S.
aquele homem era a hipoteca
da casa que o habitou
por mais de duas décadas.
os papéis no chão
eram fichas dispersas,
folhas no outono.
o silêncio era sua canção de gesta.
os ventos gélidos eram sua bússola:
um minuano tenor, abafando
os gritos verdes do abandono.
SO.
ao amanhecer lia o jornal,
as propagandas de cigarro
e acendia os olhos.
o obituário era o calendário
que o mantinha vivo.
SE.
esfacelada nas sombras do dia,
a noite, como côdea do pão nosso:
suor que não sabia de sangue.
aquele homem era sua voz:
estátua de solidão no deserto.
O.
na rua em que o habitou
os endereços eram apontamentos
com os dedos do possível:
seus demônios e seu rodamoinho.
NO.
em seu silêncio as horas
teciam um breve cachecol
(as agulhas eram
de aço e esperança).
que finitasse a arquitetura
de si, os gestos imprecisos!
L.
o silêncio era seu contorno possível,
o perdão para seus gestos,
um traço profundo
que empunhava seu corte
à simetria despida de suas rugas.
NE.
aquele homem era a dívida de si,
um labirinto não planejado;
sua bússola e sua escolha.
∞ N ∞