Com a inclusão, pelo Ministério da Saúde, de crianças de 5 a 11 anos na campanha nacional de imunização contra a Covid-19, os estados brasileiros iniciaram a vacinação desse grupo nas últimas semanas. O país tem cerca de 20 milhões de pessoas nessa faixa etária e já soma aproximadamente 1450 mortes de crianças de até 11 anos em decorrência do coronavírus. Diante da grande disseminação de fake news e questionamentos sobre o assunto, muitas pessoas ainda se perguntam se a vacinação infantil é segura.
Segundo o estudo VacinaKids, realizado no final do ano passado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mais de 80% dos pais pretendem vacinar seus filhos, mas 12,8% ainda estão hesitantes. Dentre os motivos do receio, estão: medo das reações adversas à vacina, não acreditar que crianças ficariam em estado grave se pegassem Covid-19 e/ou subestimar a gravidade da pandemia. A discussão da vacinação infantil se deu em meio à alta de casos da doença e ao avanço mundial da variante Ômicron – no Brasil, ela já é a responsável por 97% dos casos de Covid-19, segundo estudo das redes Vírus e Corona-ômica BR, vinculadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Por isso, mais de 30 nações também já iniciaram a imunização deste público.
Atualmente, duas vacinas para uso infantil estão aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): a Comirnaty, da farmacêutica Pfizer, e a Coronavac, da farmacêutica Sinovac. A primeira, destinada ao público de 5 a 11 anos, é aplicada em duas doses com intervalo de 8 semanas e têm uma dosagem diferente da vacina que já vinha sendo aplicada em adolescentes e adultos. O imunizante infantil possui 0,2 ml e a tampa do frasco é da cor laranja, já para maiores de 12 anos a vacina da Pfizer possui 0,3 ml e tem a cor da tampa roxa, com o intuito de facilitar a identificação. A Coronavac, por sua vez, tem seu uso liberado para a faixa etária de 6 a 17 anos, porém não pode ser aplicada em crianças imunocomprometidas. A dosagem é a mesma utilizada em adultos (0,5 ml) e também possui duas doses com intervalo de 28 dias.
A segurança e a importância da vacina infantil
As vacinas aprovadas para uso pediátrico foram consideradas seguras não só pela Anvisa, mas também pela agência reguladora de medicamentos americana, a Food and Drug Administration (FDA), e pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA). Além disso, a agência brasileira contou com a consulta e acompanhamento de um grupo de especialistas. “O olhar de especialistas externos foi um critério adicional adotado pela Anvisa para que o uso da vacina por crianças fosse aprovado dentro dos mais rigorosos critérios”, afirmou o órgão em nota no site oficial.
Participaram da análise para aprovação da vacina especialistas da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Sociedade Brasileira de Imunologia (SBIm) e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). As três últimas também enviaram uma nota técnica recomendando a liberação. A segurança e eficácia da vacina infantil da Pfizer também foi confirmada pelo Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, após análise da aplicação de 8,7 milhões de doses em crianças no período de 3 de novembro a 19 de dezembro de 2021.
Segundo o Instituto Butantan, a Coronavac tem um altíssimo perfil de segurança, sendo, dentre os imunizantes disponíveis, o que causa efeitos adversos mais leves e em menor quantidade. Além disso, os ensaios clínicos e os dados de efetividade feitos no Chile e na China já mostraram que a vacina estimula o sistema imune a combater o vírus. A autorização também levou em conta a necessidade de ampliar as alternativas disponíveis para essa faixa etária.
O médico infectologista e professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Alexandre Vargas Schwarzbold, afirma que é fundamental imunizar a população pediátrica para o controle da pandemia e explica por que é preciso ampliar a vacinação infantil: “As crianças vão passar a ser o principal alvo do vírus, pois o restante da população está imunizada. Em locais como o Brasil, que tem tido sucesso com a vacinação, o vírus vai procurar populações suscetíveis, como a população pediátrica, para continuar circulando”.
