Desde o início da campanha de vacinação contra o coronavírus, circulam nas redes sociais posts que contestam a segurança dos imunizantes. Com o aumento dos casos da Monkeypox – conhecida popularmente como Varíola dos Macacos-, surgiram boatos de que a doença seria um efeito colateral das vacinas aplicadas contra a Covid-19 – especialmente da Astrazeneca, que usa um adenovírus de chimpanzé na composição.
O infectologista e professor na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Alexandre Schwarzbold, afirma que nenhum dos imunizantes utilizados contra o coronavírus podem causar a varíola dos macacos. Isso porque não existe relação genética entre o Monkeypox – vírus causador da doença com mesmo nome, com o adenovírus de chimpanzé usado na vacina Astrazeneca.
Apesar do nome popular, esse tipo de varíola não tem relação com os macacos. A nomenclatura surgiu com a descoberta inicial do vírus, em 1958, quando macacos de um laboratório dinamarquês manifestaram a doença. O primeiro caso em humanos foi identificado em 1970, em uma criança da República Democrática do Congo. O ano da descoberta do vírus também se contrapõe à ideia de relação com as vacinas da Covid-19. Alexandre explica que o Sars-CoV-2 (coronavírus) surgiu na última década. Ou seja, a Monkeypox já existia antes do surgimento da Covid-19. Algumas pessoas chegaram a matar macacos por conta da confusão causada pela relação do nome com os animais. Com isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) busca um novo nome para a doença, com o objetivo de evitar qualquer tipo de violência contra os animais.
Schwarzbold afirma que, além disso, os chimpanzés não são espécies reservatórias do vírus que causa a doença. Eles não hospedam o Monkeypox. Os prováveis reservatórios, segundo o especialista, são ratos e esquilos.
Como funciona a vacina da Astrazeneca?
A tecnologia adotada na Astrazeneca usa como vetor viral o adenovírus – um vírus comum que causa uma doença leve, semelhante a um resfriado. Essa tecnologia se baseia na capacidade do vírus de entrar na célula humana. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – produtora do imunizante no Brasil -, o adenovírus causa um resfriado comum entre os chimpanzés. Ele foi modificado geneticamente para que não possa se reproduzir ou causar doenças nos seres humanos.
No adenovírus é introduzido um material genético de uma proteína encontrada no coronavírus, a “Spike”. Com isso, os adenovírus são amplificados, purificados, concentrados e estabilizados em laboratórios para depois serem transformados em vacina. O adenovírus transfere o gene da “Spike” para as células do sistema de defesa humano. Isso estimula o organismo a gerar uma resposta imunológica. Ou seja, a vacina “treina” o corpo para reconhecer a proteína “Spike” e criar defesas contra o coronavírus.
Sintomas e formas de transmissão da Monkeypox
Segundo a OMS, a Monkeypox é uma zoonose viral, ou seja, ela é transmitida para seres humanos a partir dos animais. O vírus pertence ao gênero orthopoxvirus da família Poxviridae. Os sintomas são semelhantes aos observados em pacientes com varíola comum:
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estaca que a maior parte dos quadros são leves e não costumam se agravar. No entanto, o número de mortes registradas mostra, segundo ele, a capacidade de infecção visceral, ou seja, da doença afetar algum órgão além da pele, e que, em alguns casos, pode levar à morte.
Até o dia 30 de setembro, o Brasil registrou 29.052 notificações para Monkeypox, segundo dados do Governo Federal.
Veredito final: Mito. Nenhum dos imunizantes utilizados contra a Covid-19 pode causar a varíola dos macacos. O adenovírus de chimpanzé – usado na fabricação da Astrazeneca, também não é reservatório do vírus Monkeypox.
Expediente:
Reportagem: Tayline Alves Manganeli, acadêmica de Jornalismo e voluntária;
Design gráfico: Julia Coutinho e Noam Wurzel, acadêmicos de Desenho Industrial e bolsistas;
Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Camilly Barros, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Nathália Brum, acadêmica de Jornalismo e estagiária; Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo e voluntária; e Gustavo Salin Nuh, acadêmico de Jornalismo e voluntário;
Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;
Edição geral: Luciane Treulieb e Mariana Henriques, jornalistas.