“Quem lembrará de mim passados vinte anos?”. A preocupação do médico e poeta porto-alegrense Luiz Guilherme do Prado Veppo, expressa no poema “Alguém”, era vã. Falecido em 1999, aos 67 anos, o autor segue vivo em resgates como Prado Veppo – Obra Completa – 2ª edição, publicada pela Editora UFSM, em maio de 2019.
A coletânea contempla os oito livros de Veppo, escritos entre 1962 e 1998. Foi organizada pelos professores Pedro Brum Santos, do Departamento de Letras Vernáculas, do Centro de Artes e Letras, e Vitor Biasoli, aposentado do curso de História, do Centro de Ciências Sociais e Humanas da UFSM. Ambos conviveram com Veppo e colaboraram para a obra do autor. “Ele era um sujeito muito apaixonado pelas coisas que fez e pela vida. Intenso, loquaz. Lia muito, tinha um conhecimento apreciável de poesia”, conta Pedro.
A produção da Obra Completa demorou cerca de um ano. “No trabalho desse livro, buscamos os textos originais e isso nos possibilitou fazer correções, confrontos e orientar melhor o leitor”, explica Pedro, que conseguiu recuperar três poemas desaparecidos ou apresentados de maneiras diferentes em outras obras.
Com versos curtos, Veppo escrevia sobre as circunstâncias da vida, a morte e os dramas humanos. Os temas eram herança de infância e pré-adolescência difíceis, marcadas pela perda da mãe, aos dois anos de idade, e do pai, aos 14. Além disso, refletiam experiências vividas no exercício da Psiquiatria, em Santa Maria – para onde se mudou em 1954, a fim de estudar na primeira turma de Medicina da UFSM, a qual ajudou a fundar.
Em Santa Maria, Veppo conheceu e se aproximou do artista Eduardo Trevisan, autor de telas espalhadas por vários estados brasileiros e pelo mundo. Além de ilustrar todas as obras de Veppo, Eduardo, que faleceu em 1982, deixou o legado ao filho, Flamarion. “Estive em todos os livros do Veppo, seja com desenhos ou como modelo para o pai, quando criança. Eu ‘me criei grudado’ neles e eles em mim”, relata.
Para Flamarion, formado em Desenho e Plástica pela UFSM, em 1983, Veppo era um “Pairmão” – “única palavra capaz de traduzir a nossa proximidade”, define. O artista expressou em desenhos os versos do poeta, em um processo criativo conjunto, com lápis litográfico e Vida, morte e Santoro bico de pena com nanquim sobre o papel. “Eu tinha e tenho uma percepção bastante ampla da poesia dele, porque conversávamos intensamente sobre ela. Da mesma forma que ‘convivíamos’ a poesia, as ilustrações também eram criadas dentro de uma construção íntima e compartilhada”, explica o artista.
Flamarion entende que resgatar o trabalho de Trevisan e Veppo é “manter viva a alma de Santa Maria pela arte de dois gigantes. Santa Maria é o que eles fizeram ser”. Pedro complementa: “Nós temos uma certa obrigação de fazer isso, como instituição: preservar na comunidade esses nomes que do passado nos falam. Veppo nos ensina”.
Reportagem: Andressa Motter .
Ilustrações: Giovana Marion (capas dos livros) e Eduardo Trevisan (obra completa)
Diagramação: Lidiane Castagna e Pollyana Santoro
Lettering: Pollyana Santoro
*Matéria publicada na 11ª edição impressa da revista Arco. *