na fabricação da bebida láctea, por soro em pó, conseguindo aumentar o teor de proteína sem aumentar o teor de gordura da bebida. Dessa forma, ela tornou-se mais rica nutricionalmente, equiparando-se ao valor nutritivo de um iogurte.
A etapa seguinte foi a elaboração das bebidas com a substituição parcial do cacau por alfarroba. Após, realizou-se a análise sensorial, contemplando os parâmetros de cor, odor, sabor e viscosidade. Nessa fase, cerca de 400 pessoas provaram e apontaram suas preferências entre as amostras contendo diferentes quantidades de alfarroba e cacau. Os resultados surpreenderam: em todos os parâmetros sensoriais, a bebida láctea com maior teor de alfarroba foi a preferida dos provadores. “As análises demonstraram que, nutricionalmente, as bebidas lácteas apresentaram alto teor de proteína devido à primeira etapa da pesquisa e, sensorialmente, aquelas com maior teor de alfarroba ganharam a preferência e a aceitação dos consumidores”, explica Daniela.
A única desvantagem apontada pela pesquisadora é o preço da alfarroba – como ainda não é produzida no Brasil, a importação encarece o processo. O clima seco e quente do Nordeste brasileiro permitiria a plantação de alfarrobeiras, diminuindo consideravelmente os valores, aponta o estudo de Daniela. A pesquisadora destaca também a importância das pesquisas que buscam desenvolver produtos diferenciados para a alimentação, mais saudáveis e nutritivos, se não para o usufruto imediato, tal como na parábola de Honi e a alfarrobeira, como um benefício para o futuro.