O professor ainda reforça que, além de as crianças estarem mais expostas, elas passam a ser vetores de transmissão, ou seja, podem se infectar e transmitir para pessoas mais vulneráveis. Logo, quanto mais o vírus se espalha, mesmo em casos leves, maior a chance de surgimento de novas variantes.
Reações e efeitos adversos da vacina infantil
Uma das principais preocupações dos pais ou responsáveis são as possíveis reações e efeitos da vacina no organismo da criança. O CDC constatou que, dentre as 8,7 milhões de doses da vacina infantil da Pfizer aplicadas, foram notificados 4.249 eventos de reações, o que representa apenas 0,049%. Destas, 97,6% desses efeitos foram leves, como dor no local da injeção, fadiga ou dor de cabeça. Conforme dados do Instituto Butantan, a Coronavac também apresentou resultados positivos quanto aos eventos adversos: 86% dos casos de reação à vacina registrados em crianças não são do tipo grave.
Um dos efeitos adversos mais comentados é a ocorrência de miocardite, uma inflamação no músculo cardíaco que pode se manifestar como Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P). A SIM-P é uma condição rara que afeta os vasos sanguíneos de crianças e adolescentes. Entretanto, segundo o CDC, foram constatados apenas 11 casos de miocardite após a aplicação da vacina e todos tiveram uma evolução favorável, com nenhuma ocorrência de morte.
Schwarzbold também ressalta que o relatório americano mostra que isso foi um evento raríssimo e que a doença não deve ser uma preocupação de efeito pós-vacina. “A miocardite pode afetar, na verdade, as crianças que são infectadas pelo coronavírus. No Brasil tivemos hospitalizações por conta disso e com muitas complicações. Essa é uma razão para incentivar a vacinação, de modo a evitar que o vírus cause efeitos no coração da criança. A vacina infantil é segura e eficaz para população pediátrica” afirma o infectologista.
Gravidade da Covid-19 em crianças
De acordo com o Instituto Butantan, em dezembro do ano passado, a Covid-19 foi constatada como a segunda maior causa de mortes de crianças entre 5 e 11 anos, atrás apenas dos acidentes de trânsito. Apesar de o vírus ser considerado menos grave em crianças quando comparado a adultos, elas ainda assim ficam doentes e podem ter evoluções desfavoráveis. Em dezembro de 2021, a Fiocruz emitiu uma nota técnica para informar que o Brasil, até 4 de dezembro de 2021, hospitalizou 19,9 mil pessoas abaixo de 19 anos com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Destas foram notificados 1.422 óbitos, sendo 208 de crianças de 1 a 5 anos e 796 de 6 a 19 anos.
A Sociedade Brasileira de Pediatria também divulgou uma nota de alerta para a importância da vacinação infantil: “A presença de uma variante como a Ômicron, com maior transmissibilidade, mesmo se comprovada sua menor gravidade, torna grupos não vacinados (como crianças menores de 12 anos) mais vulneráveis ao risco da infecção e suas complicações, conforme vem sendo observado em outros países com presença dessa variante”.
Em relação aos casos de SIM-P, provocados pela infecção da Covid-19, foram notificados no Brasil, até 27 de novembro de 2021, 2.435 casos suspeitos em crianças e adolescentes de zero a 19 anos. Desses, 1.412 (58%) casos foram confirmados, e 85 evoluíram a óbito, segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.
Para Schwarzbold, mesmo que o vírus não afete as crianças de forma grave, elas podem ter manifestações clínicas que têm potencial de atrapalhar o desenvolvimento neuropsíquico-motor. “Essas crianças podem ter dores de cabeça e principalmente, como muitos adultos, fadiga, inclusive crônica. O chamado pós-covid e as sequelas para população pediátrica podem ser muito incômodos e desconfortáveis para o aprendizado”, explica o professor.
Veredito final: Comprovado!
A vacinação infantil é segura, necessária e eficaz